and after all this time

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Jisung tremia os lábios de frio, esfregava uma mão na outra na tentativa de se esquentar com o atrito enquanto caminhava com pressa pelas ruas da cidade que tanto conhecia, apesar de ter mudado bastante em apenas um ano.

Infelizmente teve que deixar o lugar onde cresceu para fazer o último ano da faculdade e ajudar a família com o negócio no estado vizinho. Deveria ter conseguido voltar mais vezes nesse período para visitar os amigos, principalmente Minho, mas não conseguia tempo e dado certo momento, parecia que não seria a mesma coisa se aparecesse do nada.

Não tinha medo de sair da sua zona de conforto, mas tinha medo da mudança de como as pessoas lhe consideravam. Jisung sentia falta de todos os amigos, sem exceção, e tentava manter contato sempre que podia, como se dissesse "ainda estou aqui, não esqueçam de mim, por favor".

Mas não foi assim com Minho.

Não tinha uma noite sequer que o Han não pensava na última conversa que tivera com o ex-namorado. Contou a boa novidade acompanhada do pedido triste. Pediu para que terminassem, ao menos por um tempo, e depois que se acostumassem poderiam ir com calma na amizade, pois não queriam perder um ao outro nunca. Era uma situação delicada, Jisung nunca quis terminar, sentia falta diariamente do Lee e das poucas vezes que se falaram por ligação já era alguma coisa para tapear aquela saudade imensa que sentia.

Até que, como esperava, se afastaram e diminuiu a frequência no contato, até a situação de nem se falarem mais. Jisung via os stories e redes sociais de Minho, mas nunca tinha nada demais. Não sabia de nada do que estava acontecendo, nem como ele estava. Se sentiu mal e egoísta de tentar voltar a falar com ele, como se estivesse dando esperanças de algo que talvez pudesse não acontecer e, de um jeito ou de outro, estaria prendendo-o.

Então engoliu seus sentimentos por seis meses inteiros.

Concluiu o que foi fazer, tinha sido um sucesso e definitivamente estava ganhando um dinheiro que nunca nem tinha pensado como salário sem que recorresse ao tráfico, mas conseguiu. Esperou um tempo da loucura que tinha sido, e assim como engoliu tantos sentimentos por tanto tempo, engoliu o medo e insegurança também ao chamar o Lee para conversarem.

Falaram sobre algumas coisas que aconteceram durante o ano, sobre aleatoriedades, sobre a saudade e Jisung sorria para a tela do celular como um adolescente apaixonado, o coração acelerado e o frio na barriga ao receber uma reação tão boa e espontânea ao dizer que o visitaria qualquer dia.

Parecia mentira.

Como se nunca tivessem parado de se falar, voltaram a ser bem semelhantes ao que eram antes, em um mês.

Mas, caminhando de encontro ao bar onde viu que Minho se apresentaria naquela noite, Jisung estava mais nervoso do que nunca estivera, nem seu TCC lhe fez virar a noite acordado - talvez porque tenha se dopado para dormir, mas era outra história que Minho provavelmente iria rir demais. Não conseguia parar de sorrir por baixo da máscara, queria tanto vê-lo logo.

E quando finalmente encontrou o lugar, logo ouviu a voz que tanto gostava já na entrada e sentiu aquele frio na barriga de novo. Estava ali. Era agora.

Pagou a entrada e procurou o pequeno palco montado do outro lado do espaço, que tinha mesas, sofázinhos e um espaço na frente do palco onde tinha algumas pessoas em pé cantando e acompanhando o show ao vivo de perto. Andou mais um pouco até a muvuca e se colocou bem em frente ao Lee.

E lá estava Minho. Lindo como sempre, dessa vez com o cabelo pintado num tom vivo de roxo, mas ainda usava as roupas pretas e estilosas de sempre. Sua voz soava leve e hipnotizante pelo bar, cantando uma de suas músicas favoritas, pelo o que Jisung se lembrava. Como sentiu falta de ouví-lo cantar.

Jisung não suportava mais perder tantos dias que poderia ter estado ao lado do cantor tentando fazer o término valer a pena.

Porque não valia. Não para eles. Ou não mais, ao menos.

E Minho se viu igualmente surpreso ao perceber a presença do ex-namorado no salão. Não esperava realmente que o veria tão cedo, mas o sorriso enquanto o encarava e cantava mostrava que estava feliz em vê-lo. Cantou mais duas canções e tirou um intervalo para procurar o rapaz pelo lugar, não demorando tanto para encontrá-lo no bar escolhendo uma bebida. Sorriu ao andar até lá.

ㅡ Oi, gatinho, posso te pagar uma bebida? ㅡ brincou ao sentar do lado dele e ouviu a risada que tanto sentia falta.

Parecia que seu coração iria saltar pela boca e se jogar nas mãos dele, ainda mais quando Jisung lhe encarou e aquela sensação boa de "finalmente estamos aqui" bateu em ambos.

ㅡ Com esse flerte, tenho certeza que ainda está solteiro ㅡ caçoou sem medo da resposta, incrivelmente confortável com tudo, como se fosse costumeiro, e Minho o encarou com uma sobrancelha erguida.

ㅡ Quem disse que estou solteiro? ㅡ a seriedade repentina meio que pisou nas expectativas do Han em dois segundos. Até deixou de sorrir contente e ficou sem fala, abrindo a boca para dizer algo que não sabia o quê. Mas somente para que Minho pudesse rir da sua cara e dizer: ㅡ Estou trabalhando duro para voltar para alguém muito especial, sabe? Ele gosta muito de soju e de me irritar, então não tive chance de gostar de verdade de outra pessoa.

Sorriu ladino, sendo o cara de pau que conseguia ser quando queria e Jisung bufou, rindo de nervoso - talvez alívio também, com certeza - e dando um tapa fraco no ombro do Lee. Sabia que Minho podia estar brincando, mas aquela atmosfera que criaram tão facilmente, aquele momento bom depois de tanta saudade não dita poderia ser verdade dali em diante.

ㅡ Me paga uma bebida e você sai comprometido daqui hoje. A não ser que eu te irrite demais, não é? ㅡ brincou para descontrair a mensagem bem direta que estava dando ao rapaz e Minho sorriu antes de se aproximar e roubar um selinho dos lábios do Han. Ah, como sentia falta dele.

Não tinham conversado sobre nada, sobre eles, mas as coisas sempre aconteciam assim. Fluía que mal percebiam. Simplesmente têm uma química insuportável de boa, uma conexão inegável e sentimentos impagáveis um pelo outro. Jisung se sentia feliz. Aliviado. Leve.

Talvez completo, mesmo que ainda tivessem coisas para resolver.

ㅡ O único jeito de você me irritar de verdade seria inventar de terminar comigo outra vez, Hannie ㅡ comentou, segurando a mão dele apoiada no balcão e fez um carinho singelo com seu polegar.

Estava ligeiramente jogando aquilo na cara do Han, sim, mas aquele pesar mesmo na voz quase gritada para que pudesse ser ouvido, mostrava como aquilo foi difícil para os dois. Jisung sorriu, culpado, e assentiu.

ㅡ Eu teria que ser muito louco pra te deixar de novo ㅡ arrumou a franja caída perto dos olhos do Lee e o encarou, mesmo brincando, estava sério. Falava sério também.

Mas seus neurônios não pareciam querer trabalhar num pedido de desculpas ou talvez em explicar como sentiu falta dele naquele momento, Jisung só conseguia reparar como ele estava lindo de morrer. Seus rostos se aproximavam como se fossem ímãs e Minho nem disfarçava como encarava os lábios do Han.

ㅡ E eu teria que ser louco de não te beijar agora ㅡ sussurrou Minho antes de finalmente quebrar a distância e beijar Jisung como vinha sonhando há tempos.

Desde que voltou a falar com ele, imaginava como seria o reencontro. Poderiam estar estranhos, desconfortáveis, não serem mais a mesma coisa, não ter mais aquela conexão. Poderia ser um desastre. Mas, no fundo, sabia que não seria assim.

Estavam sofrendo por algo que ambos sentiam e tinham medo de tentar, acima da vontade de estarem juntos novamente. Mas não agora, não dessa vez.

Minho planejou chamá-lo para sair, talvez um jantar ou um cinema, reviver o sentimento de um primeiro encontro, mas não reclamava sobre pode beijá-lo num barzinho de rock, ouvindo música alta, comendo batata frita e bebendo soju.

Eles não se importavam com nada ao redor, somente o que tinham entre si já era o suficiente.

The one that got awayOnde histórias criam vida. Descubra agora