Capítulo 1

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O dia era sempre monótono em casa. Sempre procurando o que fazer durante toda a manhã, desde ler ou ver algo no computador, olhar para o teto ou buscar vídeos de culinária mesmo que eu nunca fosse fazer.

Mas depois do fim da tarde, finalmente Jungkook chegava em casa. E eu abria a porta correndo de animação para ver ele.

Jeon Jungkook é meu companheiro de casa, e meu melhor amigo. Nós somos amigos desde criança, crescemos praticamente juntos, e agora que viramos ambos adultos, alugamos um apartamento pequeno na cidade.

Quer dizer, nossos pais concordaram em alugar para a gente.

Mas diferente dele que estuda o dia quase todo na faculdade de medicina, eu sou um completo relaxado.

Ainda não descobri o que gosto de fazer e não quero continuar me pressionando mais do que ja fiz no passado, mas meus pais acreditam piamente que eu estou estudando e vou entrar na universidade ano que vem de certeza.

Ainda bem que não moro mais com eles.

— Jimin? — Escutei a voz de meu companheiro de apê e corri animado para a porta. Ele havia chegado com sacolas nas mãos e deixava elas agora no chão da sala. — Comprei uns lanchinhos pra noite de filme.

Abri um sorriso nada pequeno, e peguei as sacolas para lhe dar mais liberdade para tirar a mochila e o casaco pesado de frio.

— Jun você é definitivamente o melhor! — Levei as sacolas animado para a bancada da cozinha aberta e conectada com a sala.

Ele sorriu, um sorriso bonito e charmoso, e se dirigiu apenas de meias brancas nós pés para o seu quarto.

— Você comprou guaraná!? — Falei mais alto tirando o litro da sacola e ficando mais animado. Era o meu favorito. — Obrigado Juunn! Sério! Vou fazer uma pipoca bem amanteigada para você.

Ouvi a risada dele quando ele saiu do quarto com a toalha no braço e o chinelo já nos pés, fazendo barulho quando arrastava no chão e ele vinha em minha direção.

— Nunca vi alguém tão apaixonado quanto você pelo guaraná.

— É claro, isso é uma benção que nos foi concedida. — Falei enquanto colocava o milho de pipoca, manteiga e sal na panela de tampa transparente, pois não tínhamos panela própria pra pipoca. Mas fazia do mesmo jeito então nem tinha necessidade. — Eu estava com uma baita vontade de me acabar com um refrizinho.

— Meu Deus, então que bom que adivinhei e acertei o dia de trazer. — Ele apoia os braços na bancada com um sorriso torto.

— Todo dia é o dia certo. — Me virei para o olhar e ele balançou a cabeça, negando incrédulo.

— Vê se pega leve no sal.

— Ei! Não venha questionar meus dotes.

Ele se desencostou e saiu pro corredor em direção ao banheiro.

Fiquei observando pipocar pela tampa de vidro até a última, para garantir que não ia queimar nenhuma, e também porque não tinha mais o que fazer.
Arrumei os salgadinhos todos que ele trouxe em uma vasilha funda e grande, e peguei outra para por a pipoca depois. Separei as canecas e coloquei o refri em ambas, e levei tudo para a mesinha em frente o sofá.

Deixei a garrafa de refrigerante ali, para por mais depois é claro.

Levei a vasilha com salgados e descobri no processo de guardar as sacolas que ele também tinha comprado uma barra de chocolate de ovomaltine. Quase chorei.

Levei tudo para a mesa e levei mais manteiga ao fogo para derreter e jogar na pipoca pronta.

— Que cheiro bom.

Escuto sua voz e olho para um Jungkook de cabelos molhados e toalha nos ombros. A camisa cinza e calça moletom da mesma cor.
Tinha momentos que eu não conseguia olhar para ele por muito tempo.

— Sim, muito. Vai ligando no filme.

— Vai querer ver o quê?

Jungkook andou para a sala e pegou o controle, ligando a televisão.
Desliguei o fogo e despejei na pipoca tentado pegar todas, e levei o balde para o sofá, o deixando nas minhas pernas.

— Coloca uma comédia.

Ele logo começou a pesquisar filmes de comédia que demorou muito para decidirmos e escolhermos um. Era sempre uma tarefa árdua.

— Me passa o copo. — Pedi e Jeon me entregou gentilmente, pegando a pipoca do balde com a boca em vez das mãos. — Ei! Seja educado.

Soltei uma risada e ele apenas mastigou e engoliu como um animal, me dando um olhar brincalhão em seguida.

— Deixe de ser mala. Passa pra cá.

Jeon avançou de novo no balde de pipoca e puxei para longe dele, recuando conforme ele avançava atrás. Cai na gargalhada quando aquilo virou uma verdadeira guerra entre minhas habilidades de desviar o balde de sua boca ardilosa.
Como ele ganhou?
Com o mais baixo dos recursos.
Isso mesmo, ele me fez tantas cócegas que quase derrubei tudo no chão, o que por sorte, não aconteceu porque ele segurou a tempo.

— Isso que dá não servir direito o seu senhor. — Ele me provoca, me olhando por cima de mim com um sorrisinho e uma mão pegando o balde finalmente, e praticamente me cercando.

— Você é um canalha baixo. Não vale recorrer a isso! — Indignado, acusei, e ele pouco se importou jogando os milhos na boca.

— Você é fraco. — Murmurou com a boca cheia e apoiando o balde finalmente na mesinha, pegando os salgadinhos.

— Haha.

Debochei rindo e finalmente voltamos a atenção pro filme que passava atoa. Perdemos o começo todo praticamente com nossa guerrinha.

Assistimos sem mais muitos comentários, comendo muito também, e assim que terminou suspirei, não vendo muita graça nesse.

— Nossa eu tinha expectativas e foram todas quebradas. — Coloquei o baldinho na mesa e olhei para Jungkook.

Ele tinha os olhos fechados, o corpo meio tombado para o lado, quase deitando no meu ombro. Sua respiração era serena, tranquila, e ele dava baixos suspiros já que ficou com a boca entreaberta. Os cabelos ainda úmidos e meio secos, com um lado da franja quase alcançando um dos olhos.
Meu coração doeu com aquela visão.

Levantei devagar, tentando não mover muito o sofá para que não o acordasse. Juntei todas as vasilhas e copos e tudo que estava sujo e vazio e levei para a pia. Cuidaria dela depois.
Lavei as mãos sujas e sequei no guardanapo antes de voltar para acordar Jungkook.

Me abaixei em frente a ele, me apoiando nos tornozelos e dobrando os joelhos para o ver melhor de baixo.

Abri a boca para o chamar, mas acabei fechando novamente.

Ele estudava o dia inteiro, das seis da manhã às oito da noite, comia na faculdade e chegava arrasado. Tinha que comer lá por ser muito longe do nosso apartamento, e voltar no almoço não valeria a pena pois também tinha aula cedo de tarde.
Então eu não queria o acordar, mesmo que aquela posição fosse lhe dar um belo torcicolo e uma dor nas costas, era difícil tirar seu descanso.
Suspirei.

— Jun... — Murmurei apoiando a mão em seu joelho e mexendo um pouco. — Jun-ah.

Apoiei a mão na bochecha dele para que não caísse no sofá, e assim ele acabou despertando devagar, os olhos piscando.

— Hãn? Eu dormi?

Ele esfrega o olho com um dedo e solto uma risada baixa, achando fofo o jeito que ele estava. Peguei em seu braço e o puxei para o ajudar a levantar.

— Você fica uma gracinha dormindo.

Abracei sua cintura o levando para o quarto. Ele tirou o chinelo nos pés da cama e subiu se jogando nos lençóis, já adormecendo em poucos segundos. Cobri seu corpo e arrumei sua cabeça no travesseiro antes de sair em direção ao meu.
As vezes tinha noites que eu amava ficar sozinho, olhava o céu antes de dormir, me enroscava em minha grande cama de casal e dormia todo espaçado.
Mas tinha noites que eu queria pedir pra dormir com ele. Para não ficar sozinho, não me sentir sozinho, e ter algo quentinho para apertar.

Essa era uma daquelas noites. Mas eu dormia sempre sozinho.

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⏰ Última atualização: Feb 15, 2023 ⏰

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