Voltar à escola nos dias seguintes foi estranho. Apesar do climão no ar, ninguém tocou mais no assunto. Davi, por sua vez, continuou vestindo a carapuça de ser o Caladão da turma, pois percebeu que quanto menos conversasse, mais evitaria problemas. O que ele não esperava, contudo, era que alguns dias depois do ocorrido da chamada, Analu apareceria magicamente ao seu lado após o sinal que dava início ao intervalo. Antes mesmo de o menino conseguir se levantar, ela o convidou:
— Se eu te pagar uma coxinha e uma Coca, você me deixa explicar o que aconteceu?
Davi, que ainda estava chateado com a exposição, ficou com um pouco de medo de confiar de novo na wannabe amiga, mas aceitou o convite e seguiu com ela pra cantina. Na pior das hipóteses, pelo menos ganharia um lanche de graça. Depois de enfrentar a fila para a compra e achar um canto reservado pra conversar, Analu desatou a falar:
— Davi, eu queria te pedir desculpa por aquela cena ridícula da chamada. Elas são as minhas melhores amigas e ficaram doidas pra saber qualquer coisa sobre você. Foi aí eu contei o que conversamos no MSN, e elas combinaram de fazer aquilo durante a chamada.
— É, foi bem bizarro! — Davi pareceu entristecido.
— Né? Eu sei! Mas assim, eu não vejo problema nenhum em você gostar da Britney, acho legal até, diferente, e queria te pedir desculpa por ter contado da sua vida pra elas — Analu disparava as palavras quase sem respirar, como se estivesse com medo de que Davi a largasse falando sozinha.
— Analu, na boa, eu fiquei bastante chateado mas tô tentando seguir em frente. Só não sei o que mais posso te contar... se eu posso te contar alguma coisa, na verdade.
— Cara, desculpa mesmo, mas te prometo pela minha mãe mortinha que não vou mais abrir a boca pra falar nada. As meninas são legais, te juro, vou apresentar vocês e...
— Calma, Analu, segura o brilho! Uma coisa de cada vez. Vamos tentar ser amigos primeiro e depois vemos como as coisas se desenrolam. Falando nisso: no meio dessa briga, a gente tem um trabalho pra fazer, né?
— Menino, nem me fale! Tô doida de tanta coisa pra fazer e esqueci. Vamos ficar até mais tarde amanhã e fazemos juntos? — Propôs Analu.
— Pode ser, não tenho planos de tarde. Ficamos na biblioteca?
— Sim! Fechado? E de novo, desculpa, tá? Podemos ser amigos?
— Vamos fazer o trabalho e aí a gente vê como fica a amizade, pode ser?
— Combinado! Te prometo que não vou te decepcionar. Agora vamos comer logo antes que a coxinha esfrie. — Prática como sempre, Analu encerrou a conversa antes de abocanhar o salgado.
(...)
No dia seguinte, os dois ficaram até mais tarde na biblioteca para fazer o trabalho de História sobre mitologia grega e foi uma ótima oportunidade para se conhecerem melhor. Davi, é claro, estava muito cauteloso, por isso entrou em assuntos diversos que não davam nenhuma pista de sua personalidade ou história de vida. Era melhor assim, por enquanto. Logo as afinidades e os interesses em comum surgiram, como a saga Harry Potter e sobremesas. Entre uma tarefa e outra, Analu contou para Davi como se fascinava pelos deuses gregos, pois eles se pareciam muito mais com os humanos do que com divindades. Assim como Analu, Davi havia estudado nessa mesma escola, desde a educação infantil e ficou surpreso com as convenções da mais nova amiga. A vida inteira eles haviam sido ensinados sobre uma série de mandamentos e regras que precisavam ser cumpridas com a finalidade de evitar a danação eterna, contudo Analu parecia não se importar muito com isso:
— Já reparou que os deuses erram pra caramba? Não tem esse "blá blá blá" de pecado e não sei o quê. Não tem nada disso que a gente tem que ver na aula de religião. Eles são muito mais humanos, sentem raiva, inveja, querem as coisas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Armário Vazio Não Para Em Pé: Baseado Em Closes, Corres e Fatos Reais
عاطفيةUM ROMANCE PRA QUEM JÁ SE SENTIU DIFERENTE E NUNCA SE RECONHECEU NAS HISTÓRIAS CONTADAS ATÉ AGORA Davi é um jovem brasileiro que faz exatamente tudo o que se espera dele. Vai bem na escola, uma instituição religiosa bastante conservadora, cuida dos...