3# Heroes cry too...

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A visão saia do branco mágico para o branco da sala de hospital. O branco ainda era o mesmo, mas diferente da névoa que tinha a sensação de calmaria e poder, aquele branco tinha a sensação de pesar.

Após saírem da névoa mágica de Kongō, Stiles pode ver claramente uma sala branca, com vários aparelhos médicos ligados, tinha um pequeno banheiro e uma TV desligada. No meio dos aparelhos, via uma cama, onde um garoto estava deitado com fios saindo de seus braços, não um garoto comum, não um garoto que viu na escola, nos corredores, que não conhecia, não, ele conhecia bem aquele garoto, sabia de suas dores e amores, aquele era si, ele deitado na cama de hospital, com fios o mantendo vivo.

— Vítima número dois, Noah Stilinski — o guia novamente se pôs sua posição estoica.

Logo se pode notar um homem, quase do mesmo tamanho de Stiles, com os cabelos loiros escuros, com fios brancos em alguns lugares de sua cabeça, os olhos com olheiras profundas e andar cansado, ele estava sentando ao lado do menino, segurando sua mão, como se aquilo fosse a única coisa que permitisse que ele não partisse deste mundo, que permitisse que ele ficasse.

Stiles não conseguiu dizer nada, somente olhava para a situação. Ver seu corpo naquela cama o fez encarar com mais seriedade a situação, entender o verdadeiro peso do que estava acontecendo.

— Oi filho, como você está? — o xerife falava, calmo, com a voz baixa e cansada — Desculpa não ter vindo ontem, eu estava arrumando algumas coisas na delegacia, você sabe como é — por um instante Noah se permitiu soltar uma risadinha soprada.

— Ele não parece muito bem — Kongō diz, mas Stiles estava ocupado demais para ouvir.

— Jura gênio — Void respondeu rápido, revirando os olhos.

— Sabe Stiles — parou, olhando aos olhos do filho e apertando sua mão — Sei que tivemos tempos difíceis, e que eu nem sempre fui um bom pai, ou um pai presente, mas eu te amo filho, eu tenho muito orgulho de você, então por favor volta para mim — os olhos do xerife estavam cheios de lágrimas, ele levou a mão do filho até sua testa, segurando com força.

— Pai — o garoto diz, mais baixo que antes, era como se estivesse perdendo a voz.

— Por favor, eu preciso de você aqui, não posso te perder, não posso, eu sei que não falo isso todos os dias, e que demorei a dizer, mas por favor, acredite nas minhas palavras — o xerife abaixou a cabeça até a maca, apertando mais a mão do filho.

Stiles com lágrimas nos olhos, ficou olhando para o pai, com pequenos e lentos passos foi se aproximando, chegando perto do homem, mesmo que tudo que ele sentisse fosse um ar gelado passando por seu pescoço e um sussurro muito baixo acompanhado do vento.

— Heróis também choram, pai — Stiles disse baixo, colocando a mão no ombro do homem — Pode chorar.

Por um segundo, o xerife ficou em choque, parado, mas logo a tristeza o invadiu, seus olhos que estavam segurando por tanto tempo, finalmente cederam, e ele se permitiu ficar vulnerável, chorar como uma criança, colocar todas aquelas semanas sendo forte a baixo, ele deixou que as lágrimas virassem um mar no lençol da cama, sendo abraçado e consolado pela alma do filho.

— Você é um hipócrita! — Void disse com indiferença, olhando diretamente para o menino.

— Como é? — Stiles questionou com um pouco de raiva, acompanhando sua voz.

— Disse a seu pai para chorar, mas você mesmo está reprimindo isso, mesmo que ele não te escute, você ainda disse — Void encarou Stiles que estava alternando o olhar entre o espírito e o pai — Se permita ficar triste, se permita chorar garoto, você não é um herói e não precisa ser, você é uma criança que precisa esvaziar e mostrar o'que sente às vezes, apesar de isso ser um incômodo — Void suspirou e olhou para qualquer outro lugar que não fosse os olhos do menino, neste momento, não sabia porque dissera essas palavras, mas não se sentia ruim as dizendo.

No mesmo instante, os olhos do garoto ficam cheios de lágrimas. Stiles correu até Void, afinal, ele e Kongō eram os únicos que ele podia sentir completamente, tocar e procurar algum conforto e calor. Apesar do quão maluca essa ideia possa ser, um destruirá sua vida por um tempo e o outro mal conhecia.

— Ok, OK — Void disse, dando tapinhas nas costas do garoto, se arrependia amargamente do que havia dito.

— Noah Stilinski, cuidou de você sozinho após a morte de sua mãe, teve uma recaída com bebida, mas se tornou um pai bom e protetor após conseguir cuidar dessa bebedeira, ele perdeu o único filho e companheiro, a casa parece muito mais vazia sem você — Kongō disse após tanto tempo fazendo Stiles parar de chorar e rir

— Você é um Pau no cu — Void disse, fazendo Kongō olhar em dúvida.

— Não sei o que essa palavra representa.

— Acho que acabamos por aqui — Stiles disse, se recompondo.

— Maravilha, quanto mais rápido terminarmos, mais rápido vou estar deitado comendo uvas no jardim do paraíso — Void resmungava.

Rapidamente eles sumiram, deixando o mais velho fazendo carinho na mão do filho, e se lembrando perdidamente das risadas do filho e de sua voz.

I LostOnde histórias criam vida. Descubra agora