1. O Sol e seu egocentrismo

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Nas primeiras séries do ensino fundamental, quando ainda chamamos tudo de ciência, uma das primeiras coisas que aprendemos é que o sol é a estrela que brilha, enorme e poderosa no centro do sistema, tendo a sua volta vários e vários planetas, orbitando ao seu redor sem perder o ritmo. Entre todos esses planetas, o nosso se faz presente sendo o terceiro caso fizéssemos uma fila que tivesse como ponto de início o Sol, o mais perto seria o primeiro da fila.

Quando mais jovem, no sexto ano, sentia que o Sol era como uma criança egocêntrica. Ele gostava de aparecer em meio a tudo e todos e queria que suas existências dependessem dele e nada mais. Ainda penso dessa maneira.

Quando olhamos novamente para nosso modelo de sistema, não temos nada mais do que coisas que dependem de outra para existir, que não podem estar vivos por si próprio. Isso é uma baita de uma dependência emocional. O Sol era o problema que todos gostam de romantizar, dizendo ser ele quem ilumina as trevas que aqui existem. Ele só quer bancar o herói pra chamar alguma atenção.

E, quando afirmo tudo isso, não estou tentando dizer que não concordo que o sistema precise de um centro, ou que sou contra o heliocentrismo. Apenas quero demonstrar minha opinião quanto ao egocêntrico, orgulhoso, pomposo e privilegiado Sol. E com Sol me refiro a mim.

Por mais que pareça estranho, pessoas insistem que, Sol é um ótimo apelido para mim, já que, de acordo com o ponto de vista delas, sou feliz, animado, divertido e sempre que passo por algum lugar, este se ilumina pela minha presença. Falso.

Se soubessem exatamente o que se passa por minha cabeça quando estou sorrindo e conversando enquanto finjo estar vivendo uma vida otimista e invejável, diriam que estou mais para um buraco negro, que suga tudo para dentro de si, inclusive a luz, esta que viria de outras pessoas. Sem chance de sair. Eu sou uma farsa.

Uma farsa que neste momento, está jogado no sofá da sala, sozinho comendo macarrão instantâneo enquanto assiste pela milésima vez seu BL favorito. Não chegava nem mais a ser pela emoção da história, já havia assistido tantas vezes que chegava a me lembrar das falas e, com o meu tailandês iniciante/avançado conseguia reproduzir elas desde que não fossem muito longas. Como esperado de um trouxa, fã de BL que torra os últimos neurônios estudando Tailandês.

Escuto meu celular, que estava em cima do braço do sofá, tocar diversas vezes, parecia que não iria parar, pelo menos não enquanto eu não respondesse as mensagens. Vou responder.

Respirei fundo, bufando, só queria um momento de paz, vendo dois caras se pegando e comendo meu macarrão como um bom adolescente hétero e frustrado faria. Será que é pedir de mais? Pelo visto era. Abri meu aplicativo de mensagens, me perguntando internamente porquê diabos o som das notificações do Kakao Talk eram tão irritantes. Eu poderia ter apenas ignorado se fosse algo mais soave.

A primeira coisa que vi quando o abri, foram as mensagens da única pessoa que me incomodaria em um domingo nove e meia da noite, Lee Heeseung. Pausei o que estava passando na TV pois havia esquecido de fazer antes e cliquei em sua conversa.

Ei, Ei, Ei
[ 21: 28 ]

Eu sei que você tá acordado
[ 21:28 ]

Você vai amanhã né?!
[ 21:29 ]

É o primeiro dia de aula, você faltou muito ano passado, você vem né?!
[ 21:29 ]

Passo na sua casa amanhã às 6:40 pra te buscar, sem atrasos ou jogo seu álbum do Stray Kids - Christmas EveL limited do quinto andar do meu prédio.
[ 21:30 ]

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