O fim do início

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Yeonjun entrou de férias no momento perfeito para começar a ensaiar para as nacionais. O problema é que ele ainda não sabia exatamente o que fazer para impressionar, e sempre que tentava pensar em alguma coisa, sentia que todo o seu estoque de criatividade tinha se esgotado. Resumindo: ele ainda não tinha uma inspiração.

Devia ser duas da madrugada, e ele estava no terraço com Beomgyu como tinham costume. O menor estava trabalhando por ali, enquanto Yeonjun andava em círculos, sem saber nem que música escolher. O primeiro passo era sempre o mais difícil, mas também o mais importante, e o dançarino não queria errar em uma competição tão importante.

Ele deitou no chão quando percebeu que não iria a lugar algum ficando em zig zag. Pelo menos as poucas estrelas estavam bonitas no céu escuro.

— Ainda não consegue pensar em nada? — Beomgyu perguntou, olhando para o namorado.

— Aham. Parece que nada vem por mais que eu tente muito. — Suspirou, estava chateado de verdade.

— Eu tava assim antes de te conhecer. — Disse.

— Sobre o que?

— Meu livro.

Yeonjun sentou na mesma hora.

— Então seu livro fala sobre mim? — Olhou com as orbes brilhando de curiosidade. Beomgyu tapou a boca com a mão, sem perceber que tinha deixado isso sair sem querer.

— Que droga, Yeonjun! Era pra ser surpresa. — Riu pela felicidade que ele pareceu estar. — Mas não é exatamente sobre você. É mais sobre como eu me senti em relação a você. Colocar para fora o que eu tava sentindo foi esclarecedor e me deu muita força pra continuar.

Yeonjun assentiu aos poucos. Falar sobre si, isso parecia um pouco assustador. Se fosse sincero, seria o seu maior medo há um tempo atrás, porém agora chamou sua atenção.

— Por onde você começou? — Chegou mais perto do namorado, sentando na frente dele.

— Eu me perguntei qual era a primeira coisa que vinha na minha cabeça quando eu pensava no que estava sentindo.

— E qual foi a resposta?

— Falta de ar. — Riu. — Eu ficava assim quando a gente tava junto, e isso foi muito estranho pra mim até eu entender que tava apaixonado. A partir disso, eu comecei a escrever a história.

Yeonjun não conseguiu evitar de sentir o coração acelerado. Ele já tinha aceitado que Beomgyu seria a única pessoa que faria ele ficar assim com qualquer coisinha.

— Ok, isso foi muito bonito. — Disse, fazendo o outro corar de leve. — Mas eu não sei como montar alguma coisa inspirada em mim.

— Qual a primeira coisa que vem a sua cabeça quando você pensa em você?

E de repente, a mente de Yeonjun se tornou um espaço em branco. Ele não sabia por que era tão difícil pensar sobre ele. Como ele se via? O que tinha de marcante em sua personalidade? O que a sua pilha de inseguranças o impedia de ver? Era como se seu reflexo fosse visto a partir de um espelho quebrado. Talvez ele estivesse quebrado também, tinha tanta coisa dentro de si que simplesmente parecia despedaçada.

— Um espelho quebrado. — Respondeu. — Que reflete a coisa certa. Às vezes eu não me sinto inteiro, então faz sentido. Ou não.

— Um espelho quebrado... — Beomgyu repetiu depois de alguns segundos processando o que ouviu. — É um ponto de partida sincero sobre você mesmo.

— Isso foi mais profundo do que eu achei que seria. — Suspirou. — É um pouco estranho encarar o jeito que eu me vejo.

— Eu também me senti assim até perceber que a arte nem sempre precisa ser uma fuga da realidade. Ela pode ser confusa e até dolorosa também, faz parte.

espelho quebrado - yeongyuOnde histórias criam vida. Descubra agora