C O N N E C T I C U T
2 0 2 3[S. J.]
Aproveito o domingo de manhã para estudar. Não consegui entrar em nenhuma faculdade, não que eu tivesse tempo para isso agora, mas, antes, quando ainda tinha meu pai, houve o blip, e ele afetou em coisas demais. Instituições de ensino foram uma delas. Todos os planos que fiz sobre sair da cidade foram para o ralo, já não tenho a quem pedir referências para conseguir uma bolsa porque deixei a escola faz anos, e não tenho dinheiro para pagar sequer um semestre.
Por isso não tenho expectativas de deixar a vida medíocre que levo dia após dia, mas estudar esporadicamente acaba se tornando uma ilusão, a gota de esperança que habita em mim em dias que posso ver uma cor diferente do cinza. Se eu fechar bem os olhos, abafar minha mente de todo barulho da rua periférica e me concentrar o bastante, quase consigo me sentir em uma biblioteca, tenho prova no dia seguinte, estou estudando desde cedo para uma matéria que o professor gosta de pegar no pé, falei com Ben assim que acordei — ele está estudando no internato bem avaliado a alguns quarteirões dos dormitórios da minha faculdade e ficamos juntos nos finais de semana — ele me desejou boa sorte, também tenho uma colega de quarto, não somos amigas mas nos damos bem, ela terá prova junto comigo.
Todo o meu sonho desaba, se desfaz em milhares de pedaços, quando sinto o cheiro de cigarro invadindo minhas narinas. Abro os olhos com uma careta feia e encaro minha mãe, são nove da manhã, mas aparentemente isso não faz diferença. Os cabelos dela estão desgrenhados e seus olhos tem olheiras pelo excesso de sono, posso sentir seu fedor daqui, mesmo que a mesa esteja longe da bancada da pia — onde ela se escora.
— Sonhando acordada? — Victoria solta a fumaça de uma vez.
— Eu já disso para você não fumar aqui dentro, não quero que Ben e nem eu tenhamos câncer por sermos fumantes passivos.
O olhar que ela me dá é cheio de arrogância, minha mãe não desvia nem por um segundo enquanto traga mais forte, solta devagar e, por fim, surpreendendo-me, apaga o cigarro na bancada.
— Se acha muito melhor do que eu, não é? — ela diz.
— São suas palavras.
Posso ver quando pura ira toma conta dos olhos pretos que Benny herdou, os passos que dá até a mesa são duros e tem o objetivo de me confrontar.
— Continua a mesma garotinha de sempre. — Ela sorri, mas não de um jeito bonito, odeio o quanto aquilo me remete a lembranças que enterrei há muito tempo. Por um instante penso que voltarei aos meus oito anos, quando ela começou a usar drogas e já não era mais a mesma, quando sempre descontava em mim as merdas das quais passamos. Mas ela não o faz. — Eu não quero competir com você, estou de volta, Sage. Você goste ou não, estou aqui pelos meus filhos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Caos | Pietro Maximoff
FanfictionA guerra com o Thanos foi apenas o começo. Com o equipamento capaz de destruir as jóias do infinito e impedir que elas caiam em mãos erradas, os Vingadores cauterizam as tão poderosas gemas e a reduzem a pó. Ou esse era plano. O que parecia tudo be...