Ok. Talvez não tenha sido a melhor escolha que eu tenha feito antes de ter vindo a esse mundo. Mas como eu saberia que seria assim? Ninguém nunca tem certeza de nada ao mesmo tempo que temos certeza que estamos criando nossas realidades. Mas o que necessariamente isso quer dizer? Bem. Isso se descobre sozinho. Eu não me imaginaria nesse estado a cinco anos atrás e com certeza não estarei no mesmo estado daqui há cinco anos. Como eu tenho certeza disso? Eu não sei. Mas o presente nos instiga a pensar isso. Nossa mente que funciona somente no presente consegue fazer ideias absurdas sobre o que vem no futuro ao meu tempo que analisa nossas ações passadas que já foram nosso presente. Quer ter uma ideia de como isso funciona? Então presta atenção. O que você está lendo agora no presente se tornou passado agora. Viu? Já está no passado. E do mesmo modo posso criar o que você vai ler no futuro, que é isso aqui, porém, agora isso é presente e passado agora. Viu? Presente, passado e futuro são a mesma coisa. Nós é que damos ideias lineares de tempo a elas como se elas funcionassem antes, durante e depois. Mas não. Elas acontecem agora. Mas o que exatamente isso quer dizer sobre minha vida? Bem. Você precisa ler o que foi minha vida. Como ela começou e como terminou, apesar de eu estar escrevendo ainda vivo não é mesmo?
Eu era uma criança simples de uma cidade pequena no interior. O nome da cidade? É irrelevante. Crie você sua ideia de onde eu moro. Eu simplesmente me sinto dono do mundo. Sempre fui uma criança introvertida. Com dois irmãos, porém, não era uma criança muito comunicativa com eles. Sentia que precisava ler enquanto eles brincavam na rua. Isso não quer dizer que éramos afastados. Simplesmente éramos assim, irmãos com pensamentos diferentes.
Com três anos de idade aprendi a ler. Sim, isso é um orgulho meu e da minha família, apesar de muita gente achar que nós inventamos esse fato para que as pessoas se impressionassem de alguma forma com a nossa família pobre. Meu primeiro livro é um clichê. Geralmente é o primeiro livro que as crianças lêem, e, sim, foi "O pequeno príncipe".
Ao analisar essa parte da minha vida, você deve me imaginar com cerca de oito anos de idade. Uma criança bastante inteligente e com boas notas na escola. Aqui eu me encontro como uma criança que descobriu que ama os animais e os livros. Também adora escrever poemas, e apesar de apenas uma criança, já sentia que poderia entender o amor em seus pequenos versos que escondia de seus pais para não se sentir envergonhado.
A melhor amiga dessa criança de oito anos? Ah sim. Era a mãe dela. E vai ser por um bom tempo. Mas cada momento acontece quando deve acontecer. Você vai já descobrir o que eu quero dizer.
Um dia, essa criança ao qual eu estava preso descobriu sentimentos estranhos. Ainda cedo. Era algo estranho para ela. Seus pais não eram conservadores, nem liberais, ele ainda nem sabia exatamente o que era isso. Mas uma coisa essa criança sabia. Ela não poderia dizer a seus pais o que ela pensava sobre estar se sentindo atraido por pessoas do mesmo sexo que elas.
Foi aí que eu comecei a ajudá-la. Dei meu primeiro sussurro em seu ouvido.
_ Não conte ainda, está muito cedo para eles saberem - sussurrei em seu ouvido.
A criança sentiu essa intuição. Mesmo não sabendo o porquê ela simplesmente seguiu a voz do seu "coração".
A criança foi crescendo, foi sentindo e experimentando sentimentos e prazeres novos. Sua mãe sentia que ela mudava. Sempre o aconselhava. Mas eu o guiava, errando na maioria das vezes. Porém, era o melhor que eu poderia fazer com o pouco de experiência que eu lembrava da minha última vida nesse mundo. Nós ainda não éramos um só. Isso dificultava muito. A criança estava desconectada de mim, mesmo eu que eu estivesse preso em seu corpo.
Às vezes, ela me sentia. Eu gritava seu nome e ela ouvia. Virava o rosto pra direção onde eu estava e parecia me olhar, mas não me via, somente me sentia e mesmo que me sentisse, não acreditava que eu existia.
Aquela criança cheia de experiência estava cada vez mais afastada de mim na adolescência. Pobre criança. Deixou de acreditar que eu existia, e que todos os meus Eus acima de mim existiam também. Se tornou ateu. Mas eu não ia desistir dessa criança. Eu não queria morrer. Eu dependia da crença dela para existir. Algo muito parecido com o Paradoxo de Bootstrap, sacou?
Foi aí que eu tive que começar a acompanhar de longe. Não sentia que podia sussurrar em seus ouvidos palavras que pudessem lhe guiar. Sem crença em mim, ela se fechou. Me apagou de vez. Eu deixei de existir. Me sentia sonolento. Indo pro Limbo. Mas não. Era cedo demais pra desistir.
Resolvi somente observar aquele adolescente incrédulo em mim e em todos os meus eus superiores.
O adolescente se tornou sem direção. Sem motivo de existir. Para ele era só morrer e acabou. E assim seria se ele não entendesse que estava me matando também. Mas que adolescente mais filha da puta egoísta!
O jovem começou a ligar o "foda-se". Conheceu o Carnaval. Eis aqui uma festa onde o jovem começou a descontar todas as suas preocupações. Mal sabia ele que a culpa era toda dele. De seus erros, de suas negações sobre a realidade e a negação em me deixar ajudá-lo a me criar. Foi alí, no meio de toda aquela galera, que o jovem, tomou seu primeiro gole de álcool, e no Carnaval do dia seguinte, foi a primeira fez que ele me matou por um momento.
Naquele dia, ele se preparava para sair com seus amigos. O jovem, tinha um amigo homem e uma amiga mulher. Sempre saiam os três naquela época, mas é claro nós, as almas dos três estávamos sempre atrás deles sem poder fazer nada. Pelo menos é o que eu sentia que devia acontecer, afinal, eu nunca vi a alma deles sequer uma vez. Mas acreditava que estava lá. Se bem que eu nem mesmo me sinto uma alma. Afinal, eu existo agora em carne e osso, só não existo em materia naquele momento.
Mas bem, continuando. O jovem saiu com seus amigos naquela noite de Carnaval e começou a tomar todas. Porém, ele sempre foi muito sensitivo. E alí, foi a primeira vez que ele me viu e desejou lê esquecer. Ei dei um "oi" e ele tomou mais um gole pra tentar esquecer que me viu, não queria aceitar. Consciências negativas chegaram perto dele para roubar sua energia. Começaram a absorvê-la e eu comecei sentir-me deixando de existir pela primeira vez.
_ Não! Não me esquece! Por favor! Acorda! Eu sou você! Acredite em mim!
Ele me olhou nos olhos assustado e tomou mais um gole. Ele apagou e eu morri pela primeira vez.
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Interprete Como Quiser
EspiritualA história de um ser humano que se viu longe de si. De sua alma, sua consciência, sua essência. Chame como quiser. Esse livro é para fazer refletir sobre como vemos a realidade, o que sabemos dela, o que não sabemos dela e o que nem sabemos que sabe...