- AFRODITE -
Eu entro no carro do meu pai destroçada, o coração apertado no peito sentindo a dor de ser traído pela pessoa por quem ele mais batia nessa vida e a mente me torturando com a confissão:
"Foi só uma vez, eu juro"
A frase se repete diversas vezes me fazendo sentir meus olhos e nariz arderem por causa do choro que insiste em sair mas como das outras vezes, eu respiro fundo e tento não derramar uma lágrima se quer l.
Eles não merecem nem isso vindo de mim.
Jão - Te tirar do morro. Pelo menos por hoje! - a voz me trás de volta pro agora e eu olho para o assento ao meu lado, vendo ele dirigindo e fumando um baseado.
Tá parecendo uma chaminé ambulante.
— Não precisa - falo baixinho e no segundo seguinte, ouço ele estalar a língua no céu da boca como sempre faz quando não está satisfeito.
Jão - Tú não cansa de ser teimosa, né? - aponta pra mim, puto, com a mão do baseado. - E se ele vier atrás de tú pedindo perdão e os caraí a quatro? Vai fazer o quê? Perdoar o vacilo dele?
— Ele não vai vim, pai... - falo cansada, tentando me convencer de que ele vai respeitar o meu espaço, mesmo sabendo da dependência emocional e da pequena obsessão que ele tem por mim. — E mesmo se vier, eu já me decidi e pra ele eu não volto.
Jão - Tú que pensa. - pausa - Não vou te falar nada hoje porque eu tô ligado que o teu psicológico já tá todo fodido, mas amanhã nós dois vai sentar e vai ter um papo maneiro sobre... Eles. - vejo sua dificuldade em terminar a frase, mas não falo nada.
Eu sei que embora ele tente não demonstrar, está tão ferido quanto eu, e isso me faz sentir mais raiva ainda da minha mãe porque ela não só fodeu com o meu psicológico mas também com o dele, que era alguém que sempre fazia de tudo por ela.
— Vamo... - nós dois falamos juntos e sorrimos com isso. Bom presságio.
Jão - Pode falar, minha deusa. - seu tom é calmo e eu fico aliviada por ter ele de volta.
— Eu quero beber, pai... - jogo meus cabelos para trás e me ajeito no banco, o olhando de lado. - Tudo que meu corpo aguentar, eu quero.
Jão - Então somos dois! - admite e, girando o volante, pega outro rumo dentro do morro. - Te levar pra um lugar que eu sei que ninguém vai encher nosso saco.
Poucos minutos depois, ele estaciona o carro em cima de uma calçada e então me olha com atenção enquanto eu encaro o letreiro em led neon no alto escrito:
CALIENTE
É uma boate, mas também um prostíbulo. Depende da intenção de quem visita.
Eu mesma só vim pra dançar e acho que meu pai pra buscar os lucros já que ele é um dos donos.
Jão - E aí? - dou de ombros, abrindo a porta e saindo lá pra fora com ele fazendo o mesmo. - Quiser ir pra outro lugar, gente vai.
— Aqui tá bom. - bato a porta do carro e me viro vendo ele caminhar para a entrada do local. Com a chave entre os dedos, levando para a maçaneta das portas duplas. — Tem certeza que ninguém vai ficar perturbando?
Jão - Absoluta. - ele abre dando espaço para que eu passe na sua frente. - Tá geral pro baile e hoje só quem entra é quem tem a chave.
Confirmo, entrando no espaço com pouca iluminação onde logo as luzes em neon começam a piscar e iluminar o grande salão ao detectar minha presença.
— Que chique... - comento ao ir para o bar que fica logo na entrada enquanto meu pai vai pro lado oposto.
Pego só as mais fortes e volto, subindo direto pra sala vip no andar de cima.
É um espaço com paredes em vidro fumê que dá para olhar todo o salão de dança lá embaixo, mas de lá ninguém vê nada daqui.
Coloco as garrafas em cima da mesinha de mármore branco em frente ao sofá de couro preto que pega de uma parede a outra dando um ar sofisticado ao espaço e sento esperando meu pai, que sumiu.
Jão - Se liga! - grita de algum lugar e logo o proibidão sai dos alto falantes, preenchendo todo o espaço. - O pai dança demais, cê é louco! - ele aparece no meu campo de visão se mexendo igual uma lagartixa e é impossível não rir da cena. - Ignora Jão, isso é inveja. - fala consigo mesmo abrindo as garrafas e com isso a gente engata bebendo, dançando e tirando sarro um do outro.
Tudo pra esquecer que fomos traídos pelas pessoas em que mais confiávamos.
Um bom tempo depois, com o álcool tomando o lugar do sangue na veia, eu deito no sofá olhando por debaixo da mesa meu pai quase apagando do outro lado.
Tá todo rabugento, resmungando coisas que eu tenho certeza que nem ele entende, falando sozinho igual doido. E a culpa é dele mesmo que inventou de misturar bebidas e drogas.
Eu ainda avisei que ele ia dar pt por isso, mas tú escutou? Porque ele não. Fez foi rir falando que mudava até de nome se isso acontecesse.
Bom, parece que tem gente que não vai mais se chamar João.
— O senhor quer uma água? - pergunto, sentindo meu olho pesar , mas evito fechar pra não ter que sentir tudo ao meu redor girar. Mais do que já está. — Eu pego lá. - aponto pro andar de baixo onde fica o freezer de bebidas.
Ele resmunga algo desconexo ao fazer um joinha que eu entendo como um sim e, tomando cuidado pra não cair nas escadas, eu desço devagar, me apoiando no corrimão.
Pego uma garrafinha de água e quando tô voltando, a porta da frente é aberta me chamando atenção. Por ela passa uma morena que eu não sei se é o efeito Cinderela do álcool ou se é ela mesmo mas...
Puta que me pariu!
VOCÊ ESTÁ LENDO
CALIENTE [M]
Romance📍Vidigal, Rio de Janeiro +18 | "... Mas só ela consegue, mexer com a minha mente. Domina minha boca e o meu subconsciente". ___ Sinopse: Logo após descobrir que seu noivo estava tendo um caso com sua mãe, a jovem Afrodite vai até o Bordel Caliente...