Perdido na floresta

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"_ Ouvi um carro lá fora, acho que ele está aqui… _ Alec surge na tela, falando baixo, parecendo nervoso. 

_ Você está ficando neurótico. Ele não sabe que está fora da cidade e muito menos em uma cabana de férias em Thick Forest. Fique calmo! _ Jace pediu ao irmão. Não era de se estranhar que Alec estivesse paranóico, depois de toda a perseguição que passou, nos últimos meses, com Andrew, um ex-namorado que não aceitava o fim do tumultuado relacionamento. 

Havia sido uma relação abusiva e Alec teve muita dificuldade e três costelas trincadas, para conseguir se libertar do outro. Agora ele tinha uma ordem de restrição, que, no fim das contas, não o impedia de invadir seu espaço pessoal, se ele bem entendesse. 

Pelo menos era o que Alec achava. Jace, por não conhecer a loucura de Andrew tão bem como o irmão, achou mesmo que somente o documento, obtido na Justiça, o manteria afastado. 

Mas, Alec tinha razão, Andrew nunca o deixaria em paz. 

_ Vou sair pelos fundos e entrar na floresta. Não vou deixá-lo me pegar com facilidade. Chega disso! _ Alec falou baixinho, na chamada de vídeo, olhando para os lados, agora abaixado atrás do sofá. Havia pânico em seus olhos e o celular tremia em suas mãos. 

Era difícil manter a calma quando tinha certeza que seu pesadelo não havia acabado. 

Andrew deu uma pausa de três meses depois do fim do relacionamento. Tempo suficiente para as costelas de Alec sararem e os ferimentos do outro também. Daquela vez, houve reação. Andrew não esperava, mas Alec estava farto de ser acusado de coisas que não fazia e ser humilhado. Vinha recebendo atendimento psicológico on-line, sem que o outro soubesse, e se sentia mais forte para responder e revidar. Ele não foi o cordeirinho que o namorado estava acostumado a espancar e depois desculpar-se. Alec descobriu que era forte para arrancar sangue do outro, como ele fazia consigo. E, quando chegou ao limite, explodiu. 

Foi libertador ver o susto estampado no rosto do outro quando revidou o tapa com a costa da mão, fazendo o rosto virar com força e o sangue escorrer no canto da boca. "Você nunca mais vai me bater!", gritou com todas as suas forças. 

Foi uma briga feia, mas ele arrastou Andrew até o lado de fora da casa pelos cabelos e o chutou, o mandando embora. Os vizinhos aplaudiram, quando ele cuspiu no cacheado e gritou que nunca mais queria vê-lo ali. Todos estavam cansados de ver Alec sofrer nas mãos de Andrew e defendê-lo, como se a culpa fosse sua. 

Era a culpa da vítima e muitos a conheciam também. Não era fácil aceitar que você não é amado, é um objeto para o outro. E Alec queria muito ser amado, depois de ser escorraçado pelos pais, aos 16 anos, por ser gay. 

Ele viveu em abrigos e teve que arranjar empregos de meio período, até terminar a escola.

Agora aos 24, era gerente da lanchonete, onde começou lavando pratos, e morava em uma casa alugada em um bairro no subúrbio, com vizinhos que gostavam dele. Eles só não gostavam do seu namorado, o loiro cacheado que foi morar com ele como um cordeirinho, mas logo mostrou suas garras de lobo.

_ Mas, Alec, isso é perigoso! Você sozinho, à noite, na floresta… Não é melhor chamar a polícia? Eles não devem demorar… _ Jace respondeu, preocupado. 

O barulho de vidro quebrado chamou a atenção de Alec, que ergueu os olhos. _ Não dá tempo… Eu sabia que era ele, e  agora conseguiu entrar… _ seu tom foi quase inaudível. _ Eu preciso fugir… _ continuou. 

Jace desesperou-se quando viu a mão do outro agarrar os cabelos de Alec, o erguendo do esconderijo. O celular foi abandonado no chão, quase sob o sofá e o loiro conseguiu ouvir apenas gritos e muito barulho, como o de uma luta corporal. Depois veio o silêncio e mais nada."

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