Capítulo 1

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Jihyo sentia as mãos correrem por seu corpo, mas não eram as que estava acostumada. Ele suava sobre ela, mas não era o que queria. Mas ao mesmo tempo, se movimentava sobre ele, gemia ao ouvido dele. Sua mente ia até as pessoas a quem aqueles gemidos sempre pertenceram, as únicas mulheres de sua vida, e que agora tinham algo a mais. Aquele homem de braços fortes que gozou em uma estocada, Jihyo estava perto, então ele desceu para fazer um oral em sua intimidade.

Ela rolou os olhos, cravou as unhas nas costas dele gravando suas marcas ali. Jihyo viu a aliança reluzindo em seu dedo. Havia feito, Jihyo havia feito aquilo.

Tudo ultimamente vinha desmontando, como em um efeito dominó. A empresa exigia resultados melhores ou então Jihyo seria demitida. Se fosse demitida, teria que desmatricular Soohyun da escolinha de futebol, e sua filha amava futebol. Seria cruel ter que fazer aquilo.

A pressão de estar trabalhando o dobro, ou até o triplo, fez com que a relação com as esposas fosse escoando para o ralo, gota a gota, até que a pequena Minatozaki um dia presenciou as mães perdendo o controle. Jihyo quebrou uma garrafa, e Tzuyu imediatamente foi para frente de Sana porque não deixaria ninguém se ferir ali.

Jihyo se feriu naquela noite, viu lágrimas de terror nos olhos de sua filhinha, viu Sana olhar para ela decepcionada. O pior foi Tzuyu, não enxergar o brilho que ela sempre teve no olhar.

E justamente aquela foi a noite em que afogou todas as mágoas em um bar. Jihyo tinha uma tolerância ao álcool muito alta, então não estava bêbada quando um rapaz de terno chamado Kang Daniel apareceu em sua frente oferecendo a ela mais uma bebida. Aquele lugar estava pouco movimentado, mas havia algum movimento. Jihyo o olhou de cima a baixo, e então, aceitou a oferta de paz. Um segundo de paz, que levou para minutos de conversa jogada aos ventos e então um beijo no corredor do bar. Daniel teve seu pênis ereto, e Jihyo não tardou em acariciá-lo.

A aliança. Ela devia ter olhado bem para a aliança com suas esposas se esfregando no membro do rapaz. Devia ter evitado.

Sua família parecia distante, suas esposas e sua filha.

Quando acordou com o clarão no rosto, ela estava sozinha em um quarto de hotel. A cama estava bagunçada, bem como os cabelos vermelhos de Jihyo. Ela se sentou, apoiou as mãos sobre o rosto, os flashes de memória chegavam, bem como marcados em sua pele.

— O que foi que eu fiz? — sussurrou para si mesma, as mãos se entranharam nos cabelos, os puxando, como se pudesse puxar a si mesma para a realidade também.

Daniel havia deixado nada mais do que um bilhete com seu número de telefone caso precisasse de algo. Sexo casual para ele, o fim de uma vida para Jihyo.

Ao passar pela rua, ela se sentia suja. Esbarrar em alguém poderia quase ser considerado um evento de desculpas. Era imunda, havia acabado com tudo que construiu durante anos.

Lutou para conseguir a mão de Sana, e depois, Tzuyu também. Se conheceram as três na faculdade, se apaixonaram quase instantaneamente. O coração de Jihyo estava em fragmentos, porque ela sabia que não haveria volta mais.

O destino, obviamente, deveria ser seu lar. Mas, que lar? O que ela mesma havia destruído? Destroços como vidros espalhados que machucavam e sangravam como se aqueles cacos penetrassem sua pele.

Então, decidiu ir até a casa de sua melhor amiga. Momo atendeu a porta na primeira batida, e não estava com a cara nada boa.

— Onde infernos você se meteu?! — Hirai esbravejou, trazendo Jihyo para dentro.

Como se soubessem que coisa boa não ia acontecer, os cachorros Dobby, Boo e Yeontan — que era de Jeongyeon — se esconderam no quarto de suas mães.

— Tem noção de quantas vezes eu liguei pro seu celular? Jeongyeon ficou de avisar a polícia sobre seu desaparecimento! Imbecil! Você precisa se lembrar que tem uma filha, Park Jihyo. Soo está tão assustada, você não faz ideia. Tive que mentir e dizer que você veio dormir aqui, mas-

— Eu traí elas. — Jihyo sussurrou, largando o próprio corpo no sofá como se ali fosse o canto que pudesse enfim perder. Perdeu, perdeu tudo em sua vida porque jogou tudo no lixo em uma única noite. — Eu dormi com um rapaz, eu transei com ele, Momo. Acabou, eu... acabou.

Momo ficou em choque. Olhos saltados, a boca entreaberta. Ela piscou duas vezes, e sem dizer nada, sentou-se ao lado de Jihyo. Park subiu as mãos para o rosto e não pôde se conter. Ela não conseguia mais.

O choro rasgou por sua garganta. Como se tudo o que fez na noite passada voltasse para a assombrar. Assombraria pelo resto de sua vida. Porque suas unhas estavam marcadas no corpo daquele homem, seus beijos foram na boca dele, ele esteve dentro dela, a visitou no lugar que era apenas de Tzuyu e de Sana. Tudo se quebrou, e Jihyo foi a responsável.

E quando pensou que seria consumida pela tristeza, Momo a abraçou, tentando acalentar os soluços que tremiam pelos lábios de Jihyo. Os braços eram quentes, trazia algum conforto do que se parecia com o lar destruído.

— Eu sou um monstro, Momo. Um monstro. — ela dizia em meio às lágrimas. Lágrimas que sangravam por seus olhos. — Como pude permitir? Como pude fazer isso? Elas são os amores da minha vida e... meu deus, a Soohyun. Não pensei nem mesmo em Soohyun.

— Jihyo, o que você fez foi grave. — Momo falava suavemente. — Mas não pode ignorar que estava sofrendo sozinha durante um bom tempo. Quantas vezes eu e Jeongie te falamos para dialogar com as meninas? Soohyun até mesmo sairia do futebol de bom grado. Não se pode carregar uma família sozinha nas costas.

Jihyo deu uma risada seca.

— Então eu fui lá e perdi a minha família.

— Ainda não. Elas ainda estão preocupadas, elas te amam. Você precisa ser sincera com elas, eu não sei onde isso vai terminar, Jihyo. Seja sincera, e pela primeira vez, tente não carregar tudo nas suas costas. Você vai acabar caindo, como fez na noite passada.

Jihyo assentiu, porém, sabia que não foi na noitepassada que tudo despencou. Há muito tempo ela nem sabia quem era.

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