Capítulo 2

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Jihyo fechou a porta atrás de si em um pequeno baque. Passou boa parte do dia chorando com Momo, até que suas lágrimas secaram. No bolso do paletó ainda tinha o cartão com o número de Daniel, ainda tinha o cheiro dele impregnado em seu corpo. E mesmo que agora estivesse em casa, ela não sabia o porquê, não se sentia confortável.

Sua mente espancou a si mesma: foi porque ela havia ruído a casa.

— Mamãe! — a voz foi aumentando gradativamente conforme a menininha vinha correndo até o hall de entrada do apartamento. Ela não esperou, nem mesmo hesitou. Saiu pulando nos braços da mãe porque sabia que Jihyo iria segurá-la e abraçá-la. Jihyo o fez. — Por que você saiu, mamãe? Está se sentindo melhor?

Soohyun tinha sete anos de pura esperteza. Foi adotada pelo trisal quando tinha dois aninhos. Sua ascendência era tailandesa, e um pouquinho indiana. Por isso ela tinha a pele adoravelmente escura e aqueles olhos tão castanhos. Jihyo abraçou a menininha em seus braços e deu um cheiro no pescoço. Estava com aquele cheirinho de neném.

— A mamãe está bem porque está com você agora, Soo. — ela falou, fazendo o seu máximo para sorrir, ou simplesmente passar uma imagem para a filha.

Soohyun não merecia nenhum mal neste mundo, não merecia estar debaixo daquele teto desabando. Jihyo não queria que a filha soubesse o quão suja ela foi ao deixar outra pessoa invadir sua família. Como traiu toda a confiança da família.

— Adivinha quem está lá embaixo esperando você pra uma festa do pijama?

A expressão de felicidade forçada por Jihyo gerou em Soohyun grande expectativa.

— Quem!?

— As titias Jeongie e Momo — ela sussurrou no ouvido da menininha apenas para vê-la comemorando logo em seguida. — Vai no seu quarto buscar suas coisinhas, não esquece do uniforme da escola porque você tem aula amanhã cedo, mocinha.

— Yah, tudo bem, mãe.

Ela saiu saltitando pela casa, provavelmente toparia com uma das mães para falar sobre a novidade. Jihyo tomou mais algum tempo. Fechou os olhos sozinha imaginando sobre o seu passado. Sua Jihyo anterior que um dia entrou por aquela porta querendo carregar ambas as esposas. Jihyo ainda podia ouvir as gargalhadas escandalosas de Sana quando Park tentava erguê-la em seus braços, ou como Tzuyu deixou elas pra trás e entrou sozinha.

Jihyo voltou à sua realidade quando seu olhar cruzou com o de Chou. Não Chou, Minatozaki. Talvez Tzuyu fosse a única esposa que agora merecia ainda ter o nome de Sana.

— Você chegou. Soo vai sair? — ela falou sem muita expressão. Estava com raiva.

Jihyo conhecia bem todas as expressões de Tzuyu. Quando estava afim de alguém, dava sinais usando músicas. Foi assim que pediu ela e Sana em casamento. Quando estava feliz, gostava de ficar pertinho das esposas e da filha, ria pro nada. Se estava triste, aquele era o momento de deixá-la sozinha porque precisava de algum tempo para se recuperar. Agora, quando estava com raiva, Tzuyu tinha aquele olhar. Parecia desdém, parecia procurar um mísero detalhe que a fizesse querer perdoar Jihyo.

Não havia perdão, Jihyo pensava.

— Sim, mamãe! Pode deixar. — Soohyun vinha agora no colo de Sana. Ela viu Jihyo, mas fingiu que não. Deu um beijinho na ponta do nariz da filha ao passar por Park.

— Certo, então pegue o elevador e desça somente no térreo, pode fazer isso?

— Manhê, eu tenho sete anos, sou grande já. Fora que vivo indo lá na tia Mittang no terceiro andar.

— Minha menininha. — Sana afagou os cabelos da filha e a colocou no chão de frente para a porta. Soohyun segurou a mochila animada por passar um dia divertido com Momo e Jeongyeon. Seus olhinhos brilharam para as mães, mesmo que entre elas houvessem gigantescas rachaduras.

— Tchau, mamães. Amanhã eu vou voltar, tá bom?

— Tudo bem, meu amor. Se divirta.

— Não esqueça da bombinha antes de dormir, filha! — Tzuyu complementou Jihyo.

— Tchau, bebê, até amanhã. — Sana se despediu, ficando na porta para vigiar o elevador até que as portas se fechassem.

E aquele foi o momento de enfrentar a realidade. O porquê das roupas de Jihyo ter cheiro de gente bêbada, o porquê dela estar com aquela cara. O porquê de não se parecer com o amor de suas vidas mais.

— Você vai dizer algo ou só vai ficar aí? — Sana perguntou, indo direto para a sala de estar. Tzuyu foi junto, e Jihyo se viu obrigada a seguir por lá. Deixou o paletó pendurado perto da porta, mas na verdade queria queimá-lo, bem como aquelas roupas que a deixavam como uma estranha naquela casa.

Sana se sentou em um sofá, Tzuyu no outro. Restou o puff, onde Jihyo aceitou o fardo de seu destino. Havia falhado como um ser humano decente.

Sentindo o olhar de Tzuyu e a vontade de gritar que vinha de Sana, ela pigarreou a garganta, então levantou o olhar para os amores de sua vida.

— Eu não sei o que deu em mim ontem a noite, é só que... tudo anda tão complicado, e eu preciso carregar a nossa família. E não, eu não vejo isso como um fardo, eu só queria dar uma vida melhor pra vocês e pra Soo. — ela respirou fundo e fechou os olhos tentando manter uma postura. Estava prestes a perder, a desmoronar. — Eu não queria ter feito aquilo ontem, eu não queria... Sannie, Tzu, vocês são e sempre serão os amores da minha vida. As únicas pessoas que pra sempre eu vou amar. Se o meu coração bate, é por vocês duas. — ela fungou, as lágrimas chegavam conforme tinha que enfrentar aquilo. Os olhos marejados de Tzuyu, a incredulidade em Sana porque ela simplesmente preferia abraçar a dúvida do que os espinhos da verdade. — Mas eu não posso negar o que eu fiz. Eu fui violenta, eu saí pra beber, um homem chegou em mim e conversamos. Conversamos até nos beijarmos. Dormimos juntos.

Você não fez isso... — Sana negou, colocando a mão sobre a boca quase que suprimindo um grito. — Você não fez isso, Minatozaki Jihyo. Você não pode ter feito.

— Eu não vou pedir desculpas e nem perdão, uma traição é imperdoável. Se quiserem que eu saia de suas vidas, eu farei. Só que eu quero que saibam que está doendo no meu peito como um inferno, eu estou literalmente em um inferno.

— Então por que você entrou aí! — Tzuyu gritou. — Por que você nos colocou nessa situação, Jihyo?! A culpa é toda sua!

— Eu sei. — Jihyo não viu outro jeito de se conter, o choro simplesmente retornou. — Eu sei que eu perdi vocês, e eu sei. Sei que é minha culpa.

Sana se levantou do sofá, engoliu em seco todo choro que poderia haver. Ela olhou séria para Jihyo.

— Vá até o quarto e faça suas malas. Não me interessa pra onde você vai, não me interessa nada sobre você. Apenas suma, Park Jihyo. Vá embora desta casa, agora.


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