TRANSBOY | kth + jjk

01; Aceitação.

Aceitar a si mesmo é um processo difícil, e dependendo da pessoa, pode levar muito tempo para que a pessoa se aceite do jeito que ela é. Quando dizem que não é algo difícil, e que não demora para se aceitar, quando dizem “você deveria aceitar a si mesmo” como se fosse algo fácil, estão claramente mentindo, porque não é assim que as coisas costumam funcionar. É um processo complicado, que pode desencadear diversos problemas psicológicos, e é horrível, mas no final, quando você finalmente se aceita, é incrível.

Mesmo com uma caralhada de problemas, tais como: ansiedade, depressão, ataque de pânico e entre outros… Depois que conseguimos a auto-aceitação e passamos a aceitar quem nós somos, do nosso jeitinho, é muito bom, é uma sensação incrível e que todos deveriam ter (aqueles que não se aceitam). Demorou muito tempo até que eu realmente me aceitasse, mesmo sabendo que aquele não era o corpo ideal, que um garoto deveria ter, que a minha aparência era “feminina” demais para um garoto.

Nunca existiu algo que fosse muito feminino ou muito masculino. Roupas, acessórios, sapatos, nada disso tinha um gênero definido, e era extremamente ridículo você dizer qual roupa as meninas deveriam usar e qual os meninos deveriam usar. Eu demorei muito tempo para perceber o quão errado aquilo era, definir o que uma pessoa era apenas pelo que ela usava. Eu cresci em uma família preconceituosa, pessoas que julgavam as outras pelo que elas vestiam ou faziam.

—— Mãe… Pai… Eu preciso conversar com vocês. — quase meu corpo inteiro estava tremendo, e eu sentia que poderia ter uma síncope a qualquer momento. Estava tão nervoso, nem sabia o que iria dizer, e o medo de como eles iriam reagir me consumia cada vez mais. Meu irmão que estava mexendo em seu celular, no sofá, até o deixou de lado para prestar atenção na conversa. — Ultimamente, eu tenho pensado em muitas coisas e feito muitas descobertas. E já tem um tempo, que eu venho pensando nisso, e… Eu sou um garoto transgênero, eu me identifico como um garoto e peço que vocês me aceitem, porque isso não vai mudar quem eu sou.

Naquele momento, eu quis morrer.

Eles me olharam com uma cara de desgosto tão grande, como se eu fosse a maior decepção da família, e por alguns segundos, comecei a pensar que talvez eu realmente fosse uma decepção. No entanto, não era daquele jeito que eu deveria me sentir, eles tinham que me aceitar de certa forma, porque minha personalidade não iria mudar; talvez meu rosto, minha voz — caso eu tomasse testosterona² —, mas eu continuaria sendo o mesmo.

—— Taeyeon, o que você está falando? Que merda de transgênero é essa? Eu espero que você esteja realmente brincando. —  meu pai falou, enquanto me olhava com nojo. Aquilo já estava começando a me deixar extremamente mal, eu só queria sentar no cantinho do meu quarto e chorar até “derreter”.

—— Não é uma brincadeira! Eu sou um garoto! Meu nome é Kim Taehyung e não Taeyeon! — quase gritei, e o que recebi foi um tapa desferido em meu rosto, da pessoa que eu menos esperava que fosse fazer isso: minha mãe.

—— Vá para o seu quarto agora! Está de castigo! — minha mãe disse no mesmo tom de voz que o meu anteriormente, enquanto me olhava furiosa.

Meus olhos estavam cheios de lágrimas, e minha bochecha ardia devido ao tapa. Coloquei minha mão no local atingido e olhei para o meu irmão, que até o momento não havia falado nada e olhava para toda a cena, chocado.

—— Você me apoia, não é? — perguntei diretamente para ele, ignorando a presença dos nossos pais.

—— Eu… É claro que não! — respondeu, mudando de expressão na mesma hora. — Nunca apoiaria uma pessoa tão nojenta que nem você!

Não respondi nada, apenas fui para o meu quarto, me trancando ali mesmo. Aquelas palavras haviam me machucado demais, e eu não esqueceria tão facilmente, até porque eram pessoas que eu costumava chamar de “família”, no entanto, eles sempre fizeram piadas preconceituosas e eu estive cego esse tempo todo e só percebi agora o quão ruim eram essas piadas, e que ofendiam diversas comunidades.