Lágrimas atrás da barragem

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Prólogo

O grande salão onde as visitas ficavam era um ambiente todo branco e já estava começando a gerar uma enorme irritação em Sarah, ela nem sabia ao certo o motivo, apenas não aguentava mais todas aquelas pessoas a olhando de forma piedosa como se o pior fosse acontecer a qualquer momento, aquele sentimento de fraqueza não combinava com ela e muito menos com seu pai, eles eram lutadores.

Algumas pessoas entravam e saíam seguidas por uma agitação de emergência, com enfermeiros gritando por ajuda, segurando algum prontuário medico enquanto homens do resgate levavam as macas para algum lugar milagroso. Sarah desejava que isso pudesse acontecer com ela, algum milagre que pudesse trazer seu pai de volta a consciência.

"Você sabe o que a espera." – Ela podia ouvir um sussurrar entre as paredes, era como se uma força oculta falasse com ela o tempo todo, talvez o forte estresse a estivesse influenciando afinal.

Suas roupas estavam sujas assim como seu cabelo que agora ela apenas amarrava e tentava esconder, seu tom de castanho claro era quase imperceptível, mas quem se importava com aquilo? Quem iria chamar sua atenção para comer, beber água ou tomar banho corretamente no meio de uma crise? A pessoa que faria isso não podia se comunicar.

Ela nunca gostou desse ambiente hospitalar, aquilo trazia uma carga energética muito pesada, podia até parecer exagerado de sua parte, mas só nos últimos dias ali já havia emagrecido cinco quilos e sua cabeça não parava de doer. Era como se conseguisse absorver os gritos de dor e desespero ao redor, não havia um dia sequer que não se sentisse enjoada.

-Como você está Sarah? – Perguntou a voz de Kate se aproximando com mais um cappuccino pego na cafeteria do hospital.

-Rezando senhora Miller, eu só espero que as coisas sejam resolvidas, essa última semana tem sido muito difícil para mim, mas assim que meu pai ficar bom tudo vai valer a pena, eu só não consigo me conformar que um problema no freio daquele caminhão pudesse gerar todo esse caos. – As palavras de Sarah saíram lentas e bem pensadas, Kate era uma mulher instruída, professora de matemática e muito focada em línguas estrangeiras, ela era esposa de John, o melhor amigo de Jonathan, pai de Sarah e sempre gostou muito da menina, ela não podia ter filhos, o que a fazia desejar estar sempre presente na vida da jovem.

-Eu sei como é difícil passar por momentos assim, principalmente quando não se tem o apoio dos familiares. – Kate se aproximou gentil e colocou suas mãos sobre as mãos de Sarah fazendo a menina lutar contra as lágrimas que ela havia represado durante todo o tempo.

-Não sei se minha família seja um bom exemplo de união senhora Miller, eles sempre foram um quadro na parede da sala, um quadro e nada mais. – Sarah tinha muitos problemas com seus tios, primos e principalmente com sua mãe, no fundo era como se eles não existissem de verdade.

-Eu sei como se sente, mas em um momento como esses devia ao menos avisa-los, eles têm o direito de saber. – Kate deu um beijo na testa da jovem que apertou firme as mãos contra os joelhos, mas uma vez aquela vontade de chorar gritou em sua garganta, mas ela se manteve firme, não podia fraquejar, não ainda.

-Eu vou avisa-los, eu prometo, mas não prometo que irão retornar, não prometo que irão aparecer aqui, não prometo que vão cuidar de mim, ah Kate, eu tenho 17 anos e nunca na minha vida vi meus tios juntos, só sei que meu pai e minha mãe visitaram o tio George uma vez quando eu era bebê, mas fora isso não sei nada. – Sarah sempre escondeu sua frustração em relação aos irmãos do pai, eles foram a luta e conquistaram suas vidas sem se importar com mais ninguém, mas seu pai era um romântico, sempre teve o sonho de ver os irmãos Carter reunidos novamente.

-Você vai fazer a coisa certa querida, e seja lá como for John e eu estaremos ao seu lado. – A mulher deixou um fraco sorriso dançar em seus lábios e saiu para dar um pouco de espaço para Sarah.

No fundo Sarah apenas queria gritar e quebrar toda a recepção, queria por para fora todas aquelas horas de medo e angústia, queria entrar naquelas salas cirúrgicas e gritar o mais alto possível, mais se contentava em jogar o copo descartável com o cappuccino quente no lixo, fazia exatamente uma semana que aquilo tudo acontecia, uma semana que o carro de seu pai havia sido atingido por um caminhão desgovernado e todo o resto ficou pra trás.

-Senhorita Carter? – Disse uma voz séria chamando próxima ao corredor, era uma mulher alta usando branco, tinha os cabelos presos em coque e usava óculos com a armação grossa em preto. -Será que podemos conversar um instante.

-Sim. – A jovem se levantou indo em direção aquela mulher, seus olhos, focados em cada movimento da médica, em cada suspiro, cada passo mais perto era como um salto para outra dimensão e no momento em que ela encarou a verdade perdeu os movimentos das pernas por um segundo. Ela caiu.

Sarah ouvia de forma confusa as coisas que a médica e a senhora Miller falavam para ela, as palavras não faziam o menor sentido naquele momento, o ar lhe faltava nos pulmões, e havia uma enorme necessidade de gritar, de deixar sair todo o ódio, todo o medo, toda a confusão que estava viva em sua alma, ela precisava gritar, mas o destino já havia rido demais dela para se preocupar agora e com um choque de realidade ela entendeu antes de cair na inconsciência seu pai estava morto e ela sozinha.

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