Sarah dormiu praticamente o caminho todo, seu tio tentava ouvir alguma rádio local mais não teve muito sucesso, a interferência era muito grande e resolveu apenas apreciar o caminho, por algumas vezes ela percebeu que ele olhava para ela, só não conseguiu identificar aquele olhar, talvez apenas estivesse buscando traços do irmão, afinal eles não se viam a muito tempo.
Uma coruja passou voando baixo e George fez um movimento rápido para desviar no susto que tomou, a caminhonete deu uma rápida derrapada mais logo voltou ao seu percurso habitual, com isso Sarah desistiu de dormir. Ela pegou seu celular e começou a procurar suas músicas favoritas, nada em sua lista pessoal fazia muito sentido, costumava dizer que era uma pessoa bem eclética, podia ir tanto em um show de Rock como em um show de músicas clássicas, aliás, amava o som de violinos, tinha um grande desejo de aprender a tocar mais nunca foi dedicada o suficiente, lembrou-se da vez que obrigou seu pai a pagar uma matricula em uma escola de música para ela no ano passado mais não foi capaz de seguir, apesar de jurar de pé junto que seu professor, um francês chamado Cloud, era responsável por seu abandono nas aulas, na sua opinião ele a odiava e tinha tomado como missão de vida a destruição dela.
Finalmente a caminhonete entrou na pequena cidade a 150Km de Phoenix, Sarah não se impressionou muito com o que viu, até porque os postes de luz não eram capazes de iluminar direito todo o local, mais aparentemente haviam cafés, lanchonetes, uma boate que ela conseguiu ver de relance e alguns grupos de jovens conversando no que parecia um barzinho, ela se animou, ao menos não estaria totalmente no fim do mundo.
-A cidade costuma ser mais animada com o Verão, esse clima meio frio não costuma ser muito bom para os negócios. – Disse George de forma simples enquanto fazia uma manobra rápida para estacionar a caminhonete ao lado de sua casa.
-Ao menos parece bem diversificada, acho que terei muitos lugares para ir nessas férias. – Sarah falou enquanto puxava suas malas com dificuldade, George não fazia o estilo cavalheiro de forma alguma, então resolveu que não esperaria por ele.
-Olha Sarah, eu sei que você está passando por uma situação muito difícil e eu nem estou mencionando a sua perda, eu também estou de luto e sei como é perder alguém. – George começou meio sem jeito com as palavras passando a mão no rosto pela barba por fazer tentando achar uma forma de continuar. -Eu falo principalmente por ter que vir para uma cidade onde não conhece ninguém e muito menos tem contato com a sua família, mas eu juro que vamos tentar sobreviver a esses meses da melhor forma possível. – George parecia estar com a garganta rouca e seca, era provável que não falava assim com alguém a muito tempo e por alguns minutos Sarah sentiu uma grande empatia por ele.
-Obrigada por isso tio, de verdade. – Sarah não estava pronta para falar sobre sentimentos nem nada disso ainda, mas ao menos sentiu que por trás daquele casca grossa havia uma boa pessoa.
A casa era velha mais não chegava ao ponto de demolição, tinha pilares descascados dizendo que precisavam de uma nova mão de tinta, e o jardim na frente da varanda estava tomado por ervas daninhas e peças de carros desmontados, mesmo assim Sarah percebeu que a cor da grama de seu tio era exatamente igual a grama de sua casa em New York, o jardim totalmente morto e em vida, ao lado havia uma oficina com o escrito em vermelho dizendo Carter Cars com os dois Cs entrelaçados com um contorno branco em volta, ali provavelmente era onde seu tio devia trabalhar, tudo era muito simples, provavelmente uma típica casa de homem rústico, nada de muito luxo ou colorido, apenas uma casa de madeira com uma grande varanda com cadeiras cheias de caixas com ferramentas e peças soltas de motor ou algo parecido, Sarah pode ver que em algum momento aquele lugar já viveu seu auge, quando aquela pintura havia sido feita e quando o velho cortador de grama agora encostado no piso da varanda sendo usado como apoio para alguns pneus, trabalhou feliz no belo jardim, mais agora, tudo era tão vazio quanto seu tio.
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Folhas Secas
RomanceSarah viu sua vida mudar depois de uma perda dolorosa, nada, nunca mais, seria como foi um dia. Seu chão foi literalmente tomado e para reaver seus bens depois dos 18 anos teria que conviver alguns meses com uma parte de sua familia que não conhecia...