III

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Quando Nishinoya chega em casa, ele não pretendia bater a porta com tanta força. Ele também não pretendia jogar sua mochila contra a cama com tanta força, mas ele fez de qualquer forma.
Ele se senta na ponta de sua cama e pensa, pensa nas coisas que ele poderia ter feito ou dito para que seus amigos (ou nesse momento, apenas colegas) pensassem que ele era gay.
Não o leve a mal, Nishinoya não era homofóbico, ele não estava nem aí se alguns homens preferiam um pau à uma buceta. Nem aí.
Mas parecia diferente quando isso afetava sua reputação, e mais ainda se afetasse suas chances com as garotas tão lindas de Karasuno.
Porra, merda, caralho.

Seu celular começa a vibrar, com um turbilhão de mensagens vindas de Tanaka, Suga, Hinata e Asahi.
Pelo canto da tela, ele vê as mensagens de Ryuu e Hinata que eram muito semelhantes, com as mesmas intenções. Pedindo desculpas pelo erro, que no fundo, bem no fundo, Nishinoya sabia que não havia sido tão grave.
Talvez o que mais incomodasse fosse a forma que a informação caiu sobre ele e como ele descontou em seus amigos.
Merda, a forma que Hinata olhou pra ele. Ele estava arrependido, ele sabia que ele estava.
Tsukkishima também não pareceu nada feliz da última vez que o encarou. Bom, ele nunca parecia feliz mas Nishinoya preferia pensar que ele também estava arrependido.
E Asahi. Como ele encararia Asahi? Eles contaram à Asahi?  Asahi sabia?

"A maldita porta deve ter dito algo muito ruim para você bate-la assim."

Ele se vira em direção a voz. Sua raiva se dissipando um pouco, enquanto ele vê a figura se aproximar com sua bengala lentamente.

"Oi, vô." Noya diz, sem tanta empolgação. O velho se senta ao seu lado, devagar como uma tartaruga. Uma tartaruga velha. Ele encara seu celular que ainda vibrava com as mensagens. Ele cheirava a barro. Provavelmente tinha vindo direto de seu jardim.

"Não vai ver? Parece ser seus amigos."

Ele também encara seu próprio celular. Tanaka não parava com as mensagens, diferente de Hinata que se contentou em mandar apenas uma, um grande texto. Bem, havia dois tipos de pessoas.

"Não, agora não."

"Porque?"

"Porque brigamos."

Ele evita olhar para seu avô, não sabendo exatamente porque. Ele só não conseguia. Talvez fosse a culpa.
Seu avô era uma pessoa velha, como ele reagiria sabendo que seus amigos achavam que ele era gay? Bom, talvez Nishinoya se surpreendesse. Talvez seu avô reagisse melhor do que ele reagiu.

"Você quer me explicar o porquê? Não sou adivinha."

Então ele apenas despeja.

"Eles acham que eu sou gay." Ele olha para seu avô por um breve segundo, e logo desvia novamente. "Mas eu não sou! Eu não entendo porque eles pensaram isso!" Ele espera uns segundos, antes de seu avô suspirar.
"Toda essa gritaria por isso?" Ele diz. Nishinoya solta um suspiro aliviado que ele não percebia que estava lá, feliz que seu avô não o excomungaria da família. Bom, ele sabia que o velho não faria isso não importa seus ideais, mas sendo sincero, brigar com seu avô poderia doer mais que ser expulso da família.
O mais velho continua. "As vezes, nossos melhores amigos podem ver coisas em nós, que nós mesmos não enxergamos." 

"Não isso!" Noya esbravejou. "Eu não sou gay, eu passei minha vida gostando de mulher! Que merda eu fiz pra que eles pensem que sou gay?" Seu avô encara ele por uns segundos, provavelmente não gostando muito de seu linguajar. Porém, ele não esboça reação.
Nishinoya pensa que ele finalmente vai dizer que concorda com ele e que isso tudo é besteira. Que Noya não tinha nada de gay, que seus amigos estavam errados.
Ou quem sabe,  fosse isso que ele gostaria de ouvir.

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