O sol da manhã derramava sua luz pela sala de aula, onde os alunos se esforçavam para acompanhar a matéria. Sandra, sempre descontraída, esticou-se na cadeira, quase fazendo-a tombar. "E aí, o que acha de Guanabarro?", ela perguntou a Alicia, que estava absorta em seus desenhos.
Isa, a estudiosa do grupo, cutucou o braço de Sandra, chamando sua atenção. "Você deveria focar na aula, Sandra, em vez de pensar em cidades com rios termais. Alicia já está no mundo dos desenhos de novo", brincou Isa, com um olhar irônico.
Sandra reclamou da cobrança, mas a voz da Srta. Pows, a professora, silenciou a sala. Alicia continuava a rabiscar em seu caderno, decorado com a capa de um surfista loiro. "Sandra, gostaria de compartilhar algo mais interessante que Geometria com a turma?" a Srta. Pows perguntou, com um sorriso sarcástico.
Sandra respondeu prontamente, provocando risos na sala, exceto na Srta. Pows, que não pareceu apreciar o comentário. Alicia suspirou, parando de desenhar e ajeitando seus cabelos escuros. "Vocês não conseguem passar despercebidas?" ela murmurou.
O tempo arrastou-se na aula, e finalmente o sinal soou, aliviando as três amigas. Depois de um almoço cheio de risadas e fofocas no refeitório, Alicia decidiu buscar um momento de tranquilidade no banheiro da escola. Com seus fones de ouvido, ela ouviu vozes na cabine ao lado.
"Você ouviu? Aquele garoto problemático foi transferido para cá, em Castro. Duvido que ele dure muito aqui também. Dizem que ele quebrou o nariz de um menino só por olhar para ele", comentou uma voz em tom de mexerico.
"Mas também dizem que ele é super gato", acrescentou a outra voz, fazendo Alicia franzir a testa.
Um som súbito a assustou, e ela bateu o cotovelo no suporte de papel higiênico, soltando um pequeno grito. Ao sair da cabine, deparou-se com duas meninas que a encararam e saíram rebolando de forma exagerada.
Alicia suspirou, segurando um papel amassado, enquanto saía do banheiro. Nos corredores, a caminho de seu armário, pensava no que poderia enfrentar em casa. Aura com queimaduras novamente? Seu olho esquerdo roxo? Ela se sentia presa em um ciclo de punição interminável.
Fez uma careta ao fechar o armário com força, ignorando os olhares curiosos. Determinada a escapar da escola por um tempo, dirigiu-se ao estacionamento. Ao abrir a porta, seus olhos encontraram o garoto problemático saindo de um carro vermelho-sangue. Ele a encarou por um momento, e ela desviou o olhar, seguindo seu próprio caminho.
Após sair da escola, Alicia caminhou pelas ruas familiares do bairro em direção à sua casa. O sol já começava a se pôr, derramando tons alaranjados e rosados no céu. Seus passos eram lentos, um reflexo do turbilhão de emoções que a invadia.
Enquanto seguia o trajeto habitual, não conseguia evitar repassar as palavras que ouvira no banheiro. O jovem problemático transferido para a escola. Quem seria ele? E por que as vozes das garotas pareciam tão animadas e intrigadas ao falar dele? As interrogações a acompanharam durante todo o percurso, como um enigma que ela não conseguia resolver.
Finalmente, Alicia alcançou a fachada modesta de sua casa. As paredes desgastadas e a pintura descascada contavam a história de dificuldades financeiras. Ao abrir a porta, foi recebida por um silêncio desconfortável. Aura, sua irmã mais nova, não estava à vista.
Alicia soltou um suspiro e pendurou sua mochila, dirigindo-se à cozinha. Seu padrasto estava lá, sua expressão sombria atraindo seu olhar. A cozinha, com seus móveis antigos e rachados, parecia testemunha das tensões familiares. — Onde está Aura? — ela perguntou, uma pitada de apreensão em sua voz.
Ele ergueu o olhar, seus olhos cansados encontrando os dela. — Ela saiu — foi a resposta breve e fria que ele deu. A preocupação de Alicia aumentou. Aura tinha um histórico de sair sem dizer para onde estava indo, o que muitas vezes resultava em problemas.
Decidindo não focar nisso naquele momento, Alicia dirigiu-se ao seu quarto. Sentou-se em sua escrivaninha, cercada pelos desenhos que havia espalhado ali. Cada traço era uma forma de escapar da realidade tumultuada que a cercava. Pegou um lápis e começou a adicionar detalhes a um dos desenhos, permitindo que sua mente se perdesse na criatividade.
Enquanto o lápis deslizava pelo papel, sua mente vagou novamente para o jovem encrenqueiro. Uma sensação familiar de déjà vu a percorreu. Seria ele uma ameaça real? Ou seria apenas uma figura passageira que ela já havia cruzado antes? Alicia suspirou, afastando os pensamentos sombrios e mergulhando em sua arte.
Horas depois, o aroma do jantar preencheu a casa, trazendo-a de volta à realidade. Ela desceu para a cozinha, onde sua mãe, Lisa, estava presente, sua expressão carregando a marca da preocupação. A cozinha, com seu balcão desgastado e móveis de madeira envelhecidos, tinha sido palco de inúmeras conversas e momentos em família. — Onde está Aura? — Alicia repetiu sua pergunta, olhando para a mãe.
Lisa suspirou e lançou um olhar cansado na direção de Alicia. — Ela disse que estava indo para casa de uma amiga — respondeu. — Mas já está escuro lá fora, e ela não atende o telefone.
Alicia mordeu o lábio inferior, a ansiedade ressurgindo com força. Ela sabia que precisava agir. Pegou o celular e começou a discar o número da amiga de Aura, mas parou no meio do gesto. Será que estava sendo excessivamente protetora?
Lisa pareceu entender a luta interna da filha e colocou uma mão gentil em seu ombro. — Vá buscá-la, querida — ela disse com ternura. — Melhor garantir que ela esteja segura.
Alicia assentiu, agradecida pelo apoio da mãe. Ela pegou as chaves do carro e saiu às pressas, conduzindo pelas ruas da cidade em busca de sua irmã mais nova. A preocupação a impulsionava, e ela estava determinada a trazer Aura de volta para casa, sã e salva, não importando o que viesse pela frente. A sensação de já ter cruzado com o jovem problemático de alguma forma persistia em sua mente, adicionando um novo mistério à situação.
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Alicia
Viễn tưởng- DROGA, DROGA, DROGA! Cerrou os punhos. O poder vinha incontrolável de suas veias. A dor também. Algo incomum, não era certo pensou. Batidas na porta. Cada vez mais altas. Sua cabeça dói a cada pancada severa e barulhenta. Perde a noção dos sentido...