...enquanto dirigia pelas ruas iluminadas pelos postes de luz, Alicia pensou no garoto encrenqueiro novamente. Uma estranha sensação de familiaridade a envolveu, como se já o tivesse visto antes. Mas como isso seria possível? Ela não conseguia encontrar uma resposta.
Finalmente, avistou Aura cambaleando pela calçada, lágrimas nos olhos e o rosto contorcido de dor. Ela parou o carro abruptamente e correu até sua irmã. Aura estava segurando o braço com clara dificuldade.
— O que aconteceu, Aura? — Alicia exclamou, sua voz cheia de pânico.
Aura soluçou, sua voz fraca. — Eu estava brincando... escorreguei e caí... meu braço dói tanto...
Alicia sentiu o coração apertar ao ver a irmã em tal estado. Ela ajudou Aura a entrar no carro, segurando o braço com cuidado. Dirigiu com urgência para o hospital mais próximo, o medo se instalando em sua mente.
No hospital, enquanto aguardavam ser atendidas, Aura não conseguia esconder o medo que a consumia. As lágrimas em seus olhos não eram apenas de dor física, mas também de receio do padrasto. Ela sabia que ele não reagiria bem a essa situação, temia as consequências de ter quebrado o braço. Alicia tentou acalmar sua irmã, segurando sua mão com firmeza e prometendo que ficaria ao seu lado, não importasse o que acontecesse.
Quando finalmente foram chamadas, Alicia conduziu Aura até o consultório médico. Enquanto o médico examinava o braço de Aura, ela lançou um olhar preocupado para a irmã. Aura desviou os olhos, suas preocupações pendendo entre a dor física e o tormento que a esperava em casa.
Depois de confirmar a fratura, o médico instruiu sobre o tratamento e recomendou que Aura passasse a noite no hospital para ser monitorada. O coração de Aura afundou ainda mais. Ela sabia que isso significava enfrentar o padrasto enfurecido quando voltasse para casa.
Alicia percebeu o medo nos olhos de Aura e apertou sua mão suavemente. Ela estava determinada a proteger sua irmã, não importava o quão difícil fosse. Enquanto esperavam por uma vaga no quarto, Alicia manteve Aura próxima, oferecendo-lhe conforto através de pequenos gestos de carinho e palavras tranquilizadoras.
No fundo, Alicia sentia a mesma apreensão que Aura. Ela sabia que, ao retornarem para casa, teriam que enfrentar a fúria do padrasto. No entanto, ela também sabia que tinha que ser forte por Aura, ser o apoio que ela precisava. Juntas, elas enfrentariam o desafio que tinha pela frente, unidas pelo vínculo inquebrável entre irmãs. O que elas ainda não sabiam era que a verdade sobre o incidente que levou ao braço quebrado de Aura seria ainda mais dolorosa e chocante do que podiam imaginar.
Após um tempo de espera angustiante, Aura finalmente conseguiu adormecer no quarto do hospital. Alicia observava a irmã dormindo, sentindo-se dividida entre o alívio de vê-la descansando e a preocupação constante que a atormentava. O silêncio do quarto era interrompido apenas pelo suave zumbido dos aparelhos médicos, criando um ambiente de tensão que refletia o turbilhão de emoções que Alicia estava vivenciando.
Enquanto esperava, um médico de meia-idade, com olhos experientes e compassivos, se aproximou de Alicia. Ele a convidou a acompanhá-lo a uma sala mais reservada. O coração dela começou a bater mais rápido, e o frio percorreu sua espinha enquanto seguia o médico pelos corredores do hospital. A sala era pequena e iluminada por uma luz suave, criando uma atmosfera de confidencialidade e calma.
O médico se sentou à sua frente, suas mãos descansando sobre a mesa de maneira reconfortante. Ele suspirou antes de falar, escolhendo suas palavras com a delicadeza de alguém que tinha lidado com muitas situações complexas. — Alicia, há algo que eu gostaria de discutir com você sobre o caso da sua irmã. — Sua voz era calma e gentil, mas carregava uma seriedade que fez o estômago de Alicia se contorcer.
— O que aconteceu, doutor? — Alicia perguntou, seus olhos fixos no médico, esperando por uma resposta.
O médico suspirou novamente antes de continuar. — A lesão no braço de Aura não parece ser resultado de uma simples queda. — Ele fez uma pausa, avaliando a reação de Alicia. — As características da lesão sugerem que pode ter sido causada por uma agressão.
As palavras ecoaram nos ouvidos de Alicia, fazendo seu coração acelerar ainda mais. A palavra "agressão" reverberou em sua mente como um eco assustador. Ela sentiu um nó se formando em sua garganta, dificultando a respiração.
O médico prosseguiu com cautela, percebendo a angústia nos olhos de Alicia. — Alicia, estou aqui para ajudar e garantir que Aura esteja segura. Se houver algo que você queira compartilhar, alguma informação que possa nos ajudar a entender melhor o que aconteceu, seria valioso.
Alicia engoliu em seco, sentindo a pressão em seus ombros aumentar. Ela podia sentir o peso da responsabilidade sobre suas costas, a necessidade de proteger Aura a impulsionando. Fechando os olhos por um momento, ela revirou as lembranças que guardava, enfrentando a dura realidade que tinha mantido enterrada por tanto tempo.
Com a voz trêmula, ela começou a compartilhar o que sabia. Sua voz se misturava com a do médico, criando uma narrativa carregada de emoção. Ela descreveu as questões sombrias que assolavam sua família há anos. Ela contou sobre o padrasto: um homem agressivo, viciado em álcool, que frequentemente descarregava sua raiva na mãe de Alicia. Ela falou sobre o medo constante que pairava sobre a casa, as noites repletas de gritos e confrontos que haviam se tornado uma triste rotina.
Ela também admitiu que, embora ele nunca tivesse atingido Aura até aquele momento, estava ciente de que a ameaça sempre esteve presente. O silêncio da sala foi preenchido pelas palavras de Alicia, e o peso que ela carregava parecia diminuir levemente ao compartilhar essa verdade.
O médico ouviu atentamente, fazendo anotações ocasionais e mantendo seu olhar compassivo fixo em Alicia. Sua expressão era de compreensão e preocupação, sua empatia evidente. Quando Alicia terminou de falar, ele assentiu com compaixão. — Obrigado por compartilhar isso conosco, Alicia. Vamos cuidar de Aura e garantir que ela esteja segura.
Enquanto saía da sala do médico, Alicia sentiu um misto de alívio e ansiedade. A verdade estava emergindo, e ela sabia que teriam muitos desafios pela frente. O padrasto, que ela sempre temera, era uma figura mais sombria do que jamais imaginara. Um homem agressivo, viciado em álcool, que descarregava sua raiva na mãe de Alicia. Agora, Alicia se via enfrentando a dura realidade de que ele poderia ser capaz de direcionar sua fúria para Aura.
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Alicia
Fantasy- DROGA, DROGA, DROGA! Cerrou os punhos. O poder vinha incontrolável de suas veias. A dor também. Algo incomum, não era certo pensou. Batidas na porta. Cada vez mais altas. Sua cabeça dói a cada pancada severa e barulhenta. Perde a noção dos sentido...