O coração de Alicia batia com violência, como se estivesse lutando para escapar de seu peito enquanto ela finalmente voltava para casa. A tensão a envolvia como uma garra gelada, um presságio sombrio que pairava sobre sua mente e fazia seu estômago revirar. Ela sabia o que a esperava ao atravessar aquela porta de madeira velha e desgastada. O padrasto estaria lá, provavelmente bêbado e pronto para descarregar sua raiva em quem quer que estivesse por perto. Era uma realidade sombria e dolorosa que ela e Aura enfrentavam quase diariamente.
Antes de reunir coragem para girar a maçaneta, ela fechou os olhos por um momento e respirou fundo. A imagem de Aura, de olhos assustados e braço enfaixado no hospital, veio à mente. A lembrança da dor nos olhos de sua irmã, da sensação de impotência, pesava como uma âncora em sua alma. Aura precisava dela agora mais do que nunca, e Alicia estava determinada a protegê-la.
Ao entrar na casa, a atmosfera opressiva a envolveu como um manto de escuridão. A sala estava mergulhada em sombras, parcialmente iluminada por uma luz fraca que mal conseguia atravessar as janelas empoeiradas. O odor amargo do álcool pairava no ar, quase palpável, como um lembrete constante de sua presença tóxica. O padrasto estava lá, com um olhar injetado de raiva, segurando uma garrafa de bebida alcoólica em uma das mãos trêmulas.
As palavras que saíam de sua boca eram um borrão confuso de gritos e insultos, uma cacofonia de violência verbal que atingia os ouvidos de Alicia como agulhas afiadas. Cada palavra era como um soco no estômago, fazendo-a sentir-se frágil e exposta. A cada insulto, a cada ameaça, ela sentia seu poder interior borbulhando, incontrolável e perigoso.
Droga, droga, droga! Ela repetia essa mantra interior como uma prece desesperada. A dor lancinante e a raiva borbulhante pareciam se entrelaçar, alimentando o poder que cresciam dentro dela. Ela cerrou os punhos com força, tentando sufocar a tempestade que ameaçava se libertar.
Seus dedos tremiam involuntariamente, como se ansiassem por liberar o poder que estava se acumulando em suas veias. Cada insulto do padrasto era como um fio que a conectava a uma fonte de energia sombria e desconhecida. As imagens de todas as vezes em que ele machucara sua mãe, Aura e a ela mesma, dançavam diante de seus olhos, alimentando o turbilhão de emoções dentro dela.
E então, aconteceu. A explosão foi instantânea, uma manifestação visceral do poder que ela mantivera reprimido por tanto tempo. Uma onda de energia negra e pulsante irrompeu de seu corpo, engolfando tudo em seu caminho. O padrasto foi arremessado para trás, como uma marionete em meio a uma tempestade furiosa.
O impacto foi devastador. O corpo do padrasto colidiu com a mobília, as garrafas de bebida se estilhaçando em uma chuva de vidro e líquido. O som do impacto e da destruição parecia abafado, como se Alicia estivesse distante, testemunhando a cena de um pesadelo.
O silêncio se abateu sobre o ambiente, uma calmaria após a tempestade. Sua respiração estava ofegante, o coração batendo freneticamente em seus ouvidos. O padrasto estava caído no chão, uma poça de sangue se formando ao seu redor, como uma aura sombria que se espalhava lentamente.
Alicia estava paralisada, observando com olhos arregalados enquanto a realidade de suas ações afundava. O horror do que ela fizera, do poder que havia liberado de forma incontrolável, ameaçava sufocá-la. A sala, antes um campo de batalha, agora era um cenário de destruição e caos.
As batidas urgentes na porta trouxeram-na de volta à realidade, como um choque elétrico. Cada batida parecia ressoar dentro de sua cabeça, misturando-se com as palavras amargas do padrasto. "Alicia? O que você fez?" A voz, embora carregada de choque, também trazia uma pitada de medo, uma incerteza sobre o que aguardava do outro lado da porta.
A porta se abriu lentamente, revelando o rosto da pessoa diante dela. Era alguém que ela conhecia profundamente, que compartilhava sua luta e seus segredos. Ela olhou nos olhos daquele jovem, o garoto da escola, aquele que tinha uma aura misteriosa e intrigante que atraía seu olhar desde o primeiro dia. Ele a encarava com um misto de empatia e reconhecimento, como se soubesse o que estava acontecendo dentro dela.
As palavras ficaram presas na garganta de Alicia enquanto ela o observava, os olhos se enchendo de lágrimas. Ela sabia que não havia mais como esconder seu poder, que aquela explosão tinha revelado a verdade sobre ela. Ela também sabia que a vida como ela a conhecia estava prestes a mudar de maneira irreversível.
As mãos do garoto se estenderam em um gesto de apoio, como se ele pudesse sentir sua agonia. "Está tudo bem," ele disse gentilmente, sua voz suave e reconfortante. "Vamos dar um jeito nisso juntos. Mas agora, precisamos sair daqui. Você não está segura."
As palavras dele a puxaram de volta à realidade, dissipando o nevoeiro de choque e confusão que a envolvia. Alicia assentiu lentamente, uma mistura de gratidão e vulnerabilidade preenchendo seu coração. Ela deixou que o garoto a conduzisse para longe da casa, deixando para trás o caos e a destruição que ela inadvertidamente causara. Enquanto caminhava ao lado dele, ela sabia que a jornada pela frente seria difícil, cheia de desafios que ela não podia nem imaginar. Mas uma coisa estava clara: ela não estava sozinha.
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Alicia
Fantasy- DROGA, DROGA, DROGA! Cerrou os punhos. O poder vinha incontrolável de suas veias. A dor também. Algo incomum, não era certo pensou. Batidas na porta. Cada vez mais altas. Sua cabeça dói a cada pancada severa e barulhenta. Perde a noção dos sentido...