Felipe
Entro em casa apressado, como tenho feito nos últimos quinze dias sempre que chego do cursinho. Nem acredito que hoje meu pequeno está completando 1 mês de vida. Subo as escadas e vou direto para o meu quarto, ao abrir a porta estranho não encontrar Ariane, ela nunca sai do quarto quando não estou. Dou um beijo meu bebê que dorme tranquilamente em seu berço, e ao largar minha mochila, olho em volta do quarto e vejo um envelope em cima do meu travesseiro. O pego e ao abrir, reconheço a letra de Ariane, então me sento e começo a ler:
"Felipe, estou indo embora, foi um erro aceitar ter esse bebê e vir morar com você. Sou muito nova para casar e ter responsabilidades. Além disso, preciso confessar que nunca nem se quer gostei de você, aceitei ser sua namorada pois era um bom status para mim, já que você era o garoto mais rico da escola, só que seu dinheiro não é suficiente para me manter ao seu lado, sempre detestei tudo com você, seus abraços, seus beijos e o sexo então, era um lixo e não melhorou com o tempo. Esses três anos de namoro foram os piores da minha vida. Só suportei porque você panaca nunca percebeu minhas escapadas, e nem sei como, já que fiquei com todos os caras do colégio, mesmo estando com você. Enfim, esse bebê chorão aconteceu, e eu só não fiz um aborto, porque você estava junto quando eu descobri a gravidez, mas não quero saber dele, não tenho saco para ser mãe. Eu sempre fui apaixonada pelo André, meu vizinho, mas como ele não me dava chance, eu ia levando com você, só que agora ele me ligou e quer namorar, então tchau! Ariane."
Minhas lágrimas molharam o pedaço de papel enquanto eu lia. Nosso namoro sempre foi tranquilo e feliz.
Saio do quarto correndo, procurando por Ariane e por minha mãe, mas só encontro Nana, sentada na cozinha, ela é a minha segunda mãe, era a minha babá, mas hoje já é parte da família.
— O que aconteceu filho? — Ela sorri, mas me olha preocupada. — Por que está chorando?
— Nana, sabe onde Ariane está? E minha mãe, cadê? — Questiono respirando fundo para conseguir falar.
— Sua mãe foi para a empresa com seu pai, e Ariane achei que estava no quarto de vocês...
— Não está, achei isso aqui lá. — Entrego a ela o bilhete, carta, sei lá que raios é isso, mas não espero ela ler. — Olha o Júnior pra mim, vou lá na casa dos pais dela. — Também não espero resposta e saio praticamente correndo.
Enquanto dirijo, vou tentando parar de chorar. Ao chegar na casa dos pais de Ariane, sou recebido na porta pela mãe dela.
— O que faz aqui Felipe? — Ela desvia o olhar, como se estivesse incomodada de eu estar aqui.
— Estou procurando a Ariane, por acaso ela está aqui?
— Não, ela foi embora da cidade com o André, mas disse que deixou uma carta para você, inclusive abrindo mão do bebê, ela não deixou nada?
— Deixou, mas isso não pode ser verdade. — Tento não voltar a chorar, o que faz minha voz sair embargada e eu falhar, sentindo meus olhos arderem e minhas lágrimas molharem novamente o meu rosto.
— É verdade sim. — Sua expressão se torna séria e seu tom de voz duro. — Desculpe rapaz, meu marido mandou eu não me meter nessa história, então o melhor que você tem a fazer, é ir embora e seguir sua vida. — Ela fecha a porta na minha cara e eu fico sem reação. Não sei quanto tempo fico parado na porta da casa dela, só volto a mim quando meu telefone toca e eu só atendo porque é meu pai.
— Felipe, onde você está? — Ele grita.
— Na casa dos pais de Ariane, mas já estou indo embora.
— Você foi com seu carro?
— Sim. — Franzo a testa, estranhando a pergunta.
— Então fique aí, sua carteira ainda é provisória, você não deveria ter dirigido nervoso...
— Como o senhor sabe que — o interrompo, mas até já imagino o que ele vai dizer.
— Nana nos ligou, estamos indo aí te buscar. — Ele desliga e eu junto o resto de dignidade que me sobrou, caminho pelo pequeno quintal, a casa é simples, muito diferente da realidade na qual eu cresci, mas meus pais sempre me ensinaram que dinheiro é bom, mas não é o que importa em uma pessoa, e sim o caráter. Quando entro no meu carro, encosto a cabeça no volante, não consigo me controlar e meu choro se intensifica, mal consigo respirar, meu peito parece que vai explodir
— Mãe... — Levanto a cabeça e abro a porta ao ouvir uma batida no vidro. — Ela me deixou... — Soluço enquanto me jogo nos braços de minha mãe e a sinto me envolver no seu abraço.
— Eu sei meu filho. — Ela me acaricia. — Mas não fica assim, você ainda é muito jovem, tem apenas 18 anos, agora está doendo, parece o fim do mundo, mas isso vai passar, e um dia você será muito feliz, Ariane não te merecia filho. — Ela pondera, meus pais nunca gostaram muito de Ariane, mas por mim, aceitaram nosso namoro e quando ela engravidou, mesmo nos achando muito novos, nos apoiaram e a receberam dentro de nossa casa.
— Não mãe, eu amo, não posso viver sem ela...
— Não só pode, como precisa e vai, já esqueceu do seu filho? — Meu pai diz me fazendo olhá-lo. — Agora vamos para casa, lá conversamos.
— Seu pai tem razão filho, vai, passa para o banco do carona que eu dirijo.
Apenas suspiro e faço o que minha mãe falou, sei que eles só querem o meu bem, meu pai sempre foi assim, nas crises ele deixa as emoções de lado e age apenas com a razão e a praticidade. Enquanto voltamos para casa, vou me acalmando e paro de chorar um pouco, mas minhas lágrimas ainda rolam e mentalmente eu suplico a Deus para que isso seja um pesadelo.
Assim que desço do carro, olho para nossa mansão que me parece muito maior agora, sinto como se Ariane fosse parte de tudo isso, e saber que ela partiu, deixou o lugar com um enorme vazio. Ao entrar na sala, meu bebê está tomando uma mamadeira no colo de Nana.
— Deixa que eu dou para ele, preciso abraçar meu filho. — Pego meu bebê, e enquanto ele mama com os olhinhos atentos em mim, eu começo a pensar no que está acontecendo e em tudo o que aconteceu desde que Ariane ficou grávida. Como eu fui burro! Ela sempre deu indícios de que não queria nada disso, nem amamentar ela quis, eu cego apaixonado que nunca percebi nada.
— Está mais calmo filho? — Minha mãe pega em meu ombro me questionando e só então me dou conta de que eles estão aqui me observando.
— Sim! — Seguro Júnior em pé para que ele arrote. — Vocês têm razão! — Suspiro engolindo meu choro. — Tenho meu filho para criar, vou cuidar dele e de estudar para ser um excelente pediatra como sempre quis.
— Assim é que se fala meu filho! — Meu pai sorri. — Desculpe, Nana leu para nós o conteúdo da carta, precisaremos fazer um exame de DNA em Júnior meu filho...
— Não precisa amor, ele é a cara do nosso filho. — Minha mãe o interrompe e passa a mão por meu rosto secando minhas lágrimas.
— Eu sei, mas precisamos ter o exame, já que ela disse que o traia. Não podemos correr o risco de um dia ela se arrepender e sermos surpreendidos com ela querendo levar o garoto daqui. Precisamos estar preparados para lidar com todas as hipóteses.
— Quando... — Engulo em seco, ao pensar no que ele acabou de dizer. — Podemos fazer pai?
— Amanhã mesmo meu filho.
Concordo e como Júnior arrotou eu subo para colocá-lo no berço. Vou tomar um banho e enquanto a água escorre por meu corpo, eu choro e
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É Possível Nós Dois? (Degustação)
RomanceFelipe, herdeiro de uma prestigiada rede de hotéis, decidiu seguir sua verdadeira paixão: a medicina pediátrica. Após sofrer uma grande decepção amorosa, ele se fecha emocionalmente e esconde suas dores atrás da imagem de um homem mulherengo, dedica...