1 - Helena

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Helena não sabia onde estava.

Quando abriu os olhos, a primeira coisa que viu, foi uma porta. A cor da porta chamou a sua atenção. Azul. Nunca tinha visto uma porta azul. Não dentro de casa. Mexeu-se na cama, fazendo barulho no edredom. Sentiu seu corpo dolorido. No travesseiro ao lado, havia mechas longas de cabelos azuis. Sorriu. Não sabia onde estava, mas sabia o que estava fazendo ali.

Levantou devagar, vestiu a calça e foi à procura do restante de suas roupas. Abriu a porta do quarto e a fechou com um delicado 'clic'. Deparou-se com um corredor longo. Percorreu-o com calma, silenciosamente. Chegou em uma sala ampla, bem organizada, com um sofá imenso no meio. Achou o restante da sua roupa e quando estava vestindo a jaqueta cinza, escutou uma voz masculina.

- Eu vou chamar a polícia. - A voz era autoritária e profunda.

Ela olhou em volta, mas a pouca iluminação não permitiu que ela encontrasse o dono da voz.

- Eu já estou de saída. - Falou baixinho, calmamente.

- Quem é você? -Perguntou a voz, como se não tivesse a ouvido.

- Eu sou amiga da - como era o nome dela mesmo? Não fazia ideia. - da menina de cabelos azuis?

- Ah. - A voz falou, como se tudo fizesse sentido. - É a namorada dela?

- Não, não. - Apressou-se em dizer. - Só amiga mesmo. Estava ajudando-a com uma coisa. Mas agora eu tenho que ir. - Falou, virando-se de frente para a saída.

- Certo. - Um homem saiu do canto escuro. Estava na casa dos cinquenta anos, era alto e atlético.

- Você mora aqui? - Helena perguntou, virando-se para o homem - Você está parecendo mais suspeito do que eu, escondido no escuro. Preciso perguntar, porque minhas digitais estão em toda parte, e se alguma coisa acontecer, é atrás de mim que a polícia virá.

O homem deu dois passos na direção dela. Pareceu achar graça da pergunta.

- Sim, eu moro aqui. - Falou. - Sou o pai da sua amiga de cabelos azuis. E eu não estava escondido, estava levantando para ir trabalhar. Não que eu precise explicar o que estava fazendo na minha própria casa.

- Isso faz sentido. -Virou-se para a saída e abriu a porta com força. O trinco quase saiu na sua mão.

- Está trancada. - Ele disse, enquanto cobria a distância até ela e girava a chave na fechadura. Abriu a porta parcialmente e estendeu a mão em um convite para que ela passasse.

Ela saiu, e não olhou para trás. Enquanto esperava pelo elevador, percebeu que o lugar era elegante, do tipo caro. Seus olhos doeram com a claridade excessiva. Estava cansada. As portas do elevador abriram e ela apertou o botão para o térreo. Saiu para a calçada, o dia estava amanhecendo. A luz ainda estava fraca por trás dos prédios que cercavam a cidade. Viu um carro passando na rua de baixo. Não havia pedestres. Caminhou sem destino por alguns minutos, até encontrar uma padaria aberta. Pediu café, sanduíche e bolo. Estava faminta. Procurou na mochila um remédio para dor de cabeça. Seria bom ter um para dores musculares também, pensou, lembrando da noite passada.

Mastigou seu sanduíche com calma, olhando para o jornal, que passava na tela da Tv. Desviou os olhos para a atendente, que estava encostada do lado de dentro do balcão. Era bonita, apesar do rosto ainda sonolento. Ficou analisando-a por algum tempo, até acabar de comer. Ela estava concentrada no jornal. Helena desconfiou que ela estivesse dormindo de olhos abertos.

Afastou o banco para levantar-se, o que provocou um ruído no local. A atendente saiu do transe e olhou-a sorrindo.

- Quer mais alguma coisa? - Perguntou, com a voz simpática.

Quando eu soube que era vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora