Helena acordou com o barulho da porta do banheiro batendo. Estava suando. Levantou-se e abriu a janela. O sol brilhou forte em seu rosto. Testou a porta do banheiro e viu que estava trancada.
- Anda logo ou eu vou ser obrigada a usar o banheiro da vizinha. - Gritou, dando um tapinha na porta.
Vitória resmungou alguma coisa incompreensível. Helena voltou seus olhos para a cama. Queria deitar de novo, mas não podia. Quando Vitoria saiu ainda descabelada do banheiro, Helena entrou e tomou um banho gelado. Sentindo-se leve, colocou um short jeans, uma blusa de malha fina e foi até o mercado. Comprou ingredientes frescos para o almoço que faria hoje. Ela gostava do ritual de pensar o que cozinharia, o que precisava ser comprado, montar o prato com antecedência em sua cabeça, descartar temperos e substituí-los por outros.
Voltou para casa e encontrou Vitoria batendo nas almofadas do sofá.
- Algum problema? - Perguntou, ainda na porta.
- Problema nenhum. - Respondeu, sem parar com os tapas. - É só que essas almofadas não são muito fofas, não é?
- Existe uma resposta certa para isso? - Helena jogou as chaves no pote de vidro que ficava na estante. Foi para a cozinha e soltou as sacolas sobre a bancada.
- É só que estou achando elas achatadas demais. - Respondeu Vitoria, batendo a almofada no braço do sofá com força.
Helena aproximou-se e a segurou pelas mãos.
- Para com isso, menina! Vai acabar se machucando. - Falou. - Isso tem alguma coisa a ver com a Moyra? - Perguntou. - Se ela tiver menos de sessenta anos, não acho que vá se preocupar com a forma das almofadas.
- Por que teria a ver com ela?- Vitoria disse, corando. - E a propósito, é Monica. Mas você sabe disso.
- Porque você nem sabia que essas almofadas estavam aí até hoje. - Helena disse, levantando as sobrancelhas.
Vitoria abaixou os ombros, em derrota.
- Tem que estar tudo perfeito, não é? Eu falei que sou carente. - Falou, com a voz baixa.
- Não tem que ser nada perfeito. - Helena falou, olhando-a nos olhos. - Ela tem que amar você do jeitinho que você é. - Olhou em volta. - Além disso, minha querida, se você acostumar ela com a casa arrumada, será responsável por essa bagagem pelo resto da vida. E eu não vou te ajudar com isso. - Deu um chute no ar fazendo sua rasteirinha voar longe. - Isso é pra você ver minha determinação. - Apontou para o calçado caído perto da janela. Virou-se e saiu mancando em direção à cozinha.
Começou a descascar a cebola para temperar o molho da lasanha. Estava dançando exageradamente com a faca na mão. Podia ser perigoso, mas ela era ousada. Só tinha uma missão. Mantê-la longe dos olhos.
Terminou de montar a lasanha e ligou o forno. Estava esperando ele aquecer quando a campainha tocou.
- Deixa que eu atendo. - Gritou para Vitoria, que estava no quarto, fazendo só Deus sabia o quê.
Abaixou um pouco a música e caminhou descontraidamente até a porta, descalça. Notou que o calçado que havia jogado antes tinha sumido. Já estava começando a gostar da namorada de Vitoria.
Abriu a porta, pronta para colocar um sorriso simpático no rosto. Estacou no lugar. Era como se estivesse sido arrancada da realidade e levada para outro lugar.
Longos cabelos azuis brilhavam na sua frente. Fechou a boca, como um peixe.
Olhou para os lados, procurando alguma coisa que explicasse aquilo.
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Quando eu soube que era você
DragosteBruna é uma mulher decidida, uma advogada respeitável e é casada com a mulher dos seus sonhos. Ela conseguiu alcançar a vida que tanto queria antes dos trinta anos. Mas ela vê seu mundo virar de ponta cabeça, no momento em que tudo o que pensou ser...