O despertar

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Acordo em uma manhã escura e chuvosa, não tenho vontade nenhuma de levantar e finalmente estou livre de trabalhos,  pego meu celular e vejo inúmeras mensagens de minha mãe mas me sinto cansada para explicar que coisas eu estava resolvendo afinal eu estava colocando minha vida em risco e ter que mentir sobre isso me faz sentir uma pessoa extremamente ruim, principalmente mentir para minha mãe.
Me direciono ao banheiro e sinto que minhas pernas estão super cansadas, abro o registro e deixo a banheira encher até a metade enquanto esquento água para terminar de encher. Em seguida procuro algo para preparar no café da manhã, era um dia perfeito para ficar em casa e aproveitar a chuva na minha varanda completamente cercada de paredes de vidro.

Minha mãe achou que seria bom no local que eu moro ter uma varanda mas ter também proteção e vista para fora caso eu precisasse em alguma ocasião avistar alguma coisa a tempo. Ela mesma pagou para que alguém colocasse essa proteção de vidro.

Volto para banheira e me deito na água mais quente que morna, solto meus cabelos que logo caem sobre meus ombros e mergulham nas águas do banho. Nunca tive paciência para cuidar das ondas que se encontram no meu cabelo, fico pensando o quanto ele é escuro enquanto escovo os fios por fios, termino meu banho me secando e colocando meu vestido branco de mangas extremamente bufantes que é simplesmente o meu modelo de vestido preferido. Gosto de pensar que em outro tempo, em outra vida, eu usava somente vestidos de manga bufantes quando caminhava pelos jardins de algum lugar. Eu simplesmente adorava pensar que existia vidas após vidas!

Já vestida eu preparo um chá e corto uma fatia de torta de amora, me sento a varanda e vejo que o vento está fazendo com que as árvores balance como se estivessem dançando juntas, a chuva estava escorrendo pelos vidros eu paro e olho a pequena "floresta" que cerca a estrada da minha casa apagada pela névoa.

Eu sempre reclamo tanto quando preciso sair as pressas para trabalhar e tenho que andar um bocado até pegar condução mas eu simplesmente amo quando eu estou em casa e não preciso ir tão longe para ficar completamente sozinha, o bosque fica perto daqui. Embora todos morem longe, sempre há bastante pessoas em dia de sol por esse lado fazendo piquenique e festas ao ar livre

Eu entro na sala para poder ligar a TV e vejo que um homem sumiu e quando foi encontrado parecia devorado por uma fera. O nome dele era John, ele era montanhista, todos suspeiravam que ele havia sumido com uma de suas ex namoradas mas ele nunca foi preso por falta de provas. Parece que a vida havia dado a ele algum retorno para o que tivesse feito.

Decido que faria um passeio pela chuva, mas não tão longe dessa vez pois não queria acabar como o senhor John, comido por uma fera.

Caminhando encontrei um rapaz alto com um sobretudo preto por cima de suas roupas também pretas, com muitos anéis em seus dedos, ele estava olhando algumas rosas na chuva parecendo não se incomodar nem com a chuva e muito menos com a minha presença, logo percebi que era o mesmo rapaz da biblioteca que saiu sem falar uma palavra e sem ao menos despedir com um olhar.

Quando ele viu que eu estava paralisada tentando entender o porque ele estava olhando rosas na chuva, ele sorriu e eu novamente enchi minha boca com ar e soltei com muita dificuldade, ele arqueou as sobrancelhas em seguida e rebateu minha reação

- Desculpa, está incomodada com minha presença? Acredito que não tivesse achado que era a única que poderia andar na chuva por aqui..

Eu tomei coragem para se aproximar e rebater o jeito que ele estava falando comigo

- Olhe só! Você ontem estava lá sentado simplesmente atrapalhando o meu trabalho e hoje você está bem aqui atrapalhando a minha caminhada, por acaso você me seguiu?

- Nossa, então agora esse lugar é exclusivamente seu ?
Ele sorriu e colocou as mãos no bolso de seu grande casaco
- Eu me chamo Bernard e é um prazer a conhecer também, a propósito sinto muito se eu incomodei a você e ao seu colega ontem mas não vejo motivos para tanto incômodo comigo

- Desculpa, eu não queria ser grossa, mas acho estranho eu não o conhecer já que eu conheço boa parte de todos nessa cidade, é muito mais estranho agora que você está aqui um pouco perto de onde moro de baixo de uma chuva que espanta qualquer pessoa

Bernard rebate
- Exceto você?

E me tira as letras com somente duas palavras em uma única frase

- Eu sou diferente, por que está olhando essas rosas ? Que sentido faz está aqui parado olhando para essas rosas

Ele sorrir novamente, o sorriso dele faz com que meu coração acelere ao mesmo tempo que é capaz de me intrigar

- Eu amava uma mulher que era apaixonada por todos os tipos de flores mas em especial por rosas

- Bom, é compreensível que seja as preferidas, afinal é graciosa porém tem espinhos e muitos acham que seria perfeita se ela não possuísse tantos espinhos mas afinal existe algo perfeito? Eu nunca encontrei!

Ele parece surpreso com o que falei então rapidamente eu o perguntei se falei alguma coisa de errado, ele simplesmente sorrir mais uma vez e diz que não com a cabeça.

Eu rapidamente tive uma tentativa falha de dar continuidade a conversa em que tínhamos pausado

- Mas diga- me por qual motivo não a ama mais ?

Ele voltou seu olhar para as rosas, senti que ele não expressou mais nenhuma reação, somente perguntou se eu queria sua companhia para que eu não passasse o tempo só, o estranho é que eu não recusei sua proposta mesmo não o conhecendo eu senti confiança em suas palavras.

A chuva se dissipou durante nossos passos em silêncio, decidimos caminhar pela estrada já que a pouco todos souberam do que ocorreu com John na floresta. Ele parou muito rapidamente e fixou os seus olhos sobre mim, noto que seus olhos escuros como o céu nublado no bosque, está profundo
Eu sinto medo, de repente me pergunto o que eu estou fazendo caminhando com um estranho e por que minhas emoções mudaram tão de pressa, me afasto

- Eu preciso voltar para casa, obrigada por me acompanhar, até!

- Tudo bem,perdoe- me por qualquer coisa que eu tenha feito

- Tudo bem, novamente, até !

No caminho só me perguntava por que eu havia sido tão boba em caminhar com um estranho sem sentir nenhum medo ou desconfiança, parecia que de alguma forma minhas emoções foram controladas... Chego e corro para me deitar na cama e fico ali por longas horas, só consigo pensar no seu sorriso e nos seus olhos escuros penetrando em mim, como se ele pudesse vê a mim por dentro. Fico assim até cair no sono e acordar no meio da noite, tento olhar pela janela do quarto para fora esperando por algo que não consigo identificar exatamente o que e o motivo.


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