A Epopeia de Edward Lindracy

Acorda-Acorda.

          Eu acordei, uma luz forte batia em meu rosto, aparentemente causada por uma pessoa, tinha mais duas pessoas na sala, das que eu consegui contar na hora pelo menos, elas conversavam enquanto me encaravam, ainda estava com meus sentidos abalados e recuperando eles, logo não consegui ouvir muita coisa que estavam dizendo, parecia uma sala de interrogatório, minhas mãos também estavam amarradas por cordas, realmente era como se eu tivesse sido capturado...

- O que faremos com ele? Quer dizer...Como sequer é possível ele estar aqui?! - Disse o homem em pé, utilizava uma armadura de metal, parecida com a dos cavaleiros da idade média, com algumas partes das juntas feita de malha provavelmente e um capacete aberto, seus olhos eram verdes como grama e seu cabelo castanho bem curto, só dando pra ver algumas mechas na altura da sobrancelha.

- Ainda estou pensando sobre isso, não é a coisa mais comum para mim também, uma pessoa de outro mundo vindo parar no nosso assim, é algo meio assustador, mas ele parece estar acordando, fique atento! - Disse o outro homem, estava sentado em uma posição como se estivesse pensando no que está vendo, parecia incrédulo, um misto de surpresa e medo em seu rosto, claramente pensando de diversas formas sobre o que estava acontecendo, ele possuía longos cabelos ruivos já meio bagunçados, talvez por conta do cansaço, olheiras pesadas e usava um daqueles óculos pequenos que ficam apoiados no nariz, vestia uma roupa bem diferente, um tipo de manto comprido com símbolos estranhos desenhados. - E então? Vai falar ou teremos que tirar as palavras de sua boca?

- Ein? O que...Onde...Onde eu estou? Quem são vocês? - Já tinha acordado neste momento um pouco mais, assustado e suando frio, se eles não sabiam nada sobre o que estava acontecendo, eu menos ainda.

- Você está numa sala de interrogatório no Vale, a questão aqui é, como você chegou a este mundo? - Perguntou o homem sentado, enquanto o outro apenas observa a situação.

- Eu...Eu nem sei que lugar é este tal de Vale, eu só estava andando com meus amigos na Avenida Amazonas, estávamos voltando da aula para nossas casas, eu só me lembro de um clarão e...Eu acordei aqui! - Eu estava dizendo a verdade, foi como se em um momento eu estivesse com meus amigos e no outro eu era um criminoso.

- Você não se lembra do que aconteceu ontem à noite?

- Na verdade não, eu deveria saber de algo em específico?

No momento que eu terminei minha frase, ele estalou os dedos de sua mão direita, e uma pequena fumaça azul começou a vir na direção de meus olhos, era como se ela mudasse o que eu estava vendo, em um segundo eu vi a sala de interrogatório e no outro já estava numa visão completamente diferente, era como um bosque, uma pessoa passou correndo do meu lado, carregava um tipo de pedra brilhante estranha, parou e olhou para trás aparentemente assustado com o que estava vendo, atrás de mim vinham mais duas pessoas, eram dois adolescentes provavelmente, um alto, quase 2 metros e outro menor, corriam atrás do homem segurando ambos espadas em suas mãos, mas não era deles que o homem tinha medo, era da pessoa que estava me interrogando, ainda atrás dos jovens ele veio, mas não era apenas um dele, eram mais de dez, em alta velocidade cercaram o homem com a pedra, de repente a pedra começou a brilhar, um forte clarão branco, e de repente, no lugar daquele homem com a pedra, estava meu corpo, desacordado com uma fumaça enorme, nessa hora ouvi outro estalo e minha visão voltou ao normal.

- AH, o que...O que é você?! - Quer dizer, ele me fez enxergar algo que eu não devia, foi algo meio assustador e tinham vários dele, afinal, o que realmente é ele?

- Certo delegado, já vi as memórias dele dos últimos dias, ele realmente não sabe de nada, simplesmente veio parar aqui, aparentemente sem motivo algum, mas seria bom mantê-lo sob custódia por mais alguns dias, não sabemos o quanto ele pode oferecer perigo aos cidadãos ou o quanto ele sabe esconder as coisas dentro da própria mente, por enquanto mantenha este humano preso por aqui. - Ele me ignorou completamente, logo após dizer isso se virou e saiu da sala, ao lado dava para ver um vidro que dava para outra sala, onde um dos garotos estava observando, era o menor deles, tinha cabelos ruivos também e dois olhos prateados, possuía uma pele bem clara, o outro homem passou por ele, ele parecia ser pai do garoto, o que talvez explique o susto da situação.

- Você...Não pode me explicar o que está acontecendo aqui? - Perguntei ao homem que seria o delegado.

- O que mais tem para saber? Arvid já te mostrou a situação em que você está, eu não acredito que você seja o culpado, mas sim uma vitima da situação, porém enquanto não soubermos se você é perigoso, teremos que lhe manter preso aqui, sinto muito garoto. - Quando ele terminou de falar isso, veio e colocou um saco na minha cabeça, a partir dai eu só me lembro de ter sido movido de lugar e em algum momento perder minha consciência.

Acordei em um local escuro, bem úmido, dava para sentir o cheiro de água, dava para identificar algumas pequenas coisas na pequena sala onde eu estava, tinha uma goteira no canto direito da parede, formando uma pequena poça d'água no chão. A cama onde eu estava deitado era dura como uma pedra, se bem que, ela realmente parecia ser de pedra, na minha frente também tinha uma porta de metal, uma pessoa bem grande poderia passar por ali facilmente, também tinha um espaço para ver o lado de fora, mas eu não alcançava e estava fechada, fiquei apenas ali observando por um tempo, tentando refletir sobre o que poderia ter acontecido, "como fui parar em um outro lugar de repente?" e "como alguém conseguiu me mostrar uma cena que eu não vi?", eram perguntas que ressoava na minha mente, me perdi nos pensamentos, até ouvir alguns grunhidos pela porta e então um enorme barulho de metal do outro lado da porta, fiquei assustado enquanto encarava a enorme presença dessa porta, quando de repente ela começa a ser aberta, por alguém com metade do tamanho da porta, o pequeno garoto que estava no interrogatório.

- Opa, quer sair daqui? Ou pretende ficar ai para sempre? - Disse o garoto com um sorriso sincero no rosto.

- Você...Está me libertando? - Ok, eu estava realmente bem assustado.

- Claro, não é certo o que meu pai e a polícia estão fazendo com você! Vem rápido! - Ele começou a me chamar para fora da cela, eu sai rápido, do lado de fora nenhum guarda e estávamos a duas salas de distância de onde fui interrogado, estranhamente estava tudo escuro e não tinha absolutamente nem um único guarda.

- Ai Ed, me livrei do último guarda. - Uma voz veio da porta da saída, o outro garoto, bem mais alto, estava com um taco de beisebol em sua mão direita, e observando mais atentamente agora, ele só tem o braço direito, sua manga esquerda comprida fica amarrada onde seria seu outro braço, sua pele é mais escura como a minha, porém acinzentada, possuí cabelos escuros e dois olhos castanhos, pareceu meio assustador vê-lo daquele jeito. - Você deve ser o 'guri' novo, não é? Qual seu nome?

- Ah, meu nome é Rodrigo...Rodrigo Cabral! - Eu disse

- Legal! - Respondeu o grandão. - Eu sou o Noah! Noah Chester! E esse meu amigo é o Edward, um dos Lindracy!

- É um prazer Rodrigo, mas é melhor nós irmos indo! - Disse o Edward.

Nós saímos pelo corredor, o que explicou a ausência de guardas na sala onde estávamos, tinha pelo menos quinze guardas caídos no chão, aparentemente o grandão era muito bom em luta para derrubar tantos soldados apenas com um taco de beisebol. Continuamos andando em direção às grandes portas da saída, com um silêncio quase que desagradável, até então interrompido por Edward.

- Hm, é...Rodrigo? Acho melhor você tentar se manter calmo quando sairmos por aquela porta, você pode acabar se assustando um pouquinho.

- Ahn, por que eu deveria ficar com medo? - Nessa hora, se eu estava sem medo, ele voltou completamente.

- Bom...Acho mais fácil você ver do que eu explicar. - Disse Edward enquanto parávamos de frente com a porta.

Eu abri a porta até então normalmente, realmente, a preocupação dele fazia todo sentido, detrás daquelas duas enormes portas, apenas uma coisa era visível, uma enorme ponte de metros e mais metros, que ia para outro pedaço de terra...no ar! Eu olhei ao redor assustado, estávamos numa espécie de ilha, quando caminhei até a beira, deu para sentir as correntes do ar ao redor, devíamos estar a quilômetros do chão, estávamos acima de uma imensa floresta, em cima do outro pedaço de terra, uma imensa cidade com uma árvore tão grande quanto no centro, além de diversas carruagens flutuando e animais que eu nunca vi em toda minha vida, nessa hora, minha única reação, foi desmaiar.

- Opa! - Disse Edward enquanto segurava meu corpo, que mais parecia de um cadáver do que de alguém vivo. - Bom Noah...Poderia ter sido pior, né? Bem-vindo ao Vale, Rodrigo...