CPM

111 4 108
                                    

Eu encarava meu reflexo no espelho do elevador, enquanto aguardava chegar no 8° andar.

Eu estava estático, apenas observando cada parte de mim. Estava naquele momento analisando quem eu realmente era, e pensando se era assim que todo mundo me via, se era assim que ela me via, e se por isso havia feito aquilo.

No reflexo observava um jovem adulto magrelo e baixo, de pele escura, com cabelos cortado em um estilo militar que ele insistia que ficava bom em si. Ele vestia um terno azul, muito bonito e que tinha custado boa parcela de suas economias dos últimos seis meses. O que mais chamava atenção sem dúvidas eram seus olhos acinzentados, que não exprimiam qualquer sentimento, que não exprimiam nada, e sequer pareciam olhos de uma pessoa viva.

Enquanto encarava aquele jovem, enquanto encarava literalmente a minha face naquele espelho, tudo que eu conseguia pensar era no buquê de girassóis que eu ainda carregava em minha mão esquerda, e nos pequenos pontos vermelhos que deveriam esta caindo no chão do elevador, oriundos do sangue que caia da palma da minha mão direita, enquanto eu cada vez mais forte pressionava minhas unhas contra ela.

Quando finalmente cheguei no andar que eu queria, caminhei de modo automático para o apartamento no fundo do corredor. Ao chegar nele, bati três vezes na porta, como sempre fiz.

Pouco mais de 2 segundo depois, uma garota de 25 anos, mas que com certeza parecia mais velha do que deveria, apareceu na porta. Seu cabelos loiros estavam presos num coque muito mal feito, seus olhos verdes estavam vermelhos, muito vermelhos, e seu rosto demonstrava uma mistura de raiva e preocupação que em nada combinavam com o moletom branco e a calça verde com vários abacaxis estampados que ela vestia.

Ela me encarou profundamente por meio segundo, quando disse:

- Entra.

E eu entrei, do modo mais automático e robótico possível. Quando ela fechou a porta, nos viramos um para o outro, nos encarando, e por fim, ela fez a pior coisa que podia fazer naquele momento.

Ela me abraçou.

E envolto pelo abraço confortável e caloroso da minha melhor amiga, eu me permiti chorar.

Chorar como eu já não fazia a muito tempo.

Essa não é uma história feliz, acho que é algo que devo adiantar desde já. Nessas linhas estão expostas toda a dor que eu tenho sentido durante toda minha vida, é o relato mais fidedigno possível de tudo aquilo que me destruiu, leia por sua conta e risco. Dito isso: Olá, meu nome é Hayden. Hayden Isaac Hernández. E essa é a história de como perdi a pessoa mais importante da minha vida.

Eu chorei durante três horas, ininterruptamente, incapaz de proferir qualquer palavra ou mesmo me mexer. Tudo que eu sentia era dor, uma dor profunda e intensa que quase me cegava. O pouco que eu conseguia ver eram os cabelos loiros de minha amiga Maia, indo de um lado para outro em seu pequeno apartamento. Durante as três horas que se passaram, ela enfaixou minha mão machucada, colocou os girassóis num pequeno vaso de vidro, preparou uma bebida quente para que eu tomasse quando conseguisse, e em alguns momentos, ela simplesmente sentava ao meu lado no sofá bege de sua casa e me abraçava por longos minutos, sem perguntar nada, apenas permitindo que eu sentisse minha dor.

Quando finalmente consegui parar de chorar, eu proferi as únicas palavras que estiveram na minha cabeça pelas últimas cinco horas:

- Eu só não consigo entender o porquê de ela fazer isso.

- Bem - Maia começou dizer de modo tranquilo - Considerando que vocês estão namorando a o quê? Dois anos? E desde o começo eu disse que ela definitivamente, sem a menor sombra de dúvida, não era uma boa pessoa, e que em hipótese alguma, nem por um caralho, ela era a pessoa certa para você, eu acho que eu consigo entender perfeitamente as atitudes delas.

Dependência Onde histórias criam vida. Descubra agora