𝗖𝗮𝗽𝗶́𝘁𝘂𝗹𝗼 3 - Quietude

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(REVISADO)

13 de outubro 1997;

Passo a noite inteira acordada, impossibilitada de dormir por simplesmente medo. Um medo indetectável, não sabia do que temer, mas temia, temia o pior, temia algo que nem sabia que iria acontecer, mas sentia. E aquilo acabaria comigo. Penso em muitas coisas enquanto Peggy Bagman, dormia na cama ao lado, por um momento me pergunto se ela sonha, ou só dorme, se os sonhos que tenho dormindo são normais, se outras pessoas também sonham. Não tenho resposta.

Mesmo de madrugada ouço barulhos no andar de baixo, provavelmente Sirius, inquieto por seu amante machucado. Mas não tenho certeza, tudo aqui parecia novo e distante da minha realidade, como outro mundo. Me agarro ao edredom firmemente, na busca pelo calor, embora ainda não fosse inverno, o frio do outono era forte e rasteiro. Quando o sol finalmente aparece, um alivio ocorre sob meu peito, me sinto aliviada, sem motivo nenhum, mas me sinto bem. Me levanto da cama tentando não fazer barulho. Calço minha pantufa e desço as escadas até a cozinha, pegando um enorme copo de água. Volto ao quarto, pego uma muda de roupas e vou em direção ao banheiro para um banho quente em meio ao enorme frio.

Encho a banheira feita de pedra escura e retiro meu pijama, entrando em contato com a água quente, me cobrindo por inteiro. Demora um pouco até que meu corpo pare de tremer pelo contato imediato ao calor, mas quando para, consigo me levar, tirando as micropartículas do sangue que derramou em mim ontem, não visíveis a olho nu. Me visto rapidamente após sair da água, na tentativa de não ficar gripada.

Ao sair do banheiro, algumas pessoas já estavam acordadas na casa. O quarto dos gêmeos estava aberto, revelando George em cima da cama, ainda adormecido. Fred estava sentado no banquinho a frente da cama do irmão, o observando, deveria doer demais em Fred ver seu irmão naquela situação.

Me aproximo do batente da porta em silencio, me apoiando nela, observando o ruivo me olhar confuso. Sorrio levemente, tentando passar qualquer sentimento de reconforto, mas me sinto incapaz de passar isso a ele, que não esboça nada, somente volta a olhar para o irmão. Após longos minutos de silencio, ele se levanta, olha para meu rosto e me espanto com tamanha altura, mas continuo cabeça alta. E sai do quarto.

Ando até o lado de George, olhando a mesinha de canto dele, cheia de frascos, provavelmente providenciados por sua mãe, olho para ele, apagado, mas quando desvio o olhar ele abre seus olhos, revelando estar acordado. Solto um suspiro de alivio.

-Ele já foi? -perguntou George e me sinto confusa.

-Já. -Digo a respeito de seu irmão. -Estava acordado esse tempo todo. -Não é uma pergunta, sei que estava acordado.

-Sim, escapando das perguntas eufóricas de Fred. -Ele diz sorrindo, e se força a se sentar na cama.

-Como está seu braço? -pergunto e em resposta ele me mostra seu braço, melhor do que na noite anterior.

-Me desculpe sobre meu irmão, ele percebeu que você é real! -disse ele em tom engraçado.

-Real? Como? -pergunto mais confusa ainda. Seu rosto esboçava confusão do mesmo modo que o meu, ele provavelmente pensava que estava sendo irônica.

-Ah, bom, Charles falava muito de você, de como havia encontrado uma amiga, uma garota com os olhos mais confusos que já viu, oblíquos, mas ninguém nunca imaginou que essa guria existisse, sempre pensamos que Charles poderia ser o irmão meio lelé, sabe? -perguntou George sorrindo levemente ainda fraco.

-Eu não sabia...-comecei falando, soltando, como um ultimo suspiro soprado da minha boca. -Quero dizer, ouvi muito de vocês e como um dia Charles queria que os conhecesse, mas não sabia do meu tal papel em sua vida. -Digo sorrindo, nunca havia nem passado em minha cabeça que Charles falava de mim para sua família, aquilo me deixou nervosa.

-A chuva está aumentando. -disse ele, me pergunto a quanto tempo está li, observando a chuva para perceber, estava fisicamente tonto, dopado ainda pelo álcool, me pergunto como era capaz, eu jamais conseguiria.

-Está bem, George? -perguntei por fim, querendo saber, mas do paradeiro do garoto que costurei o braço. Ele respondeu positivamente com sua cabeça, sorrindo levemente de novo. -Vou ver se Molly precisa de alguma ajuda na cozinha, trate de ficar bem. -disse para ele que abaixou a cabeça rapidamente.

-Claro, doutora. -disse ele rindo.

Ando firmemente até a porta, abrindo-a, ouvindo o ranger da idade sufocar meus ouvidos e provavelmente chamar atenção de todos na casa, Fred estava ali, apoiado na parede em frente ao quarto, o olho e desvio rapidamente. Ele segue até a porta, mas sem abri-la.

-Como ele está? -perguntou ele em tom frio, sinto meu corpo gelar e a raiva tomar meu corpo.

-Ele ficará bem, mas pelo pouco que conheço de George ele não aguentará muito tempo em total quietude, ele precisa de repouso e de monitoramento. -Digo tentando voltar ao meu caminho, chegando perto das escadas.

-Ei, obrigada por cuidar do meu irmão, Grindelwald. -disse ele, não olho para trás, não é preciso, ouço o ranger da porta duas vezes, ele abriu e a fechou, entrando no quarto que dividia com o gêmeo, desço as escadas rapidamente, chegando à porta da cozinha.

Molly estava no fogão, e sua comida cheirava muito bem, era como uma deliciosa poção, o cheiro dos temperos salteavam pelo ar, espalhando o delicioso aroma por toda a casa. Me aproximo, o cheiro parecia se intensificar ainda mais. A senhora de cabelos ruivos se vira, me olhando, me oferecendo seu dócil sorriso carinhoso.

-Quer ajuda? -pergunto para a mais velha, que me olha surpresa.

-Sabe cozinhar? -perguntou ela, sorrio, eu sabia, não por conta de casa, minha mãe nem me deixava chegar perto da cozinha, mas a Durmstrang não sabia o que ensinar para uma garota na época, então aprendi culinária ao invés de luta livre.

-Sei, sim, sra. Weasley. -disse para ela que me reprendeu por não a chamar por seu nome, logo depois, me entregando uma colher, me encarregando de mexer o molho que estava fazendo para misturar com o frango que cozinhava deliciosamente no forno. Após o delicioso almoço, todos pareciam sumir da casa.

Andei até o quarto, tudo estava muito calmo, Peggy se encontrava deitada na cama escrevendo demoradamente uma carta, me pergunto para quem seria a tal carta. Jogo meu corpo em cima da cama, fechando os olhos por vastos segundos até puxar o livro que se encontrava na cabeceira da cama, envelhecido, e provavelmente esquecido na biblioteca em meio aos destroços esquecidos da família de Sirius Black. 

O Futuro - Fred WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora