-Senhor Sherlock estou feliz m vê-lo, o que lhe forçou... - A Sra. Lane, fiel serviçal da família Holmes, que conhecia o grande detetive desde que era um garoto de calças curtas, não conseguia esconder o carinho em sua voz ou as lágrimas que brotavam de seus velhos e turvos olhos - ...o que lhe forçou a vir...- Besteira. - Se esquivando, como sempre, de qualquer demonstração de emoção, Sherlock Holmes analisava a carpintaria escura de Ferndell Hall.
-Agradeço qualquer oportunidade que tenha de visitar meu antigo lar.
Vestido com um traje de campo de verão - terno de linho bege, luvas e botas leves de couro de bode, chapéu e caçador - ele deixa aas luvas e o chapéu na mesa da sala de estar, assim como sua bengala, e vai direto aos negócios.
-O telegrama do senhor Lane foi enigmático demais. Me diga, o que há de tão estranho nesse pacote que vocês hesitam em abrir?
Antes que ela pudesse responder, seu marido entrou apressado na sala, o mordomo de cabelos brancos, com um nível de dignidade consideravelmente menor do que lhe é habitual.
-Senhor Sherlock! Que bondade a sua! - e começou a mesma tagarelice novamente. - Um detetive aos meus velhos olhos... tão bondoso de sua parte... o dia está muito quente. Devo presumir, Sir, que deseje sentar lá fora?
E então Sherlock Holmes é educadamente levado para a varanda, onde havia sombra e a brisa aliviava o calor, e a Sra. Lane ofereceu limonada e biscoitos doces, antes que Sherlock Holmes conseguisse voltar a falar de negócios mais uma vez.
-Lane - ele pergunta ao venerável mordomo - O quê exatamente alarmou você e a Sra. Lane nesse pacote que vocês receberam recentemente?
Treinado com maestria por décadas de resolução de problemas domésticos, Lane respondeu metodicamente:
-Em primeiro lugar, senhor Sherlock, foi o jeito que aquilo chegou, no meio da noite, e sem sabermos quem o deixou ali.
Pela primeira vez, aparentando não estar aborrecido, o fantástico detetive se inclinou para a frente em sua cadeira de vime estofada.
-Deixou onde?
-Na porta da cozinha. Nós só a teríamos encontrado pela manhã se não fosse por Reginald.
O collie de pelos desarrumados, que estava deitado ao seu lado, levantou a cabeça ao ouvir seu nome.
-Temos deixado ele dormir dentro de casa - explicou o Sra. Lane, enquanto acomodava seu enorme corpo em outra cadeira. - Pois está com a idade avançada, como nós.
Reginald repousou cabeça novamente e bateu sua cauda peluda contra o chão de tábuas da varanda.
-Suponho que ele tenha latido? - Sherlock Holmes começava a ficar impaciente.
-Ah, ele latiu como um tigre! - a Sra. Lane concordou enfaticamente. -Mas apesar disso acho que não teríamos ouvido se não estivéssemos dormindo no sofá da biblioteca, e peço perdão por isso, senhor Sherlock, mas é porque os degraus são um tormento para meus joelhos.
-Mas eu estava em meu quarto - disse Lane, enfatizando o fato. -E não sabia nada do assunto até que a Sra. Lane me chamou, fazendo tocar o sino.
-Ele estava pulando na porta da cozinha e latindo como um leão!
Presumivelmente a Sra. Lane se referia ao cachorro. Seus comentários excitados faziam um enorme contraste com o cuidadoso relatório do marido, especialmente se levarmos em conta que nem tigres nem leões latem.
-Tive medo de fazer qualquer coisa antes que o senhor Lane descesse.
Sherlock Holmes recostou em sua cadeira com seus traços aquilinos tomando a habitual expressão de desapontamento com a tolice da humanidade.
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O caso do adeus cigano - Os mistérios de Enola Holmes
AdventureEnola descobre que a duquesa Blanchefleur desapareceu. Durante sua initerrupta procura, se depara com uma cigana que possui um colar muito conhecido. Enquanto isso, Sherlock é chamado até a mansão para averiguar um pacote misterioso. E Mycroft zela...