Capítulo 6 - Novidades

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O CLIMA ERA OUTRO EM OHIO E EU CONTINUAVA O MESMO DESDE FORKS.

Meu corpo não estava cansado por dirigir tantas horas seguidas, mas a cabeça ia no sentido contrário. Se não tivesse certeza que estava em uma incessante imortalidade, poderia dizer que as veias estavam pulsando sob a pele de minhas têmporas. O veneno encharcou minha boca evidenciando a sede.

Relaxei o pé do acelerador quando entrei na zona urbana. As luzes das ruas ainda estavam desligadas e as pessoas começavam a voltar para suas residências nas primeiras horas da noite. Essa era a hora dos monstros saírem dos buracos que viviam. Buscando não atrair atenção, mantive o carro na velocidade permitida.

Parado em um dos semáforos no centro da cidade, sangues menos adocicados inundaram minha cabeça. Sentia-me quase tonto. Fui guiado pelo falatório do outro lado da avenida. Um grande grupo de estudantes conversavam aos berros.

Tentei não prestar atenção nos pensamentos aleatórios e alvoroçados. Aos poucos, começaram a atravessar sob a faixa de pedestre. Como se precisasse daquilo, abaixei o vidro da janela e virei o rosto para fora do carro, inconscientemente, procurando o cheiro fresco dela no meio da multidão.

Havia uma combinação de perfumes florais e amadeirados. Gotículas de transpiração brotavam das peles quentes fervidas por sangue. Nada do que eu realmente precisasse. Tinha nada aqui. Uma lufada de carne processada e tomate dominou o ar. Apressadamente, um homem de meia idade que empurrava um carrinho com uma placa vermelha escrito "cachorro-quente", atravessou a pista no sentido contrário. O sangue dele era mais febril.

Antes que o aroma da ferrugem tirasse um pouco mais do autocontrole, fechei a janela e acelerei o sinal verde, deixando para trás o grupo de adolescentes inquietos e o vendedor.

Mesmo sentindo a sede se alastrar a cada centímetro do corpo, o ardor não era como antes. A dor estava ali, mas era praticamente imperceptível. Poucos momentos de verdadeira irritação. Existia algo dentro de mim obstinado em doer com muito mais afinco. Era permanente e eu merecia sentir. Muito ainda seria pouco.

Inspirei profundamente, preenchendo o pulmão e me concentrando no cheiro de Bella, ainda forte em mim. Era tudo que conseguia sentir — lembrando-me da escolha que fiz.

Não existe ninguém igual a ela. Teria que me convencer disso por toda eternidade.

Os montes de areias estavam se desfazendo.

Inúmeras vezes durante a viagem tive certeza que cederia. Desapareceria. Apesar de ser tarde para implorar pela salvação — já estava condenado de todas as formas possíveis —, imaginei que ter o número de quebra de promessas maior que o das realizadas, não ajudaria em nada. Por eles, continuei. Sabia que isso seria importante para Carlisle e Esme. Imaginei que para Alice, Emmett e Jasper também. Rosalie fingiria não notar minha existência como fez desde quando Bella descobriu nosso segredo.

Não era recíproco e me sentia egoísta por isso. Talvez essa fosse minha maior característica, o egoísmo. Egoísta por insistir que ela abdicasse de tanto por minha natureza, por ser irresponsável com a própria vida ao se arriscar em estar ao meu lado, por aceitar um monstro em sua vida. Eu era grotesco por pedir que minha família largasse tudo que construiu nos últimos anos do dia para noite por meus sentimentos miseráveis. Egoísmo puro ao obrigar Alice abandonar a melhor amiga.

Rosalie nunca esteve tão errada. Isso tudo não era apenas por uma "humana". Era por ter permitido que o egoísmo tomasse as rédeas da minha vida desde quando conheci o amor. Bella não tinha culpa de nada. Estava voltando para casa com a intenção de não me sentir um fracasso maior do que provei ser. E não porque queria ficar perto deles. Era arrogante demais por querer ela de volta.

Lua Negra - EPOV de Lua NovaOnde histórias criam vida. Descubra agora