Seis dias antes seu décimo oitavo aniversário, sentado na Poço dos Desejos, a cafeteria de um cassino no coração de Songyong, Jimin pedia sua terceira limonada da noite e espalhava engenhosamente algumas poucas batatas fritas já frias pelo prato de forma a parecer que ainda estava comendo e não apenas ocupando espaço. Era uma da manhã e ele estava sozinho em uma cidade estranha, com sua bolsa de viagem ao lado, um livro de fantasia aberto a sua frente... e sem nenhum lugar para onde ir.
Essa não era a triunfante volta ao lar que ele havia imaginado.
Jimin tremia de frio por causa do ar-condicionado. Seu cabelo estava mais bagunçado que de costume, todo rebelde por causa da umidade, além de emaranhado graças ao tanto que ele tinha andado, suado e se cansado.
Ele precisava de um lugar para ficar, mas não tinha idade para alugar um quarto de hotel sozinho, a cara de novo não ajudava. Nem coragem para acampar ao ar livre. Ele fora a três cemitérios naquele dia, pois, se não conseguisse passar a noite em Songyong, queria pelo menos ver o túmulo dos pais antes de partir. Mas tudo o que conseguira foi ficar queimado de sol e frustrado.
Ao cair da noite, seu entusiasmo havia desaparecido. A convidativa cidade à beira-mar tornara-se uma ruína em néon. Silhuetas escuras infiltravam-se por entre as sombras. As luzes dos cassinos dançavam e piscavam, queimando seus olhos como explosões estelares. O ar úmido grudava em sua pele como um admirador indesejado, e ele foi correndo para dentro do Cassino Dream para se ver livre dele.
E assim acabou indo parar na Poço dos Desejos.
Os cassinos ficavam abertos a noite toda. Ele presumiu que poderia ficar sentado na cafeteria, talvez até dar uma cochilada com a cabeça apoiada na mesa, que ninguém nem se importaria. Mas agora que já estava ali havia três horas, os problemas daquela estratégia começavam a lhe parecer óbvios. Algum frequentador do cassino veria uma garoto "indefeso" parecendo um peixe fora d'água e iria assediá-lo. Ou alguma vovó daquelas viciadas em máquinas caça-níqueis avistaria um "criminoso fugitivo" e chamaria a polícia. Ou ambos.
Jimin geralmente era considerado um alvo fácil, graças a sua aparência inocente: olhos brandos, boca carnuda e rosto de feições suaves que o faziam parecer ingênuo e manipulável, embora não fosse nem um nem outro. Ele mantinha a cabeça baixa para não encorajar a aproximação de nenhum bom samaritano. Ou de pervertidos.
Estava lendo O Lado Mais Sombrio pela enésima vez, mexendo os lábios sem vocalizar as palavras já quase decoradas, quando notou um cara em pé junto a sua mesa. Ele levou a mão à nuca, ficou tentando desembaraçar o cabelo com os dedos, e rezou para que ele fosse embora.
Não deu muito certo.
- Estou ficando entediado de observar você - disse ele. - Você está lendo esse livro aí há horas!
Jimin ergueu as sobrancelhas e viu uma calça jeans rasgada, com frases escritas em tinta preta se torcendo em volta de cada perna como correntes. Um bracelete de couro cobria o pulso pálido, por baixo dezenas de tatuagens, o braço direito dele era repleto delas. No pescoço, um cordão com um pingente de serra elétrica em miniatura
E para completar: o cabelo e até as sobrancelhas dele eram azuis. De um azul cor de bala, um azul de tinta guache. O cabelo do garoto era liso com uma leve ondulação, o comprimento até o ombros, e, para combinar, ele exibia no rosto um sorriso presunçoso. Um piercing atravessava sua sobrancelha direita e suas orelhas possuíam várias argolas.
Tudo nele parecia calculado para afastar as pessoas. Como uma planta guarnecida de espinhos, ou animais cujas cores brilhantes eram sinais de veneno.
Bem, funcionava.
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Amaldiçoado à Meia-Noite • pjm + jjk
FanficVersão Jikook do livro Encanto Mortal de Sarah Cross O passado de Jimin está envolto em segredos, da morte trágica de seus pais às meias verdades de suas madrinhas sobre por que ele não pode voltar à sua cidade natal, Songyong. Atormentado para conh...