Capítulo 1: Ano Bissexto

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"Ari..."
"Ari...el!!!"
"Você não me ouvindo?"
"Ariel!!!!"

Eram 7:30 da manhã, e a essa altura já descobriram meu nome, porque minha mãe fez questão de exclamar com muita clareza.

- Você sabe que dia é hoje?

Levantei de brusco em cima da cama e me vi sentado, com ar de dúvida franzir as sobrancelhas, e balancei a cabeça com tom de negação.

- É o dia do seu aniversário!!!

- "Ah!!!" - meu aniversário... aquela data que acontece não anualmente assim como as Olimpíadas? Sim!!! Eu nasci às 23:50 da noite no dia 29 de fevereiro de 2004. Para uns sorte, para outros azar, só que no meu caso é um pouquinho de cada coisa, por que meus pais fazem esse evento acontecer a cada 4 anos, se um ano não bissexto tem 365 dias, multiplicando por 3, fazem 1'095 dias desde da última vez que eu tive uma festa de aniversário de verdade, é por isso que hoje é um dia tão importante não só para mim, mas para todo mundo.

- Anda logo, tira esse pijama que seus irmãos querem falar com você!

Inicialmente estranhei mas não pude hesitar, coloquei minhas sandálias e abri a janela no mesmo estante, o quarto como sempre está uma bagunça pois não fico sozinho, mas o dia está satisfatoriamente ensolarado, eu moro em Petrolina, então, um clima semiárido vindo do sertão pernambucano, claramente não é uma novidade.
Me arrumei e quando vi já estava no outro cômodo, minha casa não é feita de barro como muitos pensam, mas não é tão grande, dei de cara na cozinha, e de repente, eu vi que todos estavam reunidos ali. Todos que moram comigo no caso, e que eu estou acostumado a ver diariamente; Meus 4 irmãos, minha mãe, e meu pai. - Feliz aniversário!!!! - todos exclamaram como um lindo coral, é como se estivessem ensaiado isso a noite toda, sim... eles são muito harmoniosos.

- Mainha, olha só para ele? Fazendo 12 anos como uma moçinha! Hahaha!!!

Pela piada genérica eu não pude estar surpreso, era Admir, o segundo irmão mais velho vindo em minha direção, parou do meu lado e começou a mexer no meu cabelo encaracolado, mas parecia que estava me batendo.
A terceira irmã mais velha se chama Antônia, é estranho dizer que uma garota de 14 anos reprovou umas 3 vezes antes de completar a fase adulta, talvez ela seja a mais problemática de todos nós. - Parabéns Cretino! - foi o que ela me disse.
"Aliás, você tem 10 reais para me emprestar? tenho algo importante pra fazer."
Sim!!! Ela fez cochicho no meu ouvido, e teve a audácia de me pedir isso no meu dia especial, ela nunca me falou sobre o que fazia com esse dinheiro, e nós somos próximos, mas eu desconfio que esteja envolvida com drogas.
Os outros dois presentes se chamam Ariely de 13, e Arnaldo de 15; e estavam brigando feito gato e sapato perto do armário, quase que derrubam o jogo de copos que meu pai ganhou dos seus amigos da terça. - Parabéns!!! Seu Cabra safado!!! Haha - Sim, esse é meu pai Erivaldo, depois que todos os meus irmãos falaram comigo, ele esperou para me prestigiar, do jeitinho dele, me deu um abraço de urso e me jogou para cima, de repente, eu vi todos fazendo algazarra como a ponta de um arranha-céu de cima pra baixo. Meu pai não era alto, nem baixo, ele era normal! Talvez eu era o único diferente ali, e ainda não sabia disso.
A minha mãe Maria Josefa, estava trazendo um bolo de dois andares nas mãos, e colocou cuidadosamente na mesa em formato redondo assim como o bolo, bem decorado e com um letreiro de 12 feito de açúcar refinado. Devido o fato dos meus avós e tios morarem em outros municípios eles não puderam vir, mas o ambiente familiar parecia reconfortante pra mim, estava quase completo, só faltava o meu irmão mais velho, digo, "O mais velho do mais velho" Ângelo.
Eu não tive notícias dele desde meu último ano bissexto, mas pelos meus cálculos ele deve ter 24 anos agora, Admir me disse que ele se distanciou de todos depois que se mudou pra Recife, não sei bem o motivo mas pareceu banal.

Sky-Blue Nightingale (Rouxinol Azul-celeste) PT-BR Onde histórias criam vida. Descubra agora