— Demoraste muito.
Dou um salto para o chão, em vez de descer as últimas escadas uma a uma. Sinto-me como uma filha adolescente que chega tarde a casa e tem a mãe no escuro da sala a fazer-lhe uma espera para lhe dar um sermão.
E a Francesca até tem razão, demorei mais do que deveria, no entanto haviam demasiados pormenores do plano que tinham de ser discutidos, de forma a garantir que tudo correrá bem. E depois disso, tive mesmo de ir à casa de banho e comprar água.
— Não me lembro de me teres dado um horário de recolher.
Não falo alto, porém a minha voz faz eco pelos túneis do esgoto, sinal de que este está mais calmo do que o habitual. Não se ouvem volks a lutar ou com trocas de ameaças entre si, o que só acontece quando eles saem para se alimentar. Não sei ao certo que hora é, mas ao voltar já senti o tempo um pouco mais fresco, por isso não há dúvida de que foram procurar inocentes para matar.
Mas o facto deles não estarem aqui preocupa-me. Quando terão saído? Quão perto podem ter estado de mim e dos outros enquanto falávamos? Tivemos cuidado para que ninguém nos visse, porém, até que ponto fomos assim tão discretos? E se algum volk me tiver visto? Eles sentem-se atraídos pelos portais, por isso podem perfeitamente ter chegado até mim, mesmo sem me seguir desde que saí daqui...
— O que comeste para demorar tanto? — a sua questão corta o meu raciocínio e faz-me sentir ainda mais irritada. É por causa dela que estou nesta situação. — Uma vaca inteira?
— Desculpa, mãe, mas se calhar vens um pouco tarde para os inquéritos pormenorizados da minha vida, não?
Ela corta o espaço que nos separa em segundos. O seu dedo indicador bate no meu peito e o seu hálito gelado atinge as minhas narinas.
— Não me testes, Rebekah... Se eu descubro que fizeste alguma coisa é o teu Jackzinho quem sofre...
A minha postura arrogante retrai-se, transformando-se em apreensão. Por muito que o comportamento da Francesca me irrite, tenho de me manter focada e não dar nas vistas. Neste momento o foco já não é apenas proteger o Jack, mas também garantir que o plano corre bem. Não posso deitar tudo a perder agora. O plano já está em andamento, só tenho de aguentar mais um pouco.
— Não fiz nada de mal, está bem? Só estive a apanhar um pouco de ar. Precisava de respirar algo que não cheirasse a lixo e porcaria alheia. — a tensão do seu maxilar alivia, porém os seus olhos mantêm-se postos em mim com desconfiança. — Mas tenho algo que te pode interessar. —pouso a garrafa de água que trouxe no chão e pego no telemóvel que se encontrava, até hoje, esquecido no bolso do meu casaco.
— O que estás a fazer com isso? — os olhos da ruiva voltam a faiscar ao verem o telemóvel. — Dá-mo já!
— Podes ficar com ele, se quiseres. Não tenho nada a esconder, muito pelo contrário. Como disse, há algo que te quero mostrar.
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The Guardian - The World We Belong (Livro 3)
ParanormalApós matar o seu primeiro Volk, Rebekah passa por uma fase menos boa. Com ajuda, ela vai superando o trauma e aos poucos começa a voltar a ser Rebekah que sempre fora e está novamente pronta para lutar. Os três meses cedidos pelos membros do Consel...