Capítulo 32

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  Em dezanove, quase vinte, anos de existência devo ter visto neve umas duas ou três vezes

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  Em dezanove, quase vinte, anos de existência devo ter visto neve umas duas ou três vezes. Esta zona do país não é fria o suficiente para tal, no entanto, isso não impede que a erva e as folhas da clareira estejam preenchidas por uma tonalidade esbranquiçada, resultante do tempo fresco que se fez sentir esta noite. 

  Sei que estamos no sítio mencionado pelo senhor Smith devido às fitas da polícia que se encontram espalhadas pela zona, indicando que realmente foram encontrados caçadores mortos por aqui. A forma aparentemente mágica com que a luz incide nas árvores e chega até ao chão, coberto por uma fina camada de manto branco, faz com que a clareira pareça um cenário de filme da Disney com fadas, sendo, porém, esta fantasia cortada pela ideia de terem sido cometidos vários crimes aqui. E mais uns quantos estarem prestes a acontecer.

  Percorremos o caminho de terra, escorregadia devido às folhas molhadas, até encontrar um bom esconderijo. Agachamo-nos junto a arbustos e troncos de árvores caídos, da forma mais silenciosa e discreta possível. É aqui que vamos ficar enquanto esperamos pelo Victor e o seu grupo de guardiões. Eles esperam que atacar de dia surpreenda a Francesca, no entanto não podiam estar mais enganados.

  Tenho consciência de que atrair ambos os grupos para esta armadilha vai culminar num massacre, que muitos guardiões podem morrer quando estão apenas a fazer o seu trabalho. Tenho consciência de que os estou a trair, mas, neste momento, acabar com o plano do Victor é mais importante. Irei dar o meu melhor para proteger o maior número de inocentes possível, claro, mas tenho esperança que assim que eles percebam o verdadeiro lado do Victor, que se voltem para o nosso lado, deixando assim de ser uma luta de volks contra guardiões, mas sim uma luta de guardiões contra volks e Victor. 

  Discretamente, procuro o Cameron e o Thomas com o olhar. Não os encontro, mas sei que eles estão algures por aí, a vigiar tudo. Ou, pelo menos, espero que sim.

  Abraço o meu próprio corpo, na tentativa de me aquecer e fazer com que os meus dentes parem de bater. Nuvens geladas saem da minha boca, enquanto respiro ansiosa com o que está prestes a acontecer. 

— Faz menos barulho! Assim eles vão perceber que estamos aqui. — a Francesca reclama, num sussurro. Obviamente ela e os seus volks estão a lidar bem melhor do que eu com este frio. 

  Encolho-me ainda mais, pressionando a boca contra o tecido quente do braço do meu casaco. A ação não só ajuda a aquecer um pouco a zona, como ajuda a disfarçar o ritmo acelerado com que os meus dentes batem.

  A espera não é tão longa quanto o meu desconforto faz parecer. Quando dou por isso, leves múrmuros começam a soar pela floresta, camuflados pelo som do vento a correr ferozmente por entre as copas das árvores. São os guardiões, que tentam ser o mais silenciosos possível, mas não tão cuidadosos como seriam caso soubessem que os volks não se encontram por aí escondidos a tentar dormitar, mas sim atentos à sua espera. 

The Guardian - The World We Belong (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora