CAPÍTULO ÚNICO - EM UMA OUTRA VIDA

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Pieck Finger não saía da cama há mais de uma semana. Suas pernas estavam cansadas e sem firmeza, e nem as muletas estavam ajudando. Na verdade, elas até ajudavam um pouquinho, mas Pieck tinha se cansado delas e optava por ficar mais tempo na cama.

Algumas vezes, ela saia pra buscar o que comer, mas era quando escurecia e todos da casa já estavam dormindo porque assim não a veriam engatinhando até a despensa. Ela tinha se acostumado à forma do titã quadrúpede por tempo demais e ainda tentava se adaptar às suas pernas humanas. Mas estava tentando - e estava cansando.

O brilho da lua se destacava entre a escuridão da noite que começava a surgir pela fresta da janela do quarto ao mesmo tempo que os passos pesados ecoavam no chão de madeira do outro lado da porta.

Pieck respirou fundo.

Tinha de esperar aqueles passos cessarem para sair da cama e ir atrás da comida, eles nunca demoravam muito, mas depender deles era um tanto frustrante. Ela não sabia quem andava tantas vezes na frente da sua porta por vários momentos do dia e nunca batia para entrar e vê-la. Era tão simples...não era?!

Pieck se ergueu com a ajuda dos cotovelos e encarou as muletas encostadas na pequena cômoda de madeira ao lado. Como sempre, não faria uso delas. Os passos deviam estar chegando ao fim, quem quer que fosse já devia ter se cansado. Ela se apoiou no colchão e se preparou para sair da cama, mas acabou enroscando o pé numa das cobertas e caiu no chão fazendo o barulho da queda ecoar pelo quarto junto do seu resmungo de dor.

Uma das pernas de Pieck continuou erguida, presa na coberta sobre o colchão e ela apenas não bateu a cara no chão de madeira porque foi rápida o suficiente para se apoiar nos cotovelos.

— Que inferno...— murmurou ela com mais preguiça de levantar do que chateação pelo tombo.

A porta do quarto foi aberta bruscamente com um rangido alto e Pieck virou a cabeça apenas para ver Porco Galliard apertando a maçaneta e a encarando com os olhos arregalados. Ele usava suas roupas de sempre; calça de combate, botas pretas, uma blusa cinza e a jaqueta verde escura por cima com a braçadeira eldiana.

— Boa noite, Pokko.— disse Pieck dando um sorriso preguiçoso.

Ele piscou os olhos algumas vezes e quando abriu a boca para perguntar o que diabos ela estava fazendo no chão, Pieck desenroscou a perna da coberta e deixou que ela tombasse no chão junto com a outra. Galliard quase deu um grito.

— Pieck?!— ele continuou com os olhos arregalados e deu um passo na direção dela, mas Pieck apenas murmurou alguma coisa sem sentido e se virou, deitando as costas no chão. Galliard percebeu que ela não usava a jaqueta clara e a braçadeira vermelha, apenas a blusa branca e a saia longa e escura.— O-o que...você tá fazendo aí?

— Cansei de dormir na cama. O chão é mais confortável.— Pieck respondeu apenas para ver a reação de Galliard.

Ele franziu a testa e alternou o olhar entre o chão e a cama desarrumada que ela estava antes. Sabia que ela era um tanto...estranha. Quer dizer, estranha não; peculiar. Diferente dele e de Reiner, até mesmo de Zeke, Pieck tinha passado tempo demais na forma do titã quadrúpede e era visível que estava tendo problemas com as duas pernas. Porco pensava em ajudá-la quase o tempo todo, mas não sabia como, e Pieck ter ficado enclausurada no quarto por uma semana a deixou distante.

— É você que fica andando na frente da minha porta quase todo dia, Pokko?— perguntou Pieck quando o silêncio de Galliard a deixou com sono.

— N-não...eu só, por acaso...apenas hoje, passei por ali e...— ele manteve a testa franzida e alternou o olhar entre as muletas e Pieck ainda no chão.— Sério, o que custa você usar essas muletas?!

EM UMA OUTRA VIDA - Porco e Pieck. Onde histórias criam vida. Descubra agora