Evento Cancelado

||R•M||

Prólogo — Evento Cancelado

Terra Prometida, 22 de Setembro de 2018 — R•H

Se ao menos quietasse a boca... Com certeza poderia evitar esse bolo na garganta e essa dor no peito, não estaria aqui chorando – fechei os olhos ao soltar a fumaça pela boca.

Me sentia o pior dos homens... Ela não merecia. Onde estava com a cabeça no momento em que me entreguei a uma desconhecida, quando coloquei em risco um amor por uma aventura da qual não senti absolutamente nada?!

Como poderia explicar? Como poderia implorar por mais uma chance, quando em seu lugar faria o mesmo?!

Fui idiota o bastante para um vida inteira, fui idiota ao ponto de perder a única coisa que desejei desde que a conheci. Chega a ser ridículo pensar que a trai uma noite antes do felizes para sempre, como pude ser tão idiota para perder a oportunidade da minha vida antes do eu aceito?

— Burro, estupido! — disse alto e então tomei mais um gole do whisky.

Whisky... Quando me tornei o cara que bebe whisky? Isso na verdade não é importante, não dou a mínima para este pequeno e tão medíocre detalhe, a pergunta que não sai de minha cabeça é ainda mais dolorosa que qualquer coisa que ela possa dizer antes de passar por aquela porta.

Como irei viver sem ela? – pensei sentindo a lágrima do arrependimento descer por meu rosto.

Um barulho de salto em atrito com o chão, me fez despertar de meus pensamentos, olhei em direção as escadas e a vi descer degrau por degrau. Meu coração pareceu parar de bater, minha respiração parou e meu corpo travou.

Olhos levemente vermelhos, um vestido curto e vermelho, um salto preto e uma postura que não esperava. Seus olhos se prenderam nos meus, e quando chegou no último degrau me levantei rapidamente e por instinto me dirigi até a escada.

— Marília eu...

— Não quero ouvir — sua voz foi dura. — Juro que não esperava isso de você, teve uma vida toda para deslizar, para errar, e tinha que ser justo hoje? Justo no dia em que eu diria sim?

— Amor, eu...

— Amor... — pude notar o sarcasmo em sua voz, principalmente na risada que soltou pós sussurrar a palavra. — Você ao menos pensou no meu amor antes de me trair? Acho que poderia ter perdoado isso em qualquer outro dia, mas não hoje, não quando você passou a vida toda sendo fiel, para chegar aqui, no dia do nosso casamento e simplesmente deslizar... Não me pede perdão por isso — engoli seco.

— Eu não posso te perder — disse em um sussurro.

— Acredite ou não, Henrique... Você me perdeu.

E então ela passa por mim, descendo o último degrau e sai de casa... Da nossa casa.

Soltei o copo que segurava, observando o mesmo virar pedaços tal como meu coração, a raiva tomou conta de mim e tudo o que poderia fazer era ficar sozinho com ela. Então movido pelo ódio que começava a sentir de mim mesmo, comecei a quebrar e jogar no chão todas as coisas que via pela frente, gritei e chorei.

Senti o vazio me consumir, a passos lentos me aproximei do sofá e sentei nele. Puxei o ar com muita dificuldade, enquanto sentia uma dor aguda preencher meus pulmões e coração.