Brownies

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— Que susto, garoto. — Desligou a televisão por puro reflexo, deixando tudo escuro e tateou o criado-mudo procurando o abajur para acendê-lo logo em seguida. — Pensei que estivesse ido dormir. — Falou dando tapinhas no sofá para que o garoto sentasse ao seu lado, o mesmo entendeu o recado e pulou no móvel, envolvendo os seus bracinhos finos em seu corpo e depositando carinho no ato.

— Mas mãe, a senhora viu que aquele moço da série parece mesmo comigo! — Ele lhe disse olhando por cima com os olhinhos azuis brilhantes, como se sentisse orgulho.

— É... Parece. — Você o respondeu meio sem graça, desviando o olhar para frente, ele não percebeu o seu tom de voz, ainda estava bastante animado com a semelhança. — Mas não se orgulhe disso, ele não é uma pessoa de bem, diferente de você. — Você disse passando a mão em seus cabelos azulados e sedosos.

O garotinho não questionou o porquê, ele sabia que se tratava de um assassino, mas não sabia que se tratava de um assassino real, ele deduzia ser um personagem fictício de uma série policial. Ele se sentiu um pouco representado por ele, embora seja algo estranho a se dizer, ele é uma criança, não se deixaria levar por uma influência dessa, é algo passageiro. No momento ele não se importava se era ou não uma má pessoa, era legal para ele ver que havia mais alguém no mundo parecido com ele, fisicamente claro.

Mas não imaginava o porquê de serem tão parecidos, e não era coincidência.

— Mamãe, eu posso assistir essa série com você? Eu prometo não ficar com medo. — Fez uma voz fofa, se ajustando para ficar de frente para você e juntando as mãos em súplica.

— Não. — O garotinho ficou um pouco triste por conta da negação, então fez um biquinho, contudo não foi o suficiente para que você cedesse ao pedido. — Já passou da hora de dormir, amanhã a mamãe tem um compromisso e preciso acordar cedo.

— Mas a senhora não está de férias? — Você o pegou no colo e levantou-se do sofá, indo em direção ao quarto do garoto.

— Estou sim, mas eu preciso sair urgente amanhã. Me perdoe, Candy. — Fez uma pausa para abrir a porta do quarto. — Mas eu prometo que eu não vou demorar. — Colocou o garoto sentado na cama e se afastou um pouco para encarar o mesmo.

— Tudo bem. — O azulado respondeu e em seguida sorriu docemente, girando em sua cama para deitar-se. — Boa noite, mãe.

— Boa noite, fofinho. — Você se aproximou e depositou um beijo estalado em sua testa e o cobriu até metade do pescoço com o seu lençol estampado com carros. Antes de sair do quarto, apagou a luz e deixou a porta semiaberta para que o pequeno enxergasse a porta quando amanhecesse, já que o quarto era bastante escuro.

Andou até o fim do corredor — dava para o seu quarto — e assim que girou a maçaneta e a forçou para abrir a porta sentou-se na cama, pensando se iria ou não fazer o que estava planejando.

Se o fizesse, poderia se arrepender? Com certeza.

— É melhor não, ele não precisa saber. — Deu de ombros e levantou da cama para olhar a sua escrivaninha escorada na parede, encarou uma das gavetas onde se encontrava coisas antigas e a puxou lentamente para retirar um de seus caderninhos onde haviam composições e cifras. A capa do caderno estava meio rasgada, o papel estava à mostra e as folhas estavam meio amareladas, a caneta que fora usada para eternizar as palavras estavam meio borradas, impossibilitando a leitura direta.

Haviam letras de músicas que nunca sairão do papel e antigas. Em outro caderno estão as mais recentes.

Era comum para Você transformar sentimentos em canções, a maioria dos cantores fazem isso, mas normalmente eles são obrigados a cantar uma determinada música, diferente de Você que teve a sorte de conseguir compor e mostrar ao mundo as suas próprias.

✔| 𝕴𝐍𝐒𝐈𝐃𝐄 𝕺𝐔𝐓 ‹𝟹 sally faceOnde histórias criam vida. Descubra agora