Bolinhos e poções fazem mais que apenas curar.

CAPÍTULO 4

Após ser deixada por ela no quarto, me forcei a me repor.
Fui em direção ao grande salão, odiando o fato de que eu virava a cabeça várias vezes para ver se havia algum dislumbre dela.
Não havia nada. Ela estava jogando um jogo, e nele, eu era a presa indefesa.
Percebendo que não iria encontrá-la, e nem sabendo exatamente oque eu queria mais, entrei no salão.
Algumas pessoas me cumprimentaram. Outras acenaram ou fizeram reverência. Algumas crianças se aglomeraram em meus pés, pedindo para que eu as ensinasse a lutar.
Era engraçado porque nem eu sabia bem como. Lutar com a guarda real é uma coisa. Correr até a torre mais alta e pular, cortando a cabeça da fera era outra.
Mesmo assim, prometi a eles que faria o possível para ajudá-los.
Assim que Tarrant se aproximou, as crianças se despediram, e ficamos ali sozinhos no canto.

"Se acostume com fãs. Você é uma celebridade agora."

"Acho que vou gostar. É claro, apenas se eles deixarem minha imagem fora de estampas ou coisa do tipo."

"Acho que é tarde demais para isso.", ele apontou para uma das bandeiras que continha um desenho meu, majestosamente com o pé em cima da cabeça do jaguadarte.

Me perguntei quando eles tiveram tempo para isso.
Fui tirada dessa pergunta quando bem ali, sendo acompanhada por homens e mulheres, a mulher mais linda da festa havia chegado.
Eu era a campeã, mas não havia dúvidas de que a atenção não estava dirigida para mim. Eu não os culpava por isso.
Mirana estava perfeita da cabeça aos pés. Como sempre, ela vestia um lindo vestido branco, acompanhado pelo oque eu presumi ser suas botinhas branca debaixo daquele tecido volumoso.
Não era muito chamativi para ser vulgar, e nem muito simples para se misturar com os outros.
Eu não conseguia identificar oque eram os detalhes borados em seu vestido, mas sabia que estava digno de uma líder.
Eu devo ter a encarado tempo demais, porque quando voltei a mim, ela estava fazendo o mesmo que eu.
Senti uma pressão involuntária bem abaixo do meu corpo, e abaixei a cabeça com vergonha.

"Você deve manter a cabeça erguida, afinal você é a campeã.", Tarrant disse animadamente.

Dei um sorriso meio incerto com o pronunciamento dele. Campeã? Como eu poderia ter vencido se o meu prêmio estava se movimentando pelo baile, dialogando como se não tivesse me provado a pouco tempo.

"Eu estou dolorida, Tarrant."

"Achei que havia dito que a rainha havia te curado."

"Eu achei também."

Eu sabia que ela estava brincando comigo. No entanto, era curioso como os efeitos estavam mudando.
A cada segundo que se passava de mim a espionando, eu me tornava mais determinada.
E quando meu olhar se encontrou ao dela novamente, recebi um leve sorriso e a observei levantar a taça que estava segurando, me desafiando a fazer algo em resposta. Eu tive o suficiente.

"Tarrant", me virei para ele, oferecendo meu sorriso mais encantador.

"Sim?", ele retribuiu o sorriso.

"Você me daria a imensa honra de dançar com essa humilde campeã?"

"Eu...", ele chegou perto de mim para sussurrar o restante, como se fosse algo inapropriado. "Eu achei que a rainha teria a primeira dança".

"Porque me contentar com a rainha se posso ter algo melhor?"

Ele se afastou um pouco e me olhou incrédulo. Minhas palavras escolhidas claramente não foram as melhores, pois era como se pequenas engrenagens na cabeça dele estivessem trabalhando, para entender oque eu estava propondo.
Quando sua análise terminou, o olhar incrédulo se tornou sereno e amoroso.
Ele se curvou e pegou uma das minhas mãos, beijando suavemente.
Assim que nossos olhares se encontraram, senti um leve aperto na barriga, era aquele mesmo que ele me ofereceu tantas vezes antes.
Segurando a minha mão na dele, ele me levou até o centro do salão, não desviando o olhar. As pessoas que estavam ali no meio se afastaram e começaram a murmurar sobre oque estavam vendo.