Capítulo II

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_ Erreh! Kahilo sabe que hoje tem visita, os manos da fazenda vão vi conversar com o Soba, inda tá dormi. Quando falo, a porque mamã fala muito.

Mana Zefa estava a varrer a sala, quando Kadisa, amiga de Kahilo entrou apressada.

_ Mamaué! Wazekele? - Kadisa-

_ Ngazekele kyambote!

_ E Kahilo? - Kadisa-

_ Vai memo lhe acordar minha filha, tua amiga gosta acorda tarde.

Kadisa é como uma filha para Zefa, a filha que ela gostaria que Kahilo fosse. Kadisa acorda cedo para ajudar sua mãe na lavra, faz os deveres de casa, cuida dos seus irmãos, e ainda tem tempo para ajudar Kahilo nos deveres de casa.

_ Kahilo! Kahilo! Kahilo! Kahiloée! Óh Kahilo! Tás memo ouvi.

_ É quê?

_ Wabhiti kyebhi ó usuku?

_ Ngabhiti kyambote.

_ Levanta já, vamo ajudar mamã.

Depois de algum incentivo, Kahilo levantou e foi ajudar sua mãe que estava peneirando a fuba.

_ Mamã?! - Kahilo-

_ Yea! - mana Zefa-

_ Mamã deixa, vo acabar já, pode mbora senta. - Kadisa-

_ Não mana, deixa mbora. Kahilo no tá fazer nada. Sakidila minha filha- mana Zefa-

Kahilo preparou a funjada e o molho de cabidela com a galinha que mana Zefa matou, arrumou a mesa com a ajuda de Kadisa e, em seguida foi se arrumar. Escolheu o seu melhor traje.
Não tardou para que as pessoas começassem a chegar. Primeiro o Soba e o seu primogénito, depois alguns cotas do bairro e no final, os fazendeiros.
Kadisa, mana Zefa e Kahilo foram apresentadas aos três fazendeiros portugueses pelo Soba.
Dentre os fazendeiros estavam, senhor Raul Cunha, Mário Cunha que é o primogénito do senhor Raul, e Pedro Magalhães que é sócio e compadre do senhor Raul. Depois de muita conversa, o Soba os convidou para almoçar. Mário mostrou-se relutante, pois estava num ambiente totalmente novo, com pessoas diferentes das pessoas com quem ele convive, com um prato que lhe é desconhecido.
Kahilo percebeu que o homem branco, de cabelo longo, olhos castanhos, porte atlético, estava desconfortável, decidiu então o convidar a comer outra coisa.

_ Moço, se no ques come funge, te mandioca com ginguba. - Kahilo-

_ Obrigado, mas acho que só preciso apanhar ar. - Mário-

_ Vamu no rio. - Kadisa-

_ Vão, podem ir. - Soba Kidielela-

Antes de irem ao rio, Kadisa correu até sua casa para pegar uma cesta com mangas, cana de açúcar, amendoins torrados, mandioca fresquinha e abacates. Durante a caminhada, Kadisa não parou de cantarolar, já que Kahilo e Mário se mantiveram em silêncio.
Chegaram perto do rio, e sentaram por baixo de uma das enormes árvores aí presentes.

_ Já sei os vossos nomes, sei que são amigas, agora quero saber quantos anos têm. - Mário-

_ 20. - Kahilo-

_ 22. - Kadisa-

_ Eu tenho 21. O que vocês fazem para passar o tempo? Estou aqui a pouco tempo e já estou aborrecido. Dá-me uma manga, se faz favor. - Mário-

_ Costumamos fazer roda de dança, acende figueira para assar batata e milho, cantamos, vás gostar. - Kadisa-

_ O papá disse que vão fica aqui três dia - Kahilo-

_ Pois é, o senhor Soba fez o convite e o meu pai aceitou. Sabem nadar? - Mário-

- sim em uníssono-

_ Vamos dar um mergulho. - Mário-

Mário tirou a roupa, ficou parado esperando que Kahilo e Kadisa fizessem o mesmo, mas elas tinham vergonha.

_ Qual é o vosso problema? É só um mergulho. - Mário-

Kadisa finalmente tirou a roupa, mas Kahilo se recusou a fazer o mesmo. Mário e Kadisa estavam a se divertir tanto no rio que por alguns instantes Kahilo cogitou a possibilidade de se juntar aos dois, mas não teve coragem. Ela sabia que se deixasse o orgulho de lado, Kadisa faria piada dela por isso, apoiou a cabeça na roupa deles e fechou os olhos a fim de tirar uma soneca.
Kadisa estava encantada com o homem em cuecas na sua frente, não conseguia disfarçar.

_ Você tem namorado? - disse Mário enquanto passa a mão atrás da orelha de Kadisa-

_ N-não. - Kadisa-

_ Fica quieta, fecha os olhos e conta até 10. - Mário-

_ 1,2,3...

Mário beijou os seios fartos de Kadisa, passou a mão na sua cintura, desceu até a sua intimidade e a beijou quando chegou ao número 10. Kadisa o empurrou e saiu correndo da água. Sem despertar suspeitas da amiga, pediu as suas roupas, vestiu e pediu para irem embora.
Kahilo entregou as roupas do Mário, vestiu e seguiram caminho. Quando chegaram à aldeia, algumas pessoas se aproximaram para ver Mário de perto e cumprimentar. Kadisa aproveitou a deixa e fugiu envergonhada.

_ Cadê a Kadisa? - Mário-

_ Assim foi na casa dela. - Kahilo-

_ Então vamos embora, estou ansioso para ver o que vocês fazem à noite. Tu és muito bonita, Kahilo. - Mário-

_ Obrigada.

Mário aproveitou que estavam a sós para conversar mais com Kahilo a fim de conhecê-la melhor. Quando chegaram à casa do Soba, mana Zefa disse que os homens todos saíram e que ela estava sozinha.
Não demorou muito para o Sol se pôr, Kadisa foi à casa do Soba para chamar a sua amiga.

_ Kahilo!

_ Zuela!

_ Vamu já, vão comer toda batata assada.

_ Mário vamu.

Os três chegaram ao local onde normalmente os jovens do bairro se encontram para confraternizar. Belita como sempre estava no meio a mostrar o seu gingado, Yano, irmão menor da Kadisa estava a controlar as batatas. Tirando a presença do Mário, era mais um dia como qualquer outro.

_ Belita! - Kahilo-

_ É quê?

_ Vem pra te apresenta. - Kadisa-

_ É o mano que vá faze fazenda?

_ Ele é o filho do dono. Mário, essé Belita mulher do mó irmão mais velho. Tá vê aquele moço que tava toda hora com papá? Yea, essé mulher dele - Kahilo-

_ Mano, prazer.

_ O prazer é todo meu. - Mário-

Depois da apresentação, Belita convenceu Mário a dançar consigo, depois Kahilo e Kadisa se juntaram à roda.
Todos cantavam enquanto Belita, Kahilo, Kadisa e Mário dançavam. Depois de meia hora dançando, Mário retirou-se da roda, fez sinal para Kadisa e os dois foram conversar atrás de uma das casas.

_ Fala. - Kadisa-

_ Desculpa por ter invadido o teu espaço pessoal, eu pensei que também querias. Só queria me distrair um pouco, estava aborrecido... Desculpa. - Mário-

_ Tá bom. - Kadisa-

_ Olha... Eu sei que vai parecer estranho mas, eu acho que estou apaixonado por ti.

_ Uhm!

_ É sério. É a primeira vez que sinto isso por alguém.

_ Kahilo tá me procurar.

_ Vamos nos encontrar amanhã no rio a mesma hora que a gente esteve lá hoje, pode ser?

_ Sim.

Kadisa, Kadisa, por quê? Mal sabes tu o que o futuro te reserva se deixando cair na teia do Mário.






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