-Claro se você aceitar. - Eu continuo olhando para ele esperando uma resposta. – Não passaria por cima duma ordem sua.-Não é isso Amanda, é que ... é sua família sabe?!Como não ser parcial numa situação dessas? - ele diz abrindo uma garrafa d'água, ela sempre esteve lá?
-Seria parcial se fosse minha família Fernando. - Fernando olha como se tivesse falando com uma criança.
-Amanda eu não sei.
-Fernando eu percebo que seja um caso incomum para você, mas é um trabalho muito bom e eu estou disposta a fazer, eu sou editora chefe, estou a altura disso.
-Você assumindo isso estaria enfrentando ler e reler tudo sobre eles, pesquisar, falar com amigos da família que provavelmente te conhecem, ouvir ligações ameaçando você em nome deles, você assumindo isso seria muito provavelmente deserdada. – ele me explica cada consequência detalhadamente, mas minha cabeça só ouve o "você precisa fazer isso" – Amanda isso não é uma coluna sobre moda ou futebol... - seu corpo esta contra mesa, ele esta com as mãos presas, como se esperasse algo, uma resposta negativa
- Eu sei – sorrio como se também tivesse falando com uma criança - é um caso grande e eu quero pegar precisamente por isso e só por isso.
- Eu acredito nisso, mas você e o seu trabalho podem se misturar muito facilmente.
-Eu sou o meu trabalho Fernando, eu estou aqui antes de todos e saio depois de todos, eu sou exemplar, não existe Amanda sem trabalho
- Amanda...- ele tenta dizer algo mais, como se realmente procurasse algo, algo que me faça mudar de ideias
- Amanda Silva Santos.
- O quê? - ele saiu dos pensamentos dele por um momento
- Meu nome é Amanda Silva Santos porque são os dois nomes mais comuns no Brasil, atualmente não sei qual a percentagem, mas há seis anos era bem alta, ninguém notaria meu sobrenome ou se importariam com eles.
Tem uma pausa onde ele digere tudo
- Eu tirei o Persi há seis anos.
- Por isso você não é Persi? - como se a cabeça dele juntasse dois pontos
- Os Persi só usam um sobrenome, os Persi são conhecidos pelo sobrenome, eu não poderia sair da família sem deixar o nome. – um sorriso surge em mim, orgulho – Eu não sou mais uma Persi, eles não fazem parte de quem eu sou
- Você aguentaria? – ele coloca a cabeça entre as mãos como se tivesse desistindo da ideia de me fazer recusar.
- Eu aguento.
- Os RH não vão gostar – ele respira fundo como se conformasse com a ideia - amanhã as sete vamos apurar as coisas, apareça. – Ele está escrevendo alguma coisa no papel. – esse é o meu número pessoal, para este artigo peço que se comunica comigo por aqui.
- Obrigada – já me levanto com o papel na mão.
- Amanda você tem total liberdade de desistir a qualquer altura – ele espera algo.
- Não, não tenho, eu me comprometi. Obrigada, Fernando, amanhã as sete. – dou costas e saio, quando chego a rua e vejo que passou perto de uma hora, Mari está arrumando suas coisas. – Adeus Mari.
- Adeus Amanda
Entrando no carro, percebo como estava cansada, não cansada do dia mas mentalmente, foi como entrar em um furacão sem aviso prévio, não sabendo para onde vou nem o que farei.
Tecnicamente agora sei, ir para casa e saber que amanhã vou estar aqui.
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As Persianas estão Abertas.
RomansaOnde vemos a saída de Amanda da sua família, os negando e negando tudo o que eles são. Amanda se vê encurralada quando percebe que negar eles agora significa enfrenta-los.