ÚNICO

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Eren suspirou aquela noite. Havia sido um dia corrido, mas pelo menos a sua semana de provas havia acabado. Ele era estudante de arquitetura e ia para as aulas na faculdade pela manhã e trabalhava no mercado no turno da noite.

Dedilhava o balcão do caixa com certa ansiedade. O motivo? Era sexta-feira, beirando as dez da noite, o mercado estava vazio, e ele tinha certeza que quando o relógio batesse exatamente 22h aquele homem entraria pelas portas de vidro automáticas.

O nome do baixinho era um grande mistério, mas Eren não era bobo e muito menos lerdo, ele notou bem os olhares bem diretos e bastante sugestivos vindos daqueles olhos estreitos, frios e cinzentos. Na primeira vez achou que aqueles flertes eram frutos da sua imaginação fértil. Na segunda vez o encarou de volta, para ele saber que havia sido notado. Na terceira, ele riu discretamente para si enquanto passava no caixa ao lado.

Coincidência? Com certeza não! Aquele cara estava afim e Eren também estava — e muito. Mas ele nunca havia passado no seu caixa, agora se tinha um motivo específico para isso, Eren já não sabia.

Quando o relógio apontou 22h, a porta automática se abriu, revelando a figura baixa e discreta. Foi inevitável Eren olhar para a face de expressão neutra, vendo o exato momento em que ele virou o rosto para pegar uma cesta próxima ao seu caixa.

Ele não costumava demorar para fazer a sua compra, no máximo quinze minutos, então Eren aguardou que ele aparecesse novamente. Naquele horário o mercado estava praticamente vazio, então conseguia "apreciar" o movimento.

Não demorou para que aquele homem surgisse com a cesta consideravelmente cheia. Eren o viu encarar o outro caixa que ainda estava aberto, mas havia uma pessoa passando suas compras, e pensou que ele passaria suas coisas lá como sempre fazia, mas, para sua surpresa, os olhos felinos olharam diretamente para si e, com passos calmos, o baixinho caminhou até ele e Eren jurou que o momento passou em câmera lenta.

Ok, ele teve que se conter — e muito — para manter o seu profissionalismo e não sorrir de orelha a orelha quando o viu depositar suavemente a cesta em cima do seu balcão.

Puta merda, o perfume dele era fodidamente bom. Daqueles que se estivesse andando na mesma calçada e cruzasse, o cheiro ficaria impregnado no nariz até o outro quarteirão. A aparência era madura, uns trinta anos, talvez? Foda-se, Eren não era do tipo que se importava com isso. Quem dispensava era exército e quem tinha dó era piano, ele simplesmente mandava colocar tudo — e ele tinha certeza que aquele baixinho era pequeno apenas na altura e tinha seus palpites que carregava uma surpresinha ali em baixo.

— Boa noite. — Eren cumprimentou como normalmente fazia, pegando a cesta e passando os muitos produtos de limpeza e alguns poucos alimentos no bipador.

— Boa noite. — a voz rouca enviou arrepios por toda a pele bronzeada e Eren, mais uma vez, teve que conter o seu gay panic; muito embora por dentro os seus divertidamente estivessem entrando em um colapso. Ele também viu o momento em que os olhos felinos pararam no seu crachá e leram o seu nome.

A compra foi passada de forma rápida e foi colocada nas sacolas com a mesma eficiência. Eren finalizou a compra e o valor final apareceu em vermelho no monitor.

— Deu cento e sessenta e nove. — falou, encarando o homem que não parou de olhá-lo um minuto sequer e óbvio que Eren havia notado isso. — Qual a forma de pagamento?

— Cartão, débito. — novamente a voz rouca e baixa soou e Eren engoliu seco enquanto via o homem estender um cartão roxo para ele.

— É aproximação? — pegou o cartão no instante seguinte, lendo o nome então do desconhecido: Levi Ackerman.

— Não. — Levi fez uma pausa e eles se encararam, Eren estava para morrer ali mesmo. — É de enfiar.

O silêncio que se formou em seguida foi incrivelmente tenso e Eren sentiu suas bochechas corarem, que merda era que ele tivesse levado aquela resposta para o duplo sentido, mas foi inevitável.

Levi ergueu a sobrancelha, tentando entender a estática que parou no ar e as bochechas vermelhas que se seguiram do atendente, somente no instante seguinte entendendo que suas suspeitas quando aquele garoto estavam certas: ele era gay e também estava afim. Um sorriso malicioso adornou seus lábios minimamente ao vê-lo pegar a maquininha, inserindo o cartão, estendendo-a para si instantes depois.

— Então pode colocar — Eren falou, sentindo as bochechas corarem mais ainda, mas devolveu o sorriso cafajeste. — a senha, claro.

— E o que mais seria, Eren? — o jeito que Levi pronunciou seu nome fez com que se arrepiasse mais uma vez, os dedos dele foram ágeis em inserir os quatro dígitos.

— Preciso mesmo dizer? — a sobrancelha arqueou enquanto o sorriso ainda estava lá, após a maquininha apontar "transação aprovada", Levi pegou o cartão de volta e Eren retirou a primeira via e o encarou. — Quer a sua via, Levi?

— Não. — Levi fez outra pausa, olhando-o de cima a baixo, vendo-o se virar momentaneamente para o lado. — Mas quero o seu número de celular.

Eren piscou algumas vezes enquanto retirava o recibo de compra, observando Levi pegar as sacolas despreocupadamente. Pegou uma caneta, sendo rápido o bastante para escrever algo no verso e entregar assim que viu que a atenção estava para si novamente.

— Seu recibo. — Eren falou ao estender o papel amarelo. — Boa noite.

— Você é difícil, garoto. — Levi soltou um riso seco ao pegar o papel.

— Talvez. — Eren riu malicioso. — Se fosse fácil demais você não iria querer, não é? — e piscou, vendo Levi arquear uma sobrancelha com a ousadia, se endireitando ao ver uma pessoa se aproximar do seu caixa com outra cesta. — A propósito, olhe no verso. — fez giros invisíveis no ar e apontou para o papel. — Boa noite, Levi.

Levi deu um riso mínimo e saiu, indo até o estacionamento e olhou o recibo de compras, virando para ver se havia algo atrás. Talvez tenha se surpreendido um pouco quando viu um pequeno recado feito a mão com um número de telefone: "Amanhã é meu dia de folga, fica a dica."

Caminhou até o próprio carro convicto de que seu fim de semana seria interessante com a companhia daquele garoto.

É APROXIMAÇÃO? (ERERI - RIREN)Onde histórias criam vida. Descubra agora