Vício

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Passo as mãos pelo rosto e desejo que a tensão vá embora, porque todas as vezes que vejo Adrien meu coração ainda acelera e não consigo deixar de encarar sua boca, assim como ele também faz comigo. Nossa única recaída foi antes do Luka, então isso — definitivamente — não pode mais acontecer.
Há um ano tudo veio abaixo. Nosso relacionamento acabou de uma forma rápida, como um corte limpo e ardente de uma faca em chamas, mas diferente do habitual, o fogo não cicatrizou aquela ferida logo em seguida. Ela continuou ardendo; ainda arde.

Saio da cozinha com mais um pacote de salgadinhos e vejo minhas amigas, que estão em sua sexta rodada de bebidas junto de todos os outros na festa. Minha casa está um perfeito caos e a única pessoa que poderia dar-me uma bronca está no meio da sala dançando a macarena com meus amigos enquanto segura uma garrafa de Vodca: minha, nada normal, mãe.

Enquanto isso, do outro lado da sala, o Couffaine celebra mais uma vitória sobre Kim ao acertar a bolinha de pingue-pongue no copo e pede para que ele vire o shot de tequila, que desaparece quase que instantaneamente das mãos do atleta. Eu e Luka nos olhamos de relance e sorrio tímida, vendo meu namorado pedir um tempo para os amigos e em seguida vir até mim, segurando meu rosto com as duas mãos.

— Gostou do presente? — Sua pergunta me atinge e então lembro da música da noite passada, a qual foi escrita e tocada inteiramente para mim.

— Que garota não iria gostar de ter sua própria música? — indago receosa, recebendo um beijo como resposta.

Minha amigas, apesar de bêbadas, nos olham como crianças, dizendo que nosso relacionamento é fofo e perfeito. Não é verdade, mas Luka apenas me abraça e guia-me entre as pessoas, puxando meu braço e subindo as escadas até o meu quarto.

Encaramo-nos por vários segundos, até o momento em que nos beijamos ainda tímidos, passando a primeira barreira de um namoro recente entre dois adultos nada maduros. Caímos na cama e ele me olha ainda de forma terna, arrumando meu cabelo atrás da orelha e me beijando de novo.

Avançamos entre alguns singelos toques, mas suas mãos nunca passam da minha cintura, então eu o encorajo a continuar. Minha calça finalmente desaparece e eu penso que vamos "aos finalmentes", contudo, apenas eu ganho alguma coisa, sentindo sua língua passear pelo meu prazer. Fecho os olhos e tento garantir uma experiência realmente prazerosa, mas um sussurro fraco chegar em meus ouvidos e a voz de Adrien se faz presente.

Ofego realmente satisfeita, porque o maior motivo para tal ato não são os toques, e sim o sussurro que continuou em minha mente durante todo os movimentos de Luka. Sinto meu fim minutos depois e abro os olhos com a visão de meu namorado, que parece feliz com seu trabalho.

— Merda... — ele sussurra e quebra o clima, pegando seu celular e lendo uma mensagem.

— O que foi?

— A Juleka parece ter feito alguma merda no andar debaixo — Luka me mostra a foto e eu vejo as marcações do nome dele como um pedido de ajuda pelas meninas no grupo. — Desculpa, tenho que ajudar minha irmã.

— Claro, sem problema — digo espantada. — É sua irmã.

Luka sorri e deixa um beijo em minha testa, arrumando seus cabelos longos enquanto abre a porta e me olha uma última vez. Sua presença evapora e eu me afundo nos travesseiros, colocando a calça e olhando para a parede repleta de colagens, dando uma atenção extra para a pintura no canto da janela.

Vou até a parede e olho a tinta guache sobre a folha, passando o indicador. Contudo algo chama minha atenção do lado de fora, na casa vizinha, a mesma casa que a família Agreste mora há mais de dez anos. A luz do celular de Adrien é forte e ele escala até seu quarto entre os suportes de madeira das plantas de sua mãe. Apesar da falta de claridade do meu quarto, durante algum momento de sua escalada, nossos olhares se encontram.

Não diga que somos apenas amigosOnde histórias criam vida. Descubra agora