Pedaços do passado × 2

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Aviso: Contém descrição gráfica de violência explícita, terror psicológico, abuso, assédio, nudez, insinuação de Tortura, drogas lícitas e ilícitas. O Leitor sensível a este conteúdo está avisado.

Clermont Ferrand, 2010, França

11:07 da manhã...

Yui Aoki

Estou nervosa, não paro de mexer nesta câmera, tem dois homens sentados no mesmo sofá que eu, um de cada lado. De um lado se porta um homem alto todo tatuado com cara de quem não vale nada, e ele está sorrindo para mim. Do outro, Zero, aquela peça loura dos olhos esverdeados com sardas espalhadas pelo seu rosto. Estamos todos esperando Monarca sair do quarto, a mesma está a horas ali, ouvi alguns "clicks" como se algo estivesse se recarregando, engoli em seco e tirei algumas muitas fotos do cinzeiro na mesinha a minha frente.

– Yui.

– OI!- Acabei gritando surpresa, Zero revirou os olhos segurando pra não rir.

– Você tem estrutura pra isso?- Perguntou olhando em meus olhos, me passava um ar de sinceridade.

– Não- Respondi de acordo com o que minha mente falava – Mas eu vou ter que ir agora que... Ela quer.

– Ela só quer algo para brincar, nem que seja do próprio jeito distorcido e mandão- Respondeu o Tatuado – Eu a ensinei bem que sentimentos são uma perda de tempo, e que apenas brincadeiras são o que mais podem ocupar seu tempo. Vou lhe contar uma história, menina japonesa.

– Uma história? De quem?- Perguntei tentando esconder minha curiosidade.

– A história de Vanessa Bastien. Ela era uma garota sem pais, ambos foram assassinados em sua frente quando ela era apenas uma criança. Em um momento, fiz dela vulgar, impura, deixando ela me pagar com seu corpo ao invés de dinheiro, isso acabou quando aquela maluca assassinou um de meus clientes com uma caneta direto na jugular.

Flashback

Valafar Córtez

– EU TE ODEIO, EU TE ODEIO, EU TE ODEIO, EU ODEIO ISSO!- A pequena garota gritava à minha  frente, batendo com as mãos na mesa de escritório. Solto a fumaça de meu charuto, vendo aquele corpo jogado no chão ao lado dela – EU NÃO ACEITAREI MAIS ISSO! PODE ME MATAR SE QUISER...

– Shhhh... Não grite, por favor, todos provavelmente conseguem te ouvir... E sobre te matar, eu estaria apenas te dando o que você quer né?- A mesma soca a mesa mais uma vez, desta vez mais forte que as outras. Lágrimas caíam daqueles olhos cor de mel, seu cabelo preto liso estava em seu rosto, seus braços? Já dilacerados pelos cortes que ela mesma havia feito. Sua expressão era de ódio, rancor, vingança.

– Eu vou exterminar os Bragga, e não preciso mais da sua ajuda. Se quer me manter viva neste mundo de merda fique à vontade, mas eu matarei qualquer um que se manter em meu caminho- Disse me olhando com os olhos marejados – Eu não vou mais usar estas roupas estúpidas e dar pra esses pedófilos de merda, seu dinheiro? Fique com a porra do troco...

– Espere- Falei segurando seu braço, a puxando para perto de mim, ficando cara a cara com a mesma – Eu vou lhe ajudar, foi errado da minha parte me aproveitar da situação.

– E-eu já disse que não quero sua ajuda, seu...

– Ei... Garotinha, já se esqueceu de quem mais tem informações sobre os Bragga? São velhos companheiros meus- Ela olha confusa para os lados, deixei escapar um leve sorriso – Não mate meus clientes, você não será mais uma prostituta. Precisa de uns reparos, minha querida- Passei a mão que segurava o charuto em seus cabelos – O velhote é um grande "amigo" meu. E você, jovem garotinha, tem ódio no olhar. Fúria. Eu farei de você a melhor- Ela começa a chorar mais ainda.

– A SUA MELHOR PUTA?! PARABÉNS, JÁ CONSEGUIU!

– A minha melhor assassina. A minha melhor aliada. O maior medo dos Bragga, o extermínio em pessoa. Estaremos caminhando para isso, baby.

– Mas... Eu me senti horrível quando matei este homem... Como matarei mais?- Perguntou a jovem moça dos cabelos negros e olhos cor de mel. Me levantei de minha cadeira, indo até a mesma, dei minha mão para ela segurar, e a mesma pegou nela confusa. Fui a levando para os fundos daquela mansão, entrando em uma de minhas salas favoritas que eu nomeei de "O grito". A frente, uma máquina de tratamento de choque se portava, parecia a sala de um cirurgião, ou um louco que busca canibalismo. Bisturis, facas, serras, tudo que possa machucar estava ali, nesta sala. Vanessa me olha confusa, e eu apenas a puxo para dentro da sala, fechando a porta.

– Você perderá esta culpa no seu olhar uma vez que se sentar nesta cadeira, mocinha. Mas apenas me diga, se aceita ou não se perder nesta cabecinha- Segurei em seu queixo acariciando. A mesma, em lágrimas, parecia estar pensando em tudo aquilo, era demais para apenas uma criança lidar. Mas foi aí que me surpreendeu quando a mesma disse "sim" com a cabeça, e a expressão de medo em seus olhos sumiu.

– Eu aceito- Disse indo até a cadeira, se sentando na mesma – Acabe com a minha dor, Valafar.

Flashback

Yui Aoki

Fiquei incrédula com o que eu ouvi, pedi para não ter mais detalhes.

– Você... Fez isso com ela?

– Acredite, Bella nasceu das vozes da cabeça dela mandando a mesma matar a cada dia que passava, o treinamento com Raphael estava a ajudando a se comportar, até o dia que eu cheguei e havia um mar de corpos naquela sala. Vanessa "experimentou" a arte da tortura naquela mesma cadeira, e foi aí que surgiu seu gosto por espadas e coisas afiadas- Engoli em seco, e ouvi barulho de um salto alto batendo no chão.

Lá estava ela, a princesa Bella, desta vez com uma peruca curta, cacheada da cor louro platinado. Seu vestido era curto e colado, preto com detalhes vermelhos no decote em gola V, acima do corpo da mesma, um lenço florido e rosado amarrado em seu pescoço, e saltos altos igualmente pretos, em seu rosto, maquiagem leve, lábios de cor clara e rosada, um delineado de gatinho em seus olhos e bochechas avermelhadas.

– Yuuuui... Quanto tempo... Senti sua falta...- Falou em gemidos rindo de si mesma – Hoje serei a Bella Benoit, gostou da surpresa? Deve ter amado, sua safada. Já decidiu se quer fotografar minhas pernas?- Eu estava apenas com os olhos arregalados, deixando lágrimas escorrerem de meu rosto. Como ela consegue mudar tão fácil a aparência? Valafar ria baixinho, batendo palmas.

– Uau! Que espetáculo!- Disse o mesmo, Monarca apenas deu uma voltinha – Zero, leve as duas na limosine, hoje será um bom dia para esse casal de garotas.


Refém - Duplo Cárcere Onde histórias criam vida. Descubra agora