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Guilherme saiu da sala de cirurgia exausto, mas satisfeito. Depois do susto na ambulância, tinha conseguido manter Neném estável até chegarem na Clínica Monteiro Bragança e ido direto da área de desembarque para a sala de cirurgia, onde Joana o esperava para operarem o jogador juntos, a fim de realizarem a extração da bala.

Olhou brevemente para o relógio de parede. Eram quatro da manhã, e seu corpo finalmente demonstrava os sinais da exaustão pelo longo dia. Indo para seu consultório, pegou o celular para ligar para Odailson a fim de pedir ao motorista para vir buscá-lo. Tudo o que queria era tomar um bom banho e enroscar-se com Flávia e Paulinha.

A cena que encontrou em seu consultório, porém, aqueceu seu coração.

Antes de entrar para a cirurgia, tinha dado um beijo em Flávia e pedido à esposa que buscasse a filha deles em casa e fosse para a casa da mãe. Assim que acabasse da cirurgia, também iria para lá, e o casal e a menina passariam a noite na casa da empresária. Porém, evidentemente, como tudo na vida, Flávia só fazia o que queria, até naquilo.

Paulinha dormia a sono solto no bebê conforto, colocado ao lado do confortável sofá que ficava em seu consultório. A mãozinha gorducha e rosada cobria os olhinhos escuros e espertos, e ela respirava com a boquinha vermelha entreaberta. Uma manta cor de rosa, presente de Paula para a neta, cobria a pequena, e Guilherme sorriu, com o coração cheio de amor. Pegou a menina e, embalando-a a fim de não a despertar, colocou-a no bercinho portátil que, por insistência de Flávia, haviam instalado na sala contígua ao consultório de Guilherme para o conforto da menina. Cobriu-a cuidadosamente com a manta cor de rosa, sorrindo com amor para a sua princesa enquanto ligava a babá eletrônica e a levava consigo para o escritório.

Sua rainha dormia encolhidinha na ponta do sofá, as mãos sob o rosto. Usava um vestido cor de rosa frouxo e estava coberta com um dos lençóis da clínica, os cabelos muito escuros emoldurando o rosto sem uma gota de maquiagem. Tirando os tênis e a camiseta, Guilherme deitou-se atrás dela no sofá, com cuidado para não a acordar, envolvendo a cintura estreita com um braço.

Porém, Flávia tinha o sono leve e, com o suave movimento do sofá, a moça enrugou a testa e piscou, sonolenta.

– Gui? – Balbuciou.

– Não queria te acordar – murmurou o médico, beijando o ombro da esposa – Eu não te pedi pra você ir pra casa da sua mãe com a Paulinha, que eu ia lhe encontrar lá?

– Ela não quis ir – Flávia bocejou, virando-se de modo que estavam frente a frente. Suas pernas se enroscaram na do marido – Ela tava rezando ali na imagem da santa, diz que isso trouxe sorte quando foi comigo, ia trazer com o Neném também. Eu só fui tomar um banho e pegar a Paulinha e voltei. Não queria ficar longe de você – Um arrepio gelado percorreu o corpo da cantora, e Guilherme puxou-a para mais perto de si, cobrindo a ambos com uma manta dobrada aos pés de Flávia – Correu tudo bem com o Neném?

Guilherme beijou a testa da esposa.

– Felizmente sim. Conseguimos extrair a bala. Ele está sedado, deve acordar pela manhã – Acariciou as costas da esposa lentamente, o rosto ficando sério – Eu vi a Morte, Flávia – admitiu.

A cantora assentiu.

– Eu também – admitiu ela, apoiando o rosto no peito do marido – Ela disse que estava me esperando. Que eu era a escolhida – Os olhos escuros se encheram de lágrimas – Perguntei da Paulinha. Ela me disse que você ia ser um excelente pai pra ela, que ela vai ser médica e cantora.

– Eu disse que queria mais um dia. Pra me despedir dos meus pais, do Antônio, da Paulinha... De você – Os olhos de Guilherme estavam marejados como os dela – Eu queria só mais um dia para te amar como você merece.

uh, togetherOnde histórias criam vida. Descubra agora