Prólogo.

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Condado do meio. — chamado dessa forma há tanto tempo que tampouco recorda-se o próprio nome "Greenwood" — eu moro no verde — também era comum entretanto, a conotação pejorativa levava a recordar a quantidade de cadáveres desovados nas florestas da cidade, sem nome e sem documento, indigentes que um dia foram protagonistas das próprias histórias naquela cidade.

Chuu – Jiwoo – fazia um silêncio sepulcral tão aquém ao sujeito que era enquanto percebia as mãos trêmulas de Yoohyeon atadas as suas, formavam um círculo ao redor de várias velas pretas adquiridas na única loja depredada da cidade, a de artigos de "feitiçaria", diziam que apenas atravessar sua porta maculada trazia mal presságio para a família inteira, e obviamente toda a população jovem do condado do meio satirizava aquela lenda.

— Tem certeza que foi o que ela disse? — A sobrancelha de Jiu se arqueava demonstrando sua preocupação, era sempre maternal com relação as outras mas sua responsabilidade seleta não a impediu de entrar naquela enrascada com as outras três. — Tenho certeza que ela disse que era pra gente gotejar o sangue como fizemos, por que não está dando certo? — Rente ao ritual fracassado Yves insatisfeita desatava a mão que as ligava como uma só, fez menção para levantar mas Chuu não permitiu, procurou pela sua mão novamente apertando extremamente forte dessa vez. — É sério que vocês vão desistir? Já estamos aqui, não vamos parar! Já fazem sete anos, SETE! Você sabe disso Yves, você tava lá. —

Iniciou seu discurso calmamente mas as orbes saltadas de Jiu diziam que nunca havia visto Jiwoo daquela forma, tão nervosa, triste e agora aos berros. — A Heejin está todo esse tempo sendo traída como uma cadela! Como se não valesse nada, temos que tirar essa psicopata da vida dela ou pelo menos tentar, afinal que amigas seriamos nós se nem ao menos tentássemos? — Chuu gritava e sua voz esganiçada irritava os ouvidos de Yves, entretanto não somente, o que a irritava era saber que a mais jovem estava falando a verdade.

Yoohyeon esticou a mão e alcançou o livro indicado, o post-it marcava a página e os ingredientes, todo passo a passo era seguido minuciosamente porém nunca funcionava, ou ao menos não aparentava estar fazendo efeito algum. Repetiram quatro, cinco vezes e nada, as lágrimas desesperadas de Chuu já eram visíveis e suas intenções iniciais se perderam, o que iniciou como uma ação benevolente para abençoar Heejin tornou-se uma intenção de raiva voltada para a vingança, Chuu queria que Siyeon pagasse pelas suas traições porém mais ainda, ela queria que Heejin pagasse por ter escolhido Siyeon — uma mulher promíscua e mal caráter que nunca a faria feliz — e não a ela, que sempre fez de tudo para mostrar que era a pessoa que mais a amava, que sempre esteve lá pra qualquer necessidade emergente ou mesmo pra uma conversa despretensiosa. Chuu amava Heejin na mesma intensidade que a odiava, porém não era capaz de enxergar isso... não ainda.



— Vamos embora. — Proferiu uma Haseul ofegante, com o corpo molhado e a pálpebra dilatada, suas digitais marcadas no vidro fumê daquele carro que diariamente visitava. Siyeon vestia as roupas rapidamente, era uma habilidade adquirida com os anos em que exercitou o mau caratismo descarado. Durante as manhãs acordava nos lençóis de Heejin só para no anoitecer manchar seu nome nos bares, vielas, motéis baratos e no banco do próprio carro com a melhor amiga da sua namorada.

— Eu ainda não terminei com você. — Siyeon fitava a mais baixa com as orbes felinas e a ânsia de devora-la que não mais pertencia a Heejin, o romance nunca havia estado mais frio mas infelizmente, Siyeon nunca de fato estivera apaixonada por Heejin, a verdade é que o início do relacionamento não foi exatamente algo que previu e com o passar do tempo Siyeon se acostumou com a presença da garota, com o seu cuidado e sua cumplicidade ainda que não retribuísse se aproveitava da bondade de Heejin.

Siyeon puxou a cintura de Haseul com a palma alva e as unhas pretas apertando e amassando a roupa recém vestida, poderia contar nos dedos quantas vezes se arrependeu de estar apaixonada pela namorada da sua melhor amiga mas lhe sobrava egoísmo para se importar de fato com as consequências dos seus atos. Beijava os lábios da outra sem nenhum arrependimento, inebriando-se do cheiro amadeirado do perfume que Heejin a presenteou no dia dos namorados do ano passado.

As luzes lá fora eram compostas apenas por postes separados por cinco metros de distância, a penumbra da noite e o fumê do carro escuro não permitia que enxergassem qualquer coisa lá dentro e por isso sempre ficavam estacionadas ao lado de fora da delegacia enquanto aguardavam — a inocente — Heejin que estava sempre contente com a sua melhor amiga e o amor da sua vida diariamente indo buscá-la após um dia turbulento no trabalho.

Essa era a rotina das garotas, iam para o colégio, para a escola, eram traídas por suas amigas e namoradas e sorriam pra elas no jantar, entretanto naquele dia algo havia mudado enquanto elas achavam que tudo havia permanecido no mesmo lugar.

ab imo pectore | heechu.Onde histórias criam vida. Descubra agora