Cursed.

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Seus olhos vazios eram vistos no reflexo do celular, mesmo Chuu que acompanhava delicadamente cada traço de Heejin com amor não reconhecia suas feições após aquela declaração, a mais jovem era sempre tão previsível e agora estava em silêncio, nenhuma lágrima, como se não estivesse doendo. — Disse isso porque achei que você merecia saber, afinal todo mundo sabe. —

"Todo mundo sabe." — Aquilo repetia em sua mente, ecoava como um jingle promovendo a tortura sentimental, sua voz calada permaneceu por alguns minutos e Chuu acompanhava com as orbes cálidas o momento em que poderia falar qualquer coisa novamente, em seu âmago porém celebrava o fim daquele relacionamento tão turbulento, a falha era achar que a partir dali Heejin seria feliz.

Heejin levantou silenciosa e retirou sua camisa rasgada, jogando-a em qualquer lugar no quarto que antes da mente entrar em desespero estava até arrumado, agora acompanhava a bagunça que estava o próprio psicológico. Sentia-se despida mas muito antes de ter sua camisa retirada, estava vulnerável, frágil, sete anos empenhada numa mentira, o quanto de si entregou para alguém que somente a enxergava como uma maldição, como o resultado de uma perda. Todo o amor que deu, as vezes que se diminuiu e se anulou pra Siyeon ter alguém com quem pudesse sempre contar. Socava o travesseiro e parede enquanto se culpava por ser tão estupida! Porém era "cômico" que tudo era alvo da sua ira com exceção do porta retrato com ambas sorrindo na última viagem que fizeram.

  Atordoada Chuu levanta da cama deixando Heejin digerir suas mágoas e passa por Karina no corredor, seus olhos cansados indicavam a dificuldade para adormecer — Heejin descobriu tudo, acho melhor deixarmos ela sozinha. — Comentou com um sorriso tímido, sentando-se no sofá.

Jimin discordava, era o momento que ninguém ansiava a solidão e ela não permitiria enquanto estivesse por perto que Heejin simplesmente deixasse a escuridão abraçá-la ao invés do colo amigo. Karina retornou ao seu quarto brevemente, apenas para buscar uma caixa de bombons que descansava em sua escrivaninha junto a um bilhete escrito em caneta cintilante "Para a minha estrela, hoje não é nenhuma ocasião especial mas todos os dias são especiais quando se está com você." A assinatura de Winter era inconfundível e fê-la rir novamente, da mesma forma que sorriu ao receber aquele pequeno mimo da sua namorada.

Quando Karina bateu na porta do quarto de Heejin ela já estava vestida mas ainda se via resquícios de lágrima pelo rosto, o sorriso de Karina era convidativo para adentrar e conturbadamente Heejin permitiu que Karina entrasse, se questionou até o momento em que ela atravessou a porta e sentou no pequeno sofá abaixo da janela. — Trouxe pra tentar adoçar o seu dia. — Karina escondeu o bilhete de Winter em seu bolso para Heejin não ver, seria um tiro no pé acabar esfregando a própria felicidade no rosto de alguém que naquele momento parecia que só estava perdendo.

— Obrigada Jimin-ah, mas eu tava querendo ficar sozinha. — Heejin proferiu enquanto segurava a caixa de bombons sem pretensão alguma de soltá-los, abriu a caixa e mordiscou um tentando não parecer compulsiva em querer comer todos de uma vez. Jimin ria, respeitaria a solidão de Heejin entretanto não sentia verdade em suas palavras, se aproximou mais um pouco e abraçou a morena que desabou em choro novamente.

— Pode chorar minha amiga, vai ficar tudo bem. Eu estou aqui como sempre, ok? — Disse com cautela tentando acalmar a outra. Heejin se afastou do abraço ainda com lágrimas nos olhos, lentamente tentava cessar o choro — sentindo-se uma imbecil por estar chorando depois de tudo o que descobriu — comeu outro chocolate cujo gosto agridoce se misturava as lágrimas descontroladas em seu rosto, Karina ligou a televisão e colocou no YouTube pra tocar umas músicas calmas mas não tristes, que tinham letras que atinava para a consciência ambiental, nada de romances — bons ou ruins — estava ali tentando apenas ser uma boa amiga.

Após comer o segundo chocolate Heejin já se sentia um pouco melhor mas não largava a caixa cuja dona não ousava tocar, — Você acredita que ela estava me triando com a Haseul? — disse durante uma pausa curta, logo enfiou outro chocolate na boca. — Aquela piranha! Juro que eu deveria ter dado no mínimo uns três socos naquela cara dela. — Heejin agora entendia o porque de Haseul dizer que Siyeon nunca havia a amado. — Mas eu dei um soco bem dado no nariz dela, espero que tenha quebrado. —

Karina tentava não rir, segurava ao máximo — Com a Haseul? — mordiscou o lábio inferior pensativa, — Não sabia que ela já tinha superado a obsessão que tem pela Yeojin, talvez até ela tenha seguido em frente afinal... — Naturalmente Karina pensou que o motivo da superação era também a tristeza de ser apaixonada por alguém que estava em um relacionamento. — Acho que a Haseul tem um tipo... só gosta de gente que namora. Ela que não invente de dar em cima da minha Winter, corto o cabelo dela quando ela estiver dormindo. —

Dessa vez foi Heejin que riu. Amava a companhia de Karina, e era eternamente grata a Vivi por tê-la introduzido no grupo, sentia saudade das suas amigas, já fazia um tempo que as notícias se espalharam e que estavam desaparecidas, ninguém de fato sabia o que aconteceu e a polícia local não era muito ativa, andavam nas ruas desarmados e nunca estavam preparados para agir, Karina os achava corruptos e Heejin tinha esperanças na melhora do departamento com a sua chegada — ainda que houvesse acabado de se formar na academia.

— Não acredito nisso. — Heejin bufou ao pegar o celular que recém vibrou, o nome temido surgiu na tela enquanto Karina balançava negativamente a cabeça, Heejin atendeu a ligação tentando não mostrar o quão abalada aquela situação a havia deixado.

— O que você quer Siyeon? — Perguntou enquanto fechava a mão livre em punho tentando canalizar uma força que não a pertencia.

— Só liguei pra te dizer que você não deveria estar sozinha num dia como este, você deveria reavaliar essa situação e ver que foi um mal entendido, suas paranóias sempre acabam nos atrapalhando e eu tenho certeza que não é isso que você quer, não deixe um erro bobo acabar com a gente, Heejin-ah. Você sabe que não quer isso, eu também não quero isso... e aliás,

Feliz aniversário. —



Na sala Chuu discava o número de Yoohyeon que caia facilmente na caixa postal porque a garota estava sempre ocupada, era residente no hospital local desde o ano passado quando seus pais ganharam na loteria e resolveram investir na bolsa de valores e obviamente na educação da filha. Era surpreendente para Chuu que não tivessem os matado com gana do dinheiro que não era pouco. "Após o sinal deixe a mensagem." — Yoohyeon-ah, estou na casa da Heejin, parece que elas terminaram mesmo e olha que a gente nem vai precisar fazer outra sessão daquelas, não precisamos depender dessas coisas porque o universo sempre dá um jeito de resolver as coisas e tem mais... fruta podre cai sozinha."

Chuu ia desligar a ligação entretanto Yoohyeon atendeu no meio da mensagem, interessada no conteúdo deste a mulher que estava durante uma pausa no hospital sentou-se com seu sanduíche de queijo e o suco de limão - seu favorito. — Chuu... ainda bem que as coisas se resolveram, bruxaria é coisa séria, você não deveria fazer pouco disso. — Pra Yoohyeon o motivo do término não era destino, principalmente porque tudo parecia estar diferente e não era somente a vida de Heejin que a interessava, não era agradável para si a penumbra que pairava pela cidade, parecia exatamente como Gahyeon descrevia — ela era tido como louca por todos mas Yoohyeon sabia que havia um pouco de sanidade em toda aquela loucura.

— Essa cidade foi amaldiçoada por causa dela, você sabe, não sabe? Essa cidade... estamos presas, e somente elas podem nos salvar mas as deusas estão sempre tão ocupadas que de maldição em maldição ficamos presas em nosso próprio tempo, onde outrora se repetia agora recai sobre uma cabeça só, todos os males do mundo dentro de um só coração. Greenwood está amaldiçoada, está amaldiçoada, está amaldiçoada. —

Gahyeon você está falando besteiras de novo minha filha, tome o seu comprimido e venha deitar.

ab imo pectore | heechu.Onde histórias criam vida. Descubra agora