AGUENTE FIRME

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Lídia respirou fundo, esticando os ombros para trás e erguendo o queixo, a imagem de superioridade fria e orgulhosa que havia aperfeiçoado durante décadas. Desde que podia lembrar. Ela se deu apenas mais três segundos para pensar no que ia fazer e em como, repassando todas as falas e bateu a porta.

Trinta segundos. Foi esse o tempo que levou para que os passos lá dentro — os de uma fêmea, reconheceu pela leveza — chegassem até a porta, a maçaneta virasse e... Não se permitiu sequer piscar quando Hypaxia ficou a sua frente. Não uma criada ou alguém do coven dela.

Mas... Ali estava, a Rainha das Bruxas, sua meia irmã, a primeira vista eram completamente diferentes, se alguém não soubesse nunca poderia dizer que compartilhavam o mesmo sangue, a menos que conseguisse discernir o cheiro da linhagem, só que Lídia via. Via as semelhanças quase perturbadoras. As mesmas maçãs do rosto, o contorno do queixo, o arco dos olhos levemente arqueados. Igual aos dela. Igual aos da Rainha Hecuba. Sua mãe. A mãe delas. De Hypaxia.

Só que aquelas eram as únicas semelhanças, enquanto sua pele era clara, quase assustadoramente pálida, a de Hypaxia era de um negro exuberante. Enquanto seus cabelos eram dourados e caiam em mechas levemente onduladas, os dela eram escuros e caiam em um cachoreira de cachos. Enquanto seus olhos eram de âmbar sem brilho, ela sabia, os dela eram de um castanho escuro penetrante. Enquanto a Rainha parecia irradiar quentura e vida e sabedoria, a Corça irradiava frio e morte e astúcia calculada.

O mais irônico é que Hypaxia era quem tinha laços com a Casa de Chama e Sombra, mas era ela quem agia com a frieza de um ceifador.

— Lídia — a voz soou com o cumprimento, a fazendo sair dos pensamentos e, de algum modo, soou como ela se lembrava que era a de Hecuba.

Ela afastou os pensamentos novamente e respondeu, sem se incomodar em usar o título ou fazer a reverência que provavelmente era o que deveria:

— Hypaxia.

Sua irmã — era muito estranho pensar nela assim — abriu mais a porta, fazendo um gesto com a mão para que entrasse, assim que colocou os pés dentro do cômodo se sentiu um pouco mais aliviada, não teriam câmaras ali, ao menos não as do governo. Mas ela precisava manter a atuação, se lembrou. Por isso analisou cada centímetro procurando por algum sinal de escuta ou câmera embutida, analisando cada saída e entrada e arma em potencial, o instinto se sobrepondo a ela.

— A que devo a visita?

Lídia arrumou a postura diante do tom, o de uma rainha, perguntando o porquê de ter que receber a visita da meia irmã com o qual nunca tinha se encontrado até algumas semanas atrás e se lembrou do real motivo de estar ali.

— Vim falar sobre seu noivo — tentou não engasgar com a última palavra, tentou conter a dor insuportável ao pensar em Nigth. Ruhn.

Foi Hypaxia quem arrumou a postura dessa vez, o movimento também assustadoramente similar ao seu. Ela era uma guerreira, notou.

— E o que veio falar?

Ela sabia então, a notícia ainda não tinha se espalhado para imprensa, mas desde que tudo fora para o inferno, há quase duas semanas, quando Ruhn fora capturado, quando Hunt e Baxian também foram... O que estavam fazendo com eles... Com ele... O povo não sabia, era um informação pejorativa demais ser espalhada, então o sumiço do Cão do Inferno, do Umbra Mortis, da Princesa e do Príncipe Estrelado tinha sido mantido às escuras. Ninguém sabia o que tinha acontecido e quem sabia não tinha ousado falar nada. Fazer nada.

— Você sabe, não é? — a própria voz a assustou — Que ele é um rebelde, onde está agora? Me diga, irmã, você compactuava com essas ações?

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⏰ Última atualização: May 28, 2022 ⏰

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𝐶𝑜𝑛𝑡𝑜𝑠 𝑑𝑜 𝐷𝑖𝑎 𝑒 𝑑𝑎 𝑁𝑜𝑖𝑡𝑒Onde histórias criam vida. Descubra agora