Cartas de Adeus

Tentativas

As cartas foram fluindo junto com as lagrimas, e os dedos deslizavam por cada letra formando um conjunto de palavras que se tornariam por si só um sentimento.

As coisas dificultavam: algumas brigas, a voz intensificada, mudança de atitudes de amigos e uma estranha aproximação de algumas pessoas até acho que por um lado essas coisas ajudaram um pouco para a decisão dela.

Mas o que mais mexia com a produção das cartas eram os dias de aulas em que ria até a barriga doer, ou se preocupava em sussurrar algo sem ser percebida pelos professores, os dias que se distraia desenhando, ou os dias em que as aulas eram tão interessantes ao ponto de as conversas se tornarem curiosidades sobre o tema, as brincadeiras que a deixava ansiosa e até os dias que se irritava com as brincadeiras de Kanji.

Outro ponto eram as ligações que tinha com Kanji, tais com o intuito de jogar, mas nem sempre era isso que acontecia; eles ficavam cantando, tentando adivinhar musicas, fazendo perguntas aleatórias, contando historias totalmente sem nexo, áudios irritantemente estourados, compartilhavam memes que respondiam por mensagem mesmo tendo a chance de falar, era até o momento em que Kanji atualizava Ayumi do mundo já que ela estava sempre por fora de tudo.

Ayumi gostava de ouvir mesmo que ele fosse desafinado cantando ou até ouvir os gritos quando ele perdia um partida o que era raro... Era tudo muito divertido com ele, as vezes a garota sentia suas lagrimas quentes escorrendo pelo rosto, mas era interrompida por risadas e frases suspeitas que arrancavam uma risada sincera.

Era ainda mais difícil pensar em deixar Hana... depois de tanto tempo juntas, uma abandonaria a outra. Talvez fosse a hora de Ayumi pensar em si mesma.. né?

Pensar em deixar tudo é árduo, mas quando os problemas tomam uma grande dimensão sufocando os momentos bons fica fácil tomar uma decisão.

A garota pensava uma coisa a cada momento, em alguns dias ela podia facilmente abandonar tudo e se livrar da dor que sentia e do sufoco que suprimia a alma e só não acontecia porque ela não tinha as ferramentas que precisava, " e se não desse certo e ela continuasse viva? nem pensar "

Em outros momentos ela temia a si mesma e bloqueava a desistência por que queria desfrutar um pouco mais da vida e porque pensava em seus pais, irmãos, Hana, Kanji e Kim; queria poder recomeçar e tentar curtir os dias, mas o que conseguia era paranoia e sempre no fim estava no banheiro se destruindo em lágrimas.

Uma das coisas que mais passava em seus pensamentos, é que não queria acreditar que veria todas as pessoas que mais ama morrer assim como viu seu avô... tudo desabou nesse dia, foi o pior momento de sua vida. Queria poder desistir, ser deletada da mente de todos e fazer o que quisesse sem fazer "falta" ou decepcionar as pessoas que ama.

Uma vez que ela cogitou tentar se livrar de si mesma, mas ela tinha "recaídas" e acabava contando para seu melhores amigos e obviamente eles desaprovavam completamente apagando qualquer plano que ela tinha. Uma vez Kanji falou algo muito importante que ela nunca vai esquecer:

-Uma vez vi uma frase. A pessoa que sofre e se mata, ela não mata a dor, ela apenas passa a dor para as outras pessoas.

Lembro muito bem desse dia, ela se sentiu acolhida com algumas palavras através de uma tela gelada mas o que ela realmente queria era um abraço que a fizesse quer viver.

Apesar das coisas que as pessoas diziam, Ayumi se odiava; as pernas magras, as estrias, os pelos, os dedos finos e tortos, os braços e não vamos esquecer o nariz... Não queria parar de usar mascara por que odiava seu nariz, o cabelo ressecado que descoloria pra se sentir bem, os olhos que não eram especiais, os dentes... Bom isso é só um pequeno resumo, os detalhes é melhor omitir.

Ela se preocupava demais com algumas pessoas e por isso se cobrava mais do que deveria. Se preocupar com as pessoas é um ponto positivo, até que chega o momento que você se esquece de si mesma e afunda no problema dos outros como se o seu não fosse importante acabando assim se tornando a segunda opção até nas decisões mais importantes