Pedaços de Uma Paixão (Minha Autobiografia)

Capítulo 14

Já se passaram dois anos desde que fui embora; assim que a pandemia de 2020 começou.

Eu ainda estou me regenerando. Mesmo que muita coisa tenha ficado no passado, sempre dores novas surgem em nossas vidas.

Eu ainda ando com medo. E as vezes me autossaboto.
Eu tenho medo de continuar sendo observada e acontecer algo ruim comigo.
Me escondo, visto roupas diferentes, escondo meu rosto e me cubro o máximo que posso, pra não ser reconhecida nas ruas que tanto passei, quando vivia na relação abusiva. Acho que será um trauma eterno.

É difícil se envolver com alguém que possa te machucar mesmo que tenha ido embora.

Demorei alguns anos ainda pra descobrir meu valor.
Sempre chorei por perdas, mas eu precisava ver que também sou uma grande perda.
Eu sempre aceitava migalhas, implorava por atenção, e eu achava que era isso que o mundo tinha a oferecer.
Era só o que eu tinha recebido na vida..

Mas não é. Existe TANTO amor por aí, que parece que seu peito vai explodir, você só precisa achar a rara pessoa que te fará sentir isso.
E demora..
Levei 20 anos para achar a minha pessoa..

E quando eu percebi que merecia amor em grande quantidade, sem implorar pelo mesmo, minha cabeça explodiu. Nunca tinha ocorrido!

Ainda tenho muita coisa pra resolver comigo mesma. Muita terapia para conviver com meus monstros. Mas isso é um dia de cada vez.

*

Você acha que está num ponto bom da sua vida?
Que agora está satisfeito?

Eu penso muito sobre isso.

Eu encontrei a pessoa certa. Não perfeita. Mas a que eu soube, ali, que era a certa.
É difícil a convivência, você tem que tolerar os defeitos dessa outra pessoa, quando você nem torela os seus próprios!
É horrível. Penso sempre em ir embora.

Autossabotagem.

Mas sei que devo ficar. Que as vezes o problema sou eu. E que infelizmente eu carrego uma bagagem de traumas, e ele também está tendo que lidar com ela.
Mas é difícil.

Eu só não quero, nunca mais, me sentir pequena como da outra vez. Me sentir oprimida, inútil, usável, morta.

Não quero nunca mais me sentir morta.