2018

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Ela

Depois de ficar gripada pela quarta vez nesse ano decidi que estava na hora de trocar de lugar e sair da mira raivosa do ar-condicionado. A única pessoa que aceitou sentar em frente ao professor foi um amigo, que não fez mais que a obrigação dele. Amigos servem para isso não?!

Meu novo lugar era no fundo da sala, bem longe da corrente de ar gelado, toma essa aparelho demoníaco. Estava rindo sozinha quando notei quem estava ao meu lado, o sorriso morrendo em meus lábios enquanto assimilava a imagem do meu Crush, olhando para mim como se eu fosse de outro planeta.
Estreitei meu olhar, o desafiando a falar algo. Como se lesse meus pensamentos, ele apenas balançou a cabeça, e voltou sua atenção para o professor que entrava na sala.

Passei tanto tempo fugindo de qualquer contato com ele, sempre me escondendo atrás de algum livro ou dos meus cabelos quando eles não colaboravam.... Agora ele estava ali do meu lado com seu sorriso lindo e boca desejável....

Cupido idiota.

Como a boa lesada que sou ainda lembro a primeira vez que ele me chamou pelo nome, fiquei tão surpresa que em vez de entregar a régua que ele pedia alcancei a borracha.

Nossa amizade começou naturalmente, conversávamos sobre assuntos aleatórios que sempre acabavam se voltando para nossos gostos em comum. Assim como eu ele assistia muito desenho animado e seu preferido era Hora da Aventura, nem preciso dizer que fiquei babando enquanto ele falava sobre os episódios que estavam no seu top 10. Com mais alegria ainda descobri que ele também jogava League of Legends e se antes eu ficava com borboletas no estomago perto dele, agora eu entrava em ebulição.

Com o passar do tempo nossa amizade foi ficando mais intima, e eu me sentia cada dia mais dependente desses momentos de descontração, então quando ele perguntou se eu namorava minha primeira reação foi rir histericamente, para em seguida negar. Sua expressão surpresa me deixou confusa, mas não quis entrar no assunto e logo estávamos discutindo sobre algum anime.

Claro que me coração iludido já estava imaginando nosso casamento, mas isso são detalhes irrelevantes. Precisava esclarecer isso, saber se devia continuar com o planejamento da cerimonia ou simplesmente pensar nos papeis do divórcio. Com toda a sutileza que mamãe me deu perguntei se ele estava interessado em alguém.
Se considerar seus olhos arregalados acho que não fui tão sutil assim, tanto faz.

Resumindo, ele só me enrolou e não falou nada, até agora não entendi se falava de alguma ex ou de qualquer outra.

Queria contar que eu tinha interesse nele, mas como?

Estávamos no pátio, eu estava sentada no banco enquanto ele conversava com uma amiga, meu coração batia acelerado e sentia uma vontade absurda de bater naquela garota. Quando o sinal tocou ele fez menção de abraçar nós duas, mas colocou o braço sobre os ombros da menina e me deixou ali, no vácuo, amaldiçoando até seus netos.

Assim que chegamos na sala, me sentei em silencio e assim permaneci até o fim da aula. Me recusando a dar atenção para aquele traste.

Ele

Naquele dia nossa turma tinha uma atividade fora da escola, mas adivinhem quem havia esquecido a autorização em casa? Exatamente, eu.... E a Jasmim.

Ela começou a me questionar se eu gostava de alguém, minha vontade era segurar o rosto dela enquanto, com o olhar apaixonado me declarava. Mas como sempre fiquei extremamente nervoso e em vez de falar claramente que sim, gostava de alguém, eu gaguejei um ok e tentei muda de assunto.

Fui patético? Talvez.
Talvez tenha feito alguma burrada? Sim.
Ela me olhava como se quisesse me matar? Certamente.

Durante o intervalo eu estava empenhado em azucrinar uma amiga, e na hora de voltarmos para a sala, abri os braços, como se para abraçar a duas, mas ao invés disso abracei apenas a minha amiga. A Jasmim virou as costas para mim, me olhando rapidamente e caminhando em silencio para a sala.

Cara, sorte que olhares não matam.

Ela me ignorou completamente, nem sequer me xingou quando bati no braço dela enquanto copiava a matéria.
Eu não estava entendendo nada, então quando o sinal tocou e ela se levantou guardando suas coisas eu a puxei de volta para a cadeira.
- Ei, o que aconteceu?
- Nada Armin.
Ela não me olhava, mantinha sua atenção na porta, como se quisesse fugir dali.
- Isso tudo por causa da brincadeira que fiz no recreio? - Ela não respondeu nada, apenas mais silencio. - Ela é só uma amiga, assim como você, não tem nada demais.
- Hm.
- Mi.... Meninas são sempre complicadas assim? - Suspirei olhando para o teto. - Isso me lembra uma vez quando estava jogando com uma garota e quando eu falei que ia convidar mais uma pessoa pra jogar e ela simplesmente saiu do jogo e não falou mais comigo. Até hoje não entendi o que falei de errado....
- Você é burro ou se faz? Está na cara que ela gostava de você e ficou furiosa quando você mencionou outra pessoa. Meninos.... Sempre lerdos! - Finalmente ela falou algo, me ofendeu, mas falou. - E só para deixar claro, o motivo que me deixou brava foi o mesmo que fez essa garota parar de falar com você!
- Birra?
- CIÚMES!
Ela se levantou bufando, parecia extremamente frustrada, eu fiquei ali, olhando para o caminho que ela fazia com cara de paisagem.
Espera, ela disse que gosta de mim?!
Joguei minhas coisas de qualquer forma dentro da mochila e corri atrás dela pelo pátio, a alcançando apenas no portão da escola.
- Você gosta de mim? Como? Por quê? Quando?
Ela me explicou tudo, que desde o ano passado já reparava em mim, mas nunca havia falado nada, primeiro porque na época tinha namorado e depois simplesmente não teve oportunidade, então nos tornamos amigos e ela não queria correr o risco de perder isso.
Juntando o máximo de coragem que consegui, olhei fixamente em seus olhos e despejei o que guardava para mim a dois anos.
Não sei o que nos esperava amanhã ou se ficaríamos juntos até o fim do ano, mas naquele dia, na frente da escola, sob os olhos atentos do senhor que cuidava do portão da escola, uni nossos lábios e foi a melhor coisa que já havia provado na vida.
Assim que nos separamos a abracei pela cintura a erguendo no ar e girando enquanto ria de seus gritinhos para que a soltasse.
- Então estamos namorando? - Ela perguntou enquanto arrumava a mochila.
- Sim. - A beijei novamente. - Não adianta nem tentar fugir de mim bruxinha.

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