Deus nos proteja dos seus desejos

195 28 15
                                    

Mirella acordou no dia seguinte antes mesmo do despertador tocar. Pulou, quase que literalmente, da cama e sentiu uma vontade imensa de sair para uma corrida matinal. Aquilo não era de seu feitio, mas a vontade foi tanto, que quando se deu por si, já corria pelo parque próximo do apartamento que dividia com Tabatha .

Seu coração batia freneticamente, talvez fosse pela corrida, mas Mirella não tinha tanta certeza se realmente era.

A imagem de Stéfani sorrindo e estendendo a mão em cumprimento passava em looping na mente de Mirella. Como podia estar tão mexida com um simples encontro, ainda mais com uma mulher tão distante como Stéfani era para ela. Foi impossível evitar um riso irônico ao pensar nisso, mas assim que percebeu as pessoas em sua volta caminhando e correndo, Mirella resolveu evitar o pensamento. Não queria parecer uma louca rindo para o nada.

— Meu Deus! Hoje é dia de chuva intensa na cidade. Você acordou cedo e ainda saiu para se exercitar! Que milagre é esse, Mi?

— Bom dia, Tabatha . Bom ver que você está bem.

Usou de tom irônico para tentar esconder as razões da atividade atípica.

— Tá bravinha, amor?!

— Não, mas quer que eu fique?

O tom desafiador fez com que Tabatha negasse com a cabeça, mas sem deixar de fitar a amiga com dúvida.

— Tem alguma coisa hoje?

— Uma mesa redonda às três da tarde. E você?

— Estágio daqui a pouco, mas sem nada na faculdade. Vai ligar mesmo para a assistente da Bays?

A pergunta parecia tendenciosa. Era como se Tabatha suspeitasse de algo incomum e estivesse louca para pegar a amiga em uma mentira. Parecia que Tabatha era a jornalista, e não Mirella.

— Não, não vou ligar. Mandarei um e-mail.

Assim fica registrado que eu tentei contato.
Tabatha manteve um semblante indiferente como se processasse a informação,
decidindo se diria algo ou não.

— Você sabe que eu sou sensitiva, né?

— Ta, amor, você lê horóscopo na internet e acha que sabe a personalidade de alguém. Isso não é mediunidade.

Mirella se serviu de uma xícara de café e sentou na mesa de jantar, ainda não havia tomado banho e mesmo que não estivesse tão suada, não queria sujar o sofá confortável da sala.

— Tô falando sério, Mi!

— E eu também estou!

— Você tem interesse sexual na boazuda lá ou é literalmente só interesse acadêmico? Porque, amiga, antes de ela entrar naquele auditório, você nem se interessou em saber muita coisa sobre ela.

— Ai, preta, desencana. Foi só meu mau humor falando mais alto.

Mentira. Mirella não estava mau humorada, muito pelo o contrário. No dia anterior, se sentia radiante com a entrega das roupas que havia comprado pela internet. Tudo tinha chegado antes do prazo e os looks ficaram perfeitos em seu corpo. Não tinha como ficar mau humorado diante de um acontecimento desses. No entanto, Mirella sentia que mesmo compartilhando tudo com a melhor amiga, não devia contar sobre a agitação que se encontrava desde que Stéfani começou a discursar. Era algo platônico, da cabeça dela somente. Stéfani era casada e super inacessível para uma universitária como ela. Não tinha motivações para compartilhar seus sentimentos, quais nem sabia identificar no momento, com Tabatha .

— Sei. Mas como eu disse anteriormente...

Mirella não conseguiu evitar de rolar os olhos, mas ainda sim focou sua atenção na amiga.

Fortuito - versão SterellaOnde histórias criam vida. Descubra agora