Capitulo 5

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Um baque surdo vindo da porta do primeiro andar me fez pular da cama acordando Addison.
 
"Barulho vindo da sala" - Sinalizei e Addison se colocou de pé vindo atrás de mim.
 
"Toma cuidado" - Ela sinalizou assim que chegamos na escada.
 
— Hija?! — Ouvi a voz de mamá vindo da cozinha, coloquei a mão no peito devido ao susto e sinalizei a Addison que era a voz da minha mãe.
 
Nós descemos e pude ver minha irmã sentada numa cadeira de rodas com os braços enfaixados. Lexie parecia uma morta viva, ela estava muito mal e tinha sangue escorrendo de seu nariz.
 
— Desculpa te assustar hija, não quis entrar com ela pela sala e viemos por aqui. — Ela apontou para trás. — Mas a porta estava emperrada e precisei empurrar. — Ela finalizou com a voz tristonha, eu me aproximei da cadeira e me abaixei para ficar na altura da minha irmã.
 
— Lexie? — Chamei seu nome e ela tentou inutilmente dar um daqueles sorrisos que chagavam aos olhos.
 
— Mas que barulhei.... Meu deus, Lexie. - Amélia sussurrou me fazendo encará-la e dar um sorriso triste antes de me levantar.
 
— Me ajuda a colocar ela no sofá. — Pedi e mamãe empurrou a cadeira, Amélia me ajudou a ajeitar o corpo mole, encostando o corpo no sofá e Addison puxou alguns travesseiros para deixá-la confortável.
 
Amélia se afastou e voltou segurando uma faca pequena junto de um algodão banhado a álcool que havia passado no objeto. Eu respirei fundo e me ajoelhei na frente de Lexie, minha mãe se sentou ao lado segurando sua mão enquanto Addison e Amélia permaneciam em pé.
 
— Vai doer só um pouquinho Lex. —  Murmurei e cortei alguns centímetros da palma da mão escutando um grunhido vindo dela e repeti o corte na minha, juntando nossas mãos em seguida fazendo nosso sangue se misturar.
 
— Virgen santíssima, que isso funcione. — Mamá murmurou e eu fiz o mesmo pedido.
 
— Eu também trouxe o kit para colher o sangue de vocês, para fazer por mim mesma o teste do antivírus e não levantar suspeitas de que vocês estão aqui sem saber se isso realmente irá funcionar.
 
Amélia e eu concordamos e após fazer o curativo da mão de Lexie e da minha mão, ajudei a levá-la para o quarto, mamá permaneceu com ela e eu voltei para a sala onde Amélia tentava sinalizar alguma palavra com a ajuda de Addison.

— Meredith... - Amélia chamou e levantou a mão e ao lado Addison riu. — Eu te amo.
 
Eu ri e neguei me aproximando dela.
 
— Esse é o símbolo do rock. Pra sinalizar que me ama você faz isso... — Falei separando o dedão dos outros dedos e o segurando para que ela o mantesse separado.
 
— Addison! — Amélia ralhou olhando feio e Addison começou a rir caindo para trás com as costas nas almofadas. — Arg, sua danada. - Amélia bufou e partiu para cima dela para fazer cócegas.
 
Addison começou a se debater e levantou a mão para que eu ajudasse. Eu puxei Amélia de cima dela, vendo Addison completamente vermelha com os olhos fechados.
 
— Você não pode defendê-la. Ela tá me ensinando errado Mer! — Dinah cruzou os braços e fez um bico muito fofo.
 
Addison se sentou ainda segurando a própria barriga e eu dei um tapa de leve em seu joelho.
 
"Ela ficou chateada" - Sinalizei e Addison fez uma careta e logo depois deu duas batidinhas na perna chamando atenção de Amélia.
 
Addison apontou para Amélia que a olhava séria, e moveu os dedos para frente, depois fechou o dedo polegar e indicador deixando os outros abertos. E eu ri.
 
— O que ela está fazendo? — Amélia perguntou ainda séria trocando os olhares entre Addison que repetia os movimentos devagar e eu.
 
— "Está mandando você tomar no cú" - Falei e sinalizei vendo o sorriso largo tomar o rosto dela e os olhos brilharem. Minha amiga gargalhou e começou a imitar os sinais que Addison continuava a fazer lentamente.
 
°
 
Já haviam se passado 72 horas desde que misturei meu sangue diretamente ao de Lexie. Mamá havia falado no hospital que estava em casa, cuidado de Lexie e lhe dando o máximo conforto (pois todos acreditavam que ela havia tirado Lexie do hospital para morrer em casa) e trabalhava duramente nas amostras de sangue que havia tirado de Amélia, Addison e de mim.
 
— Mer? — Ouvir a voz baixa da minha irmã me fez correr diretamente a ela e  abraçá-la o mais apertado possível. — Você vai me matar sem ar. - Ela sussurrou, eu me afastei o suficiente para olhar o seu rosto que começava a voltar a coloração normal e dei um beijo demorado em sua testa.
 
— Onde está mamá? — Lexie perguntou tentando se sentar na cama e eu ajudei a se acomodar melhor.
 
— Eu vou chamá-la. Já volto. — Ajeitei seu cabelo atrás da orelha e segui para o laboratório improvisado que mamãe havia criado no quarto de visitas.
 
— Mierda. Mierda, tal vez si lo hago...
 
— Mamá? — O pequeno frasco caiu de sua mão e se espatifou no chão fazendo uma pequena sujeira com sangue.
 
Ela suspirou e me olhou, as olheiras estavam mais aparentes devido ao cansaço, mamãe se recusava a dormir enquanto não avançasse ao menos um pouco na pesquisa.
 
— O que foi? Você está se sentindo mal a Lexie... Ela? — Mamá perguntou preocupada com a voz chorosa e eu rapidamente neguei.
 
— Lexie acordou. — Falei vendo um sorriso nascer em seus lábios.
 
Mamãe passou correndo por mim e foi até o quarto se jogando em cima da minha irmã, passando a mão por toda sua cabeça e braços enquanto chorava fazendo Lexie me olhar sem entender nada.
 
— Somente o sangue funciona hija... — Ela balbuciou e eu assenti rapidamente me juntando ao abraço.
 
°
 
— Então qual é o plano? — Amélia perguntou e mamãe a olhou ainda andando de um lado para o outro.
 
— Eu preciso de mais sangue. — Ela murmurou e eu mordi meus lábios.
 
— E os médicos que estão no hospital? Eles poderiam fazer doações de sangue também.
 
— Primeiro eles precisariam ser examinados. Assim como eu fiquei doente sem desenvolver o vírus e não tenho mais a quantidade necessária de anticorpos, eles podem ter tido alguma doença e o sangue pode não ser mais útil para a base do antídoto.
 
— Caso você faça o exame no laboratório do hospital, levaria quanto tempo para que os resultados saíssem? — Perguntei e ela ajeitou o óculos no rosto.
 
— Em 27 horas acredito que já seja possível ter o resultado que eu preciso. — Ela falou e vi Amélia sorrir.
 
— O que estamos esperando então? — Amélia perguntou animada caminhando em direção a porta. — Vamos, nós temos muita coisa pra fazer.
 
— Lexie... Ela não pode ficar sozinha. — Mamá falou e eu olhei para Addison.
 
— Mamá, a senhora consegue lidar com isso junto com Amélia? Eu fico com Addison fazendo companhia e checando Lexie.
 
— Nós conseguimos lidar com isso hija. — Ela falou me dando um beijo na testa e se despediu de Lexie antes de sair com Amélia.
 
°
 
Após o preparo do café segui para um dos meu lugares favoritos, o banco que ficava próximo ao riacho.
 
Coloquei a xícara de café à minha frente e fechei os olhos sentindo a brisa bater contra meu rosto, o barulho que as folhas faziam quando eram tocadas pelo vento e do próprio riacho que corria a minha frente. Do outro lado, havia uma vasta floresta sem nenhuma casa à vista. A casa em que morávamos era dos pais de Addison, infelizmente sua família foi levada pelo vírus que havia acabado com quase metade da população a três anos atrás.
 
Quando eu parava para pensar em tudo o que nós passamos, as lágrimas rapidamente vinham. Perdermos muitas pessoas queridas; a família de Addison, papá, vários vizinhos, professores e amigos de faculdade incluindo Cristina que não havia sido curada a tempo. Perdemos vidas que poderiam ter sido salvas se não fosse pela ganância de pessoas que se diziam médicos e outras, que trabalhavam no governo.
 
Quando mamá voltou do hospital com Amélia, lembro dela falando de como as coisas foram difíceis. Todos queriam um pouco de sangue para aplicação e recuperação rápida, e se diziam capazes de retirar o próprio sangue de Amélia se preciso, mas com muita paciência e perseverança, mamá conseguiu contornar a situação explicando que também era possível ter a cura se pessoas não infectadas doassem sangue e essas pequenas doses fossem injetadas diretamente em pessoas doentes para que o sangue se misturas se, fazendo com que o organismo de uma pessoa com vírus fosse capaz de reagir produzindo os próprios anticorpos. Mas pra isso acontecer precisaria da colaboração de todos, pois em alguns casos o vírus demorava mais para se desenvolver, como havia sido no caso de Addison e tantos outros pacientes. Assim ela conseguiu fazer todos os exames necessários em todos os médicos que estavam no hospital e consequentemente algumas pessoas que chegavam aparentemente não infectadas procurando informações sobre os entes.
 
A notícia foi se espalhando, pessoas foram sendo curadas em nossa cidade e o auto índice de cura chamou atenção do governo que entrou em contato com os responsáveis pelo hospital. Mamá que havia se tornado a chefe temporária explicou toda a situação que acontecia principalmente no hospital em que Amélia, Addison e eu havíamos ficado presas.
 
Os governantes que participavam das vendas de bolsas de sangue foram presos com toda a junta médica do Northwestern Memorial Hospital que era dirigido pela doutora Hahn e da junta médica de outros tantos hospitais que faziam a compra das bolsas de sangue repassando somente para a classe mais alta, deixando a grande maioria morrer pela falta do antídoto.
 
Cidades pouco populosas sem pessoas saudáveis para ajudar na doação de sangue, solicitavam bolsas para outros hospitais e lhes eram enviados sem custo algum. Aos poucos tudo foi voltando ao normal. Todos tentavam se recuperar e superar as perdas de alguma forma, deixando cada vez para trás aqueles meses que foram sombrios.
 
Um barulho vindo detrás de mim chamou minha atenção.
 
"O que você está fazendo Addie?"
 
"Só... fique parada por mais alguns segundos, sim?" - Ela sinalizou rapidamente e voltou a atenção para a tela que estava em sua frente.
 
Eu suspirei e voltei a olhar para frente sorvendo um pouco do café quase frio, sentindo alguns raios do sol contra meu rosto. Alguns segundos mais tarde olhei de canto de olho e Addison sorria em minha direção.
 
"Posso ver o que você está aprontando?" - Sinalizei e ela sorriu com a língua entre os dentes assentindo.
 
Me levantei deixando a xícara no banco e andei alguns passos em sua direção. Os olhos dela se alternaram entre a tela a sua frente e meus olhos.
 
"Espera!" - Ela sinalizou me fazendo franzi a sobrancelha. "Você promete ser sincera quanto a isso?" - Addison perguntou apontando com o lápis para a tela que eu ainda não podia ver e eu assenti, vendo ela balançar as mãos para que continuasse a andar.
 
Assim que me virei ficando frente à frente, pude ver que na tela estava desenhado meu rosto em perfil. O desenho era simplesmente incrível!

The V - MeddisonOnde histórias criam vida. Descubra agora